Homem
Livre,
de Álvaro Furloni, é um filme sobre a busca do ex-presidiário (e ex-astro de rock) Hélio Lotte (Armando Babaioff) por
superação dos traumas do passado, sobretudo aquele relativo ao crime que
cometeu. No entanto, Furloni e o roteirista Pedro Perazzo, por algum motivo,
decidiram construir, a partir daí, um thriller
paranoico, que coloca esse personagem numa realidade de tensão crescente após
ser acolhido pelo pastor evangélico interpretado por Flávio Bauraqui. Soa como
leitura equivocada dos caminhos abertos pela história que os próprios Furloni e
Perazzo estão contando, com uma série de situações de suspense forçadas e personagens
que não têm razão de ser na narrativa (caso do empresário de atitude dúbia, que
logo passa a ser parte apenas do recorrente sonho do protagonista). Ou, talvez,
como mera vontade de fazer cinema de gênero. Tanto que, no fim das contas, o
roteiro não sabe para onde ir com os elementos de thriller utilizados até aquele momento, descartando-os e resolvendo
as questões de seu personagem central numa chave puramente dramática, por meio
de uma lógica de enfrentamento – que chega a ser verbalizada num sermão meio Deus Ex-Machina do pastor – dos demônios
íntimos e entendimento de si próprio.
Álvaro Furloni, 2017
Meu
Corpo é Político é
um belo documentário de Alice Riff que acompanha quatro personagens transexuais
em seus respectivos cotidianos: Mc Linn da Quebrada, cantora de funk e performer; Fernando, atendente de telemarketing; Giu, fotógrafa amadora; e Paula, diretora de uma
escola da rede estadual de educação de São Paulo. Trata-se de um filme bastante
combativo politicamente, que se aproxima dessas figuras, alvo de inúmeros
preconceitos na sociedade brasileira contemporânea, para, justamente, buscar atacá-los
frontalmente. Nesse sentido, o discurso de Meu Corpo é Político não traz
grandes novidades para quem de alguma forma compartilha de valores
progressistas (políticos e comportamentais) no Brasil de hoje, mas Riff consegue
imprimir força ao filme no tratamento honesto, carinhoso e empático que dá aos
protagonistas. Linn, Fernando, Giu e Paula são personagens fabulosos e seus
cotidianos, na tela, não só servem como rica matéria-prima para uma narrativa
cinematográfica bem estruturada como oferecem pequenos grandes momentos de
amor, humor e dor, recheados de ótimos diálogos. Dois deles, especificamente,
chamam bastante atenção: a sequência do aniversário de Fernando, comemorado com
um grupo de amigos num bar, e a cena em que Linn se monta na frente do espelho
enquanto conta detalhes de sua história pregressa.
Alice Riff, 2017
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