quarta-feira, 14 de junho de 2017

6º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba: Homem Livre e Meu Corpo é Político



Homem Livre, de Álvaro Furloni, é um filme sobre a busca do ex-presidiário (e ex-astro de rock) Hélio Lotte (Armando Babaioff) por superação dos traumas do passado, sobretudo aquele relativo ao crime que cometeu. No entanto, Furloni e o roteirista Pedro Perazzo, por algum motivo, decidiram construir, a partir daí, um thriller paranoico, que coloca esse personagem numa realidade de tensão crescente após ser acolhido pelo pastor evangélico interpretado por Flávio Bauraqui. Soa como leitura equivocada dos caminhos abertos pela história que os próprios Furloni e Perazzo estão contando, com uma série de situações de suspense forçadas e personagens que não têm razão de ser na narrativa (caso do empresário de atitude dúbia, que logo passa a ser parte apenas do recorrente sonho do protagonista). Ou, talvez, como mera vontade de fazer cinema de gênero. Tanto que, no fim das contas, o roteiro não sabe para onde ir com os elementos de thriller utilizados até aquele momento, descartando-os e resolvendo as questões de seu personagem central numa chave puramente dramática, por meio de uma lógica de enfrentamento – que chega a ser verbalizada num sermão meio Deus Ex-Machina do pastor – dos demônios íntimos e entendimento de si próprio.


Homem Livre 
Álvaro Furloni, 2017



Meu Corpo é Político é um belo documentário de Alice Riff que acompanha quatro personagens transexuais em seus respectivos cotidianos: Mc Linn da Quebrada, cantora de funk e performer; Fernando, atendente de telemarketing; Giu, fotógrafa amadora; e Paula, diretora de uma escola da rede estadual de educação de São Paulo. Trata-se de um filme bastante combativo politicamente, que se aproxima dessas figuras, alvo de inúmeros preconceitos na sociedade brasileira contemporânea, para, justamente, buscar atacá-los frontalmente. Nesse sentido, o discurso de Meu Corpo é Político não traz grandes novidades para quem de alguma forma compartilha de valores progressistas (políticos e comportamentais) no Brasil de hoje, mas Riff consegue imprimir força ao filme no tratamento honesto, carinhoso e empático que dá aos protagonistas. Linn, Fernando, Giu e Paula são personagens fabulosos e seus cotidianos, na tela, não só servem como rica matéria-prima para uma narrativa cinematográfica bem estruturada como oferecem pequenos grandes momentos de amor, humor e dor, recheados de ótimos diálogos. Dois deles, especificamente, chamam bastante atenção: a sequência do aniversário de Fernando, comemorado com um grupo de amigos num bar, e a cena em que Linn se monta na frente do espelho enquanto conta detalhes de sua história pregressa.

Meu Corpo é Político 
Alice Riff, 2017

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