quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Selo & No cinema: Um Homem Bom

[um homem bom]

Um Homem Bom
Good, 2008
Vicente Amorim

Não deixa de ser motivo de orgulho ver mais um diretor brasileiro, para além dos sempre (merecidademente) badalados Fernando Meirelles e Walter Salles, estreando no cinema internacional com um filme de respeito e de qualidade. E Vicente Amorim, de O Caminho das Nuvens, realiza um bom trabalho nesse Um Homem Bom. Não é um filme excelente, não traz grandes novidades à temática nazismo, mas é um pequeno filme feito com talento e com exatidão: é curto e objetivo, bem interpretado (Viggo Mortensen está muito bem, bastante à vontade em um personagem demasiadamente humano e frágil, de certa forma inusitado para o ator) e com alguns momentos de verdadeira beleza (a sequência final, por exemplo, é um primor, assim como a cena em que o protagonista veste pela primeira vez o uniforme da SS, ajudado por sua esposa).
É interessante notar, aliás, a escolha de Amorim para dirigir tal filme. De completamente inusitada, ela acaba se revelando um acerto em alguns sentidos, ainda que o brasileiro não promova grandes rupturas com o modo tradicional de abordar tal tema. Na verdade, o diretor exibe um olhar que faz de Um Homem Bom um filme muito semelhante a exemplares do cinema alemão contemporâneo, como A Vida dos Outros, por exemplo (ainda que não chegue a qualidade deste), o que torna sua abordagem corretamente sóbria, seca em muitos momentos, e distante de maniqueísmos comuns em filmes norte-americanos sobre o tema.
Por outro lado, seguindo essa linha de raciocínio, faria mais sentido a escolha de um cineasta alemão para o cargo, que, já que não estamos tratando aqui de um diretor brasileiro dos mais ousados, capaz de trazer novos ares aos filmes sobre o nazismo (imagino que, Fernando Meirelles, por exemplo, poderia sim inovar em alguns aspectos em uma obra como essa), com certeza iria mais longe em algumas opções dramáticas do filme, capazes de torná-lo mais contundente do que é de fato. Há determinados pontos da narrativa de Um Homem Bom que, se aprofundados, poderiam torná-lo uma pequena obra-prima (como, por exemplo, as consequências das teses do personagem de Mortensen para os doentes mentais da Alemanha nazista, rapidamente mostrados em uma pequena cena, ou mesmo sua ligação com o extermínio de judeus, já que mesmo a última cena, em um campo de concentração, não faz um link explícito entre os escritos de John Halder sobre a eutanásia e os crimes nazistas). Do jeito que está, é, com o perdão do trocadilho, somente um filme bom.


O Diego Rodrigues, do blog Cinemania, indicou o Crônicas Cinéfilas com o selo "Olha que blog maneiro". Valeu, Diego! Essas são as regras:

1. Exiba a imagem do selo "Olha que blog maneiro!" que você acabou de ganhar.
2. Poste o link do blog que te indicou (muito importante).
3. Indique 10 blogs de sua preferência.
4. Avise seus indicados (não esquecer).
5. Publique as regras.
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.
7. Envie a sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com juntamente com o link dos 10 blogs indicados para verificação. Caso os blogs tenham repassado o selo e as regras corretamente, dentro de alguns dias você receberá uma caricatura em P&B.

Aqui, os blogs que eu indico:

Moviola Digital

Filmes do Chico

Baú de Filmes

Cenas de Cinema

Anfitrião

Cine no pretensions

Cine Ôba

Cinefilia

Fina Ironia

Amor Louco

domingo, 25 de janeiro de 2009

No cinema: Austrália

[austrália]

Austrália
Australia, 2008
Baz Luhrmann


Baz Luhrmann sempre foi pretensioso e exagerado. No entanto, mesmo tendo conhecimento disso, Austrália ainda assusta por seu tamanho e intenções. Na verdade, em boa parte de sua narrativa, o filme funciona muito bem: é profundamente clichê sim, tem personagens estereotipados também, e conta uma história já vista e revista inúmeras vezes, porém, como já havia ficado claro em seus três filmes anteriores, Luhrmann tem um imenso tato para trabalhar com esses lugares-comuns, transformando-os em aceitáveis e mesmo adoráveis (como em Moulin Rouge, e na maior parte de Austrália).
A questão é que, na maior parte do tempo, o filme é uma grande, bela e divertida homenagem de Luhrmann a grandes clássicos de Hollywood, tanto nas referências mais óbvias que possui (O Mágico de Oz, Era Uma Vez no Oeste) quanto no estilo grandioso adotado, que lembra muito, especialmente, ... E o Vento Levou. O diretor trafega com elegância por esses grandes clássicos do cinema, criando cenas verdadeiramente impressionantes, demonstra um imenso bom humor em diversos momentos, e consegue transformar o casal vivido por Hugh Jackman e Nicole Kidman (ambos muito bem em cena) em personagens apaixonantes, por mais clichês que eles sejam. Mesmo que algumas escolhas de Luhrmann soem irritantes, especialmente o personagem aborígene Rei George e as chatíssimas canções cantadas pelo menino Nullah, quase tudo funciona à perfeição no filme, até a chegada do que seria seu "primeiro final", quando a missão de levar os gados ao litoral australiano finalmente se cumpre (numa grandiosa e empolgante sequência). Até aqui, sentimo-nos diante de um velho épico romântico hollywoodiano, torcendo pelo amor do carismático e apaixonado casal de protagonistas (que, como manda a regra, não se entendem no início, mas acabam percebendo-se feitos um para o outro) e contra a dupla de vilões malvados, vidos por David Wenham e Bryan Brown, e nos encantando com a coragem do grupo de heróis que aceita uma missão tida como quase impossível, ao mesmo tempo que admiramos a força e beleza de uma cultura perseguida, mas ainda resistindo.
Mas aí Luhrmann e seus roteiristas introduzem na trama a Segunda Guerra Mundial, e Austrália desanda. Tudo o que, até ali, funcionava maravilhosamente bem como uma homenagem a uma forma de fazer cinema que parece ter se perdido no tempo, passa a ser um filme "sério", um drama de guerra com grandes pretensões. Todo o bom humor vai embora, a narrativa se prolonga mais do que deveria, os clichês se tornam irritantes e o constrangimento pelo que se vê na tela toma conta. A emoção genuína que se era possível sentir com a história de amor dos personagens de Jackman e Kidman é substituída por encontros e desencontros do casal que soam extremamente forçados, culminando numa previsível reunião à beira de uma última ameaça, encarnada por um já exageradamente caricatural Wenham. E aí, a única saída é lamentar que o filme não tenha acabado bem antes, e lamentar, principalmente, que, depois de 7 anos de espera por um novo filme de Baz Luhrmann, o resultado tenha ficado tão aquém do esperado, ainda que, por muitos momentos, estivesse perto de alcançar o satisfatório. Pretensão, nas mãos corretas, pode fazer bem, como o próprio Luhrmann já demonstrou. Mas é preciso saber dosá-la.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Um Novo Olhar: Entre Quatro Paredes

[entre quatro paredes]

Entre Quatro Paredes
In the Bedroom, 2001
Todd Field


Existem filmes que, decididamente, possuem um momento certo a serem assistidos. Na primeira vez que assisti Entre Quatro Paredes, pouco depois do Oscar 2002 (onde concorreu em 5 categorias, incluindo melhor filme), me lembro de não ter conseguido enxergar ali nada mais do que um dramalhão chato, interminável e entediante. A única coisa que, naquela época, me chamou a atenção foi o desempenho de Tom Wilkinson. Dessa forma, simplesmente não conseguia compreender o porquê de tantas lembranças na principal premiação do cinema, e ficara feliz por, ao menos, o filme de Todd Field ter saído da cerimônia de mãos vazias.
Pois bem. É impressionante como, revendo-o tanto tempo depois, Entre Quatro Paredes se revela um outro filme. Na verdade, na primeira hora do longa, cheguei a ter a impressão de que desgostaria novamente do que estava vendo: até a tragédia que se abate sobre os personagens principais, Entre Quatro Paredes é um filme apenas bom, aparentemente sem grande densidade dramática e até mesmo esquemático. Chega a ser irritante, por exemplo, a forma como o personagem de William Mapother é retratada, beirando o caricatural. No entanto, a partir da virada na trama, tudo muda. É a partir daqui que o filme revela ter sim, e muita, densidade dramática, e que seu elenco mostra o quão brilhante é. Sobre Sissy Spacek e Tom Wilkinson, fica difícil dizer quem está melhor. Matt e Ruth Fowler manifestam a dor de sua perda de formas diferentes, e o casal Wilkinson/Spacek compreende isso muito bem: enquanto a personagem da atriz é um poço de rancor e mágoa, prestes a explodir (e que, quando explode, gera uma das cenas mais fortes do filme), o de Wilkinson comove com suas tentativas de seguir em frente com sua vida, até perceber a impossibilidade de realizar tal coisa. Nesse sentido, há pequenos momentos em que o ator exprime a genialidade de seu trabalho, como na cena em que tem uma discussão com sua esposa interrompida por uma jovem vendendo chocolates ou no carteado com um grupo de amigos.
E é o personagem de Wilkinson que protagoniza o controverso epílogo de Entre Quatro Paredes, que, por mais deslocado da história que assistimos até ali, acaba se revelando totalmente coerente com a proposta de Field. Afinal de contas, a cena mostra uma ação inesperada por parte do protagonista, portanto, nada mais acertado que ela se revele deslocada do resto da trama. Além disso, tal epílogo, que deveria ser catártico, acaba sendo ainda mais genial por humanizar o personagem de Mapother, o que acaba dando ao ato de Wilkinson um sentido dúbio, bastante apropriado com o que está sendo mostrado.
Essa sensação de dubiedade, aliás, perpassa Entre Quatro Paredes, e se revela fundamental para a construção da complexidade de sua trama. Há coisas na vida, que simplesmente não conseguimos definir como certas ou erradas, e Todd Field compreende isso maravilhosamente. No fim das contas, cheguei a conclusão de que o filme merecia sim ser premiado no Oscar, talvez até como melhor filme, já que é superior ao vencedor daquele ano, Uma Mente Brilhante (ainda que, dentre todos os indicados, o melhor ainda seja A Sociedade do Anel). Às vezes o tempo faz mesmo um enorme bem.

em Série ...

[família soprano - primeira temporada]


Nesse espaço, pretendo comentar algumas temporadas de série que venho assistindo. Como nunca fui muito fã desse tipo de programa, ainda estou dando meus primeiros passos nesse universo, por isso, é bem provável que esse seja um espaço atualizado com frequencia bem menor. Começo por aquela série que sempre tive vontade de assistir, e finalmente encarei sua primeira temporada.


Família Soprano - 1ª Temporada
The Sopranos - The First Season, 1999
David Chase


O que mais impressiona em Família Soprano é sua capacidade de trazer um novo ar às histórias da máfia, já exploradas à exaustão pelo cinema (e já tendo rendendo algumas obras-primas, como O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros e Era Uma Vez na América). David Chase radicaliza aqui o olhar íntimo na vida dos mafiosos, que muitos desses filmes havia apresentado, retirando de forma completa o glamour de tais personagens, ao mesmo tempo que escapa totalmente de qualquer estereótipo: Tony Soprano, o protagonista da série, é um sujeito bruto e violento sim, como pediria sua "profissão", mas ele é também um pai de família preocupado com o rendimento de seus filhos na escola, que leva sua filha mais velha às universidades onde pode vir a estudar, que sofre com a teimosia de sua mãe em aceitar ser colocada em uma casa de repouso e que, o que talvez seja o mais importante na trama, vivendo sob toda essa imensa pressão, sofre colapsos que o levam a fazer terapia. Sinceramente, é difícil imaginar Vito ou Michael Corleone vivendo muitas dessas situações.
Essa primeira temporada tem o mérito de equilibrar todos os dramas de Tony, tanto os que envolve sua família sanguínea, quanto aqueles que dizem respeito à sua "outra família", com perfeição, utilizando como fio condutor as sessões do protagonista com a Dra. Melfi, que acaba se revelando uma personagem mais importante do que se poderia imaginar num primeiro momento. Também impressiona nesse início da saga dos Sopranos o desempenho do elenco da série. James Gandolfini é um show à parte, criando um personagem ao mesmo tempo ameaçador e profundamente carismático, amigável. É um trabalho primoroso, mas não é o único a merecer destaque: Edie Falco, Michael Imperioli (no personagem mais divertido da série, que também encanta por sua humanidade) e Dominic Chianese também têm momentos memoráveis em cena, mas quem realmente toma a série de assalto é a veterana atriz Nancy Marchand, no papel da mãe de Tony. Iniciando a temporada como uma personagem extremamente irritante, que aparentemente servirá apenas como uma espécie de alívio cômico (chegamos a torcer para que ela saia logo de cena), aos poucos Livia Soprano vai revelando sua verdadeira face, tornando-se talvez a mais importante figura dessa temporada e, podemos assim dizer, a verdadeira "vilã" da trama. No elenco, a única que fica um pouco aquém das expectativas é Lorraine Bracco (que esteve genial em Os Bons Companheiros), no papel da Dra. Jennifer Melfi, que parece um tanto deslocada em muitos momentos.
Como é uma temporada curta (13 episódios) não há muito espaço para enrolação, ainda que alguns episódios sejam visivelmente mais fracos e alguns acontecimentos desnecessários. Geralmente a série cresce quando tem na direção Allen Coulter, que dirige aquele que talvez seja o melhor episódio dessa primeira temporada, "College". Além de contar com um ótimo episódio piloto ("The Sopranos"), comandado por Chase, Família Soprano também cresce assustadoramente em seus três últimos episódios (especialmente no último, "I Dream of Jeannie Cusamano"). Ali fica claro que, apesar do efeito de novidade trazido pela série (se Mario Puzo e Francis Ford Coppola haviam transformado a máfia em apenas mais um negócio, Chase fez do mafiosos apenas seres humanos), ainda estamos diante de uma clássica história da máfia (com disputas pelo poder, intrigas, traições e mortes). E das melhores.

sábado, 17 de janeiro de 2009

No cinema: O Curioso Caso de Benjamin Button

[o curioso caso de benjamin button]

O Curioso Caso de Benjamin Button
The Curious Case of Benjamin Button, 2008
David Fincher


Se o esplêndido Zodíaco já promovera uma certa ruptura no cinema de David Fincher, adotando uma estrutura mais clássica, uma estética mais tradicional e uma câmera mais discreta, O Curioso Caso de Benjamin Button leva essa mudança ainda mais longe: é um grandioso épico dramático, com tom intimista, é verdade, mas que possui um formato bastante tradicional, apesar de contar uma história inusitada. Isso traz conseqüências boas e ruins. Por um lado, Benjamin Button é indiscutivelmente um belo filme, dramaticamente envolvente, com um elenco impecável (Brad Pitt, como era de se esperar, está excelente, e bastante convincente, no papel do sujeito que nasce velho e rejuvenesce com o passar do tempo, cativante desde seus primeiros momentos em cena) e que funciona naqueles que talvez sejam seus dois principais objetivos: cria um protagonista altamente empático, e, o que é importante, verossímil e extremamente humano (mesmo em sua excepcionalidade), e consegue tornar verdadeira e emocionante a história de amor desse protagonista com a personagem vivida por Cate Blanchett (também muito bem em cena, ainda que sua Daisy não seja uma figura tão memorável quanto outras vividas pela atriz), ainda que demore um pouco para isso, o que acaba sendo fundamental para que a trama funcione.
Por outro lado, há problemas. Primeiramente, o texto de Eric Roth foge bastante do conto de F. Scott Fitzgerald que o inspirou, aproximando-se em demasia de outro roteiro seu, Forrest Gump. Isso não teria de ser necessariamente ruim, no entanto, o filme acaba ganhando uma magnitude excessiva, que o conto não possuía. A simplicidade direta e objetiva do texto de Fitzgerald se perde, sendo transformada, como já dito, em uma história épica. A adaptação possui inúmeros acertos, é verdade, como a maior parte dos personagens que Roth cria, e que não estavam no original, mas falta essa simplicidade de Fitzgerald que, nas mãos de Fincher, deveria gerar uma obra-prima. Além disso, a opção por contar a história em flashbacks, a partir da personagem de Blanchett e sua filha, soa excessivamente clichê e esquemática, só funcionando realmente em alguns poucos momentos, especialmente conforme Benjamin Button se aproxima de seu epílogo, ao mesmo tempo que, em determinado trecho do filme, a narrativa se torna truncada (mais ou menos entre o retorno de Benjamin da guerra e o acidente de Daisy), mesmo enfadonha.
Se recuperando quando finalmente volta seu foco para os momentos em que Benjamin e Daisy vivem juntos (finalmente tornando o amor do casal palpável), O Curioso Caso de Benjamin Button caminha até seu final elegantemente, lembrando-nos de que estamos diante de um filme de David Fincher e de uma história de amor belíssima, contada com enorme sensibilidade. Quando chega ao fim, a reflexão proposta pelo trio Fitzgerald-Roth-Fincher acerca da inevitabilidade da morte e a forma como lidamos com ela se impõe sobre os deslizes cometidos no caminho, e o filme toca fundo no espectador (exatamente como fazia, há quase 15 anos, o já citado Forrest Gump). A beleza dos últimos momentos de O Curioso Caso de Benjamin Button consegue mesmo nos fazer esquecer que David Fincher é capaz de muito mais, e nos lembrar que, mesmo assim, estamos diante de um filme que, mesmo que demore um pouco para isso, se revela verdadeiramente grande, e não somente grandioso. Ainda que não tanto quanto poderia ser.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Alguns filmes - Dezembro

[alguns filmes - dezembro]


Rede de Intrigas
Network, 1976
Sidney Lumet


A Múmia: Tumba do Imperador Dragão
The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor, 2008
Rob Cohen


Arquivo X - Eu Quero Acreditar
The X Files - I Want to Believe, 2008
Chris Carter


Cinturão Vermelho
Redbelt, 2008
David Mamet


Casa de Areia e Névoa
House of Sand and Fog, 2003
Vadim Perelman


Estômago
Estômago, 2007
Marcos Jorge


Um Crime Americano
An American Crime, 2007
Tommy O'Harver


Trovão Tropical
Tropic Thunder, 2008
Ben Stiller


Mamma Mia! - O Filme
Mamma Mia!, 2008
Phyllida Lloyd


O Procurado
Wanted, 2008
Timur Bekmambetov


Kate & Leopold
Kate & Leopold, 2001
James Mangold


Violência Gratuita
Funny Games U.S., 2008
Michael Haneke


A Espiã
Zwartboek, 2006
Paul Verhoeven


O Escafandro e a Borboleta
Le Scaphandre et le Papillon, 2007
Julian Schnabel


Uma das maiores obras do mestre Sidney Lumet, Rede de Intrigas é um filme primoroso, porque inusitado e imprevisível. É um retrato tragicômico dos bastidores da TV, onde tudo é um tanto exagerado, mas onde tudo soa estranhamente real. Na realidade, ainda que conte com uma história envolvente, e que aborda com acidez o universo retratado, Rede de Intrigas é um filme completamente alicerçado em seu elenco. Além do excepcional elenco de coadjuvantes, que conta com desempenhos inspirados de Robert Duvall (perfeito no retrato de um sujeito que a materialização da ganância), Ned Beatty e Beatrice Straight (em uma pequena, mas forte participação), há, obviamente, o fabuloso trio de protagonistas: Peter Finch (que levou o Oscar de melhor ator postumamente por esse seu trabalho), William Holden e Faye Dunaway (vencedora do prêmio de melhor atriz). É difícil escolher o melhor em cena. Talvez Dunaway e Holden tenham trabalhos dramaticamente mais elaborados, especialmente ela, que encanta com uma figura que esbanja poder e ganância em sua profissão, mas é amorosamente frustrada. Mas é Finch quem mais impressiona. Provavelmente pelo inusitado de seu personagem, que cativa profundamente, primeiramente por sua coragem inicial, posteriormente pelo misto de estranhamento e tragédia que acaba por incorporar com seu show, o ator é o dono do filme. Howard Beale é daqueles personagens inesquecíveis que o cinema consegue criar de vez em quando, e que encantam por sua humanidade. É ele quem eleva Rede de Intrigas a um patamar ainda mais alto, e que revela o poder e contundência da crítica feita por Lumet e pelo roteiro de Paddy Chayefsky. É ele, no fim das contas, quem garante ao filme seu lugar entre os grandes clássicos do cinema norte-americano.
Existem filmes que simplesmente não deveriam ser feitos, e outros que deveriam, mas que, da forma como tornaram realidade, seria melhor se também não fossem realizados. Entre os primeiros se enquadra A Múmia: Tumba do Imperador Dragão, desnecessário terceiro capítulo da série iniciada em 1999, com o divertido A Múmia, e que deveria ter se encerrado ali. Sem o diretor dos dois primeiros capítulos, o ruim Stephen Sommers, esse novo filme tem em seu lugar o péssimo Rob Cohen, o que não ajuda muito. Também não ajuda a troca de atrizes no papel da protagonista Evelyn O'Connell: sai a sempre ótima Rachel Weisz, entra a geralmente, mas não aqui, boa atriz Maria Bello. Tem-se ainda um Brendan Fraser no piloto automático e um Jet Li com muito pouco a fazer em cena, além de John Hannah novamente como alívio cômico. Mais enfadonho, impossível. Nem as cenas de ação e os efeitos especiais salvam o filme do desastre. Talvez tenha faltado o bom e velho Imhotep. Já entre os segundos, se enquadra Arquivo X - Eu Quero Acreditar. Além do inegável fascínio que a série de Chris Carter ainda gera, Arquivo X - O Filme, de 1998, era um bom filme. Então, o que deu errado, ainda mais se levarmos em conta que o diretor desse aqui é o próprio Carter, criador da série? Difícil dizer. Mas a verdade é que esse novo filme é uma grande bobagem: conta com uma trama simples e boba, com personagens rasos, muito mal desenvolvidos (o que faz com que David Duchovny e Gillian Anderson não possam fazer muita coisa por Mulder e Scully) e com um mistério que, se conduzido de uma maneira mais cuidadosa, poderia gerar bons resultados, mesmo com a bizarrice de sua premissa, mas que aqui é simplesmente resolvido num confronto físico, que ainda por cima é extremamente sem graça. Uma pena, realmente.
É bastante inusitado ver um roteirista e dramaturgo respeitado como David Mamet fazendo um filme sobre jiu-jitsu, uma temática que, normalmente, ficaria relegada a filmes de ação B. E mais inusitado ainda acaba sendo o fato de esse filme ser simplesmente ótimo. Na verdade, a força de Cinturão Vermelho está em seus personagens, e na forma como Mamet conduz seus dramas. Mais especificamente, o drama do protagonista, vivido com brilhantismo pelo ótimo, e ainda pouco reconhecido, Chiwetel Ejiofor. É o ator quem consegue tornar crível um personagem que facilmente se transformaria em caricatura (o professor honrado, cheio de moral e contrário à competições, apegado à verdadeira essência do esporte que ensina), o que acaba por tornar seu grande dilema palatável e compreensível para o espectador. É bem verdade que o filme trabalha com clichês em demasia, o que acaba por torná-lo excessivamente previsível em seus momentos finais, culminando numa última cena que, apesar de bastante justa com o protagonista, acaba soando um pouco forçada (ainda que seu desenrolar seja, inegavelmente, empolgante). Com um pouco mais de cuidado, Mamet conseguiria algo verdadeiramente inusitado: fazer de Cinturão Vermelho uma obra-prima. Do jeito que está, é uma agradável surpresa (até por trazer também um inesperado bom desempenho de Tim Allen).
Casa de Areia e Névoa é um ótimo filme, um drama poderoso. No entanto, de alguma forma, ser só isso é seu maior pecado. Com a história e com o elenco que possui, era para ser uma obra-prima. No entanto, o diretor Vadim Perelman conduz tudo excessivamente de acordo com o esperado, não permitindo grandes surpresas ao espectador. Até a tragicidade da história se torna previsível. No fim das contas, quem toma conta do filme é Ben Kingsley. Construindo um personagem ao mesmo tempo bruto e terno, orgulhoso e extremamente humano e sonhador, o ator inglês ofusca todos ao seu redor, inclusive a geralmente ótima Jennifer Connely, que acaba prejudicada por ter em suas mãos uma personagem que não faz muita coisa além de chorar por todo o filme. É Kingsley quem mantém a dignidade de Casa de Areia e Névoa mesmo quando a trama descamba para um conflito mal desenvolvido envolvendo seu personagem, seu filho e o policial amante da personagem de Connely, e é ele também quem garante, logo depois, o momento de maior emoção do filme, em seu trágico epílogo. É um grande ator em um grande papel em um filme apenas bom.
É preciso que se diga: Estômago é uma pequena jóia do cinema nacional recente. O diretor Marcos Jorge, em sua estréia em longa-metragens, conseguiu algo que muitos filmes brasileiros vêm tentando há algum tempo, mas que nenhum até agora havia alcançado totalmente: o equilíbrio perfeito entre um cinema erudito, sofisticado e com conteúdo, e um cinema de caráter popular, que trabalhe com naturalidade e sem estereótipos com elementos da cultura popular. O filme não é perfeito, tem alguns pequenos escorregões, mas é, como um todo, admirável. Em diversos momentos, tive a impressão de estar assistindo a uma espécie de herdeiro do cinema de Joaquim Pedro de Andrade, e, mais especificamente, de Macunaíma. E, para quem conhece minha admiração por esse cineasta e por seu mais conhecido filme, sabe que esse é um elogio considerável. É curioso como, quase 40 anos após o lançamento de Macunaíma, o cinema brasileiro reencontra a fórmula perfeita entre o cinema popular e o chamado cinema de arte justamente retomando a temática da antropofagia, tão cara a Joaquim Pedro. O que temos aqui, definitivamente, não é uma coincidência: é um belo tema para estudo mais aprofundado. Por fim, é impossível escrever sobre Estômago sem citar a presença magnética de João Miguel. Ainda que a excelente Fabiula Nascimento também mereça destaque por sua atuação, é de Miguel a responsabilidade de tornar a história de Estômago palatável e envolvente, e de tornar seu Raimundo Nonato um personagem identificável, sem se tornar uma mera caricatura do migrande nordestino. E o ator cumpre essa missão com não menos que brilhatismo.
O maior pecado de Um Crime Americano é sua falta de ambição. Conta uma história contundente, marcante e polêmica, que poderia render um pequeno clássico. Possui desempenhos inspirados de suas duas protagonistas, a jovem, e cada vez melhor, Ellen Page, e uma estupenda Catherine Keener, que consegue a proeza de humanizar uma personagem responsável por um crime inimaginável. No entanto, o diretor Tommy O'Harver filma tudo com excessiva simplicidade e descuido, fazendo de Um Crime Americano algo próximo de um filme feito para a TV. Com isso, nem os poucos momentos mais inspirados de sua direção, como a seqüência de uma possível fuga da personagem de Page, conseguem salvar o filme. E, no fim das contas, todos os questionamentos que tal história nos leva a fazer, acabam soando menos importantes do que realmente são, o que acaba sendo um pecado imperdoável. Em suma, é um filme menor do que deveria ser.
Não sou lá um grande fã de Ben Stiller, mas devo reconhecer que, como diretor, ele demonstra algum talento, que, como ator, ainda não veio à tona. E essa é uma constatação que se pode fazer assistindo a Trovão Tropical. Enquanto protagonista, Stiller, mesmo contando com um personagem naturalmente engraçado, consegue, no máximo, ser uma presença absurdamente irritante por todo o filme. Já como diretor, ele entrega uma das mais bem sacadas sátiras à Hollywood já feitas. É bem verdade que Trovão Tropical perde um pouco o fôlego em alguns momentos, especialmente em seu epílogo, onde acaba se transformando simplesmente em um besteirol de ação, mas aí o estrago já havia sido feito: contando com um Robert Downey Jr. simplesmente genial em cena, e com uma participação inesperada, e hilária, de Tom Cruise, Stiller destrói, sem nenhum perdão os egos inflados de atores e produtores de cinema, em uma sucessão absurda de piadas ácidas sobre os bastidores de Hollywood. E faz um filme que, por mais irregular que seja, merece inúmeros aplausos nem que seja por sua imensa coragem e por sua total falta de correção política.
Filmes ruins existem aos montes, lançados todos os anos nos cinemas. No entanto, poucos filmes conseguem ser tão ruins quanto Mamma Mia! - O Filme. E o que mais impressiona é que a diretora Phyllida Lloyd tinha tudo para entregar um musical simpático, divertido, gostoso de se assistir. Ela tinha nas mãos as melosas, mas adoráveis, canções do ABBA, e tinha, principalmente, Meryl Streep. Por isso é tão assustador que Mamma Mia! seja essa grande bomba que é. Na verdade, o filme é simplesmente uma aberração, uma sucessão inacreditável de cenas constrangedoras e de números musicais ridículos, protagonizados por uma série de bons atores (Pierce Brosnan, Colin Firth, Stellan Skarsgard, Julie Walters) naqueles que são os piores desempenhos de suas carreiras. E, bem, há Meryl Streep. Que ninguém duvida de seu talento, isso é fato. Mas, talvez pela primeira vez, nem a presença de Streep merece ser elogiada nesse filme. A grande atriz também entra na onda do ridículo, e entrega a sua pior atuação. No fim das contas, Mamma Mia! é somente um coisa: lamentável.
Até um certo ponto, todos os exageros e extravagâncias de O Procurado mantêm o filme em um nível aceitável: basta desprender-se da realidade e se divertir com as acrobacias e cenas de ação impossíveis dos personagens. No entanto, chega um momento em que tudo aquilo se torna absolutamente irritante, insuportável e enfadonho, e o filme descamba para justamente aquilo que se poderia esperar dessa estréia do diretor russo Timur Bekmambetov no cinema norte-americano: ele se torna um filme ruim. E aí nem o ótimo elenco, que conta com o sempre bom James McAvoy, Angelina Jolie e Morgan Freeman (no piloto automático, como de costume recentemente) pode fazer muita coisa por O Procurado, nem que seja para torná-lo ao menos um filme de ação decente.
Kate & Leopold é uma comédia romântica até simpática, mas excessivamente comum e previsível, e que se apoia quase que totalmente na ótima presença de Hugh Jackman. Aqui ainda no início de sua fama, o ator encarna com perfeição o papel do nobre deslocado no tempo, ofuscando completamente sua companheira de cena e par romântico Meg Ryan. Demasiadamente adocicado e com um final que, por mais previsível que fosse, poderia gerar mais emoção do que gera, Kate & Leopold é um filme inofensivo, mas que acaba sendo uma decepção, vindo do geralmente bom James Mangold.
Vendo esse novo Violência Gratuita, e conhecendo as motivações de Michael Haneke ao fazê-lo (ampliar o público da história contada por ele no longa original, alcançando agora os principais consumidores do tipo de cinema que ele tanto busca criticar, os norte-americanos), é impossível não se perguntar: havia realmente essa necessidade de refilmar um filme que já era perfeito? Na verdade, o que surpreende é que, mesmo sendo uma refilmagem quadro-a-quadro, o que faz com que não traga nada de novo para quem já tenha assistido à versão original, Violência Gratuita traz uma surpresa agradável, e talvez até inesperada, para os admiradores do trabalho de Haneke: dez anos depois, com atores diferentes e falada em inglês, tal história continua guardando uma força absurda, e um enorme poder de provocar e causar impacto, mesmo em quem já a conhece. Por isso, o novo Violência Gratuita, mesmo que não consiga alcançar o objetivo principal de seu diretor (já que não foi exatamente um grande sucesso de bilheteria nos EUA), serve para confirmar ao menos uma coisa: sua genialidade.
Mesmo quando faz um filme realmente sério e de formato clássico, Paul Verhoeven consegue ser grande. É o caso desse A Espiã. Ao mesmo tempo que empolga com sua trama de espionagem em tempos de guerra, o longa exala sensualidade e ousadia, especialmente por contar com uma protagonista impecável: Carice Van Houten. Com seu olhar ao mesmo tempo terno e misterioso, a atriz constrói uma figura apaixonante, uma verdadeira heroína que remonta a grandes clássicos do cinema; seu sofrimento e suas desventuras são vividos com angústia pelo espectador, graças ao talento da dupla Verhoeven/Van Houten. Contendo algumas cenas primorosas (como a humilhação às colaboracionistas e, principalmente, a fuga pós-injeção em meio à multidão) e com um final profundamente reflexivo e triste, ainda que sutil, A Espiã é mais um grande filme do subestimado Verhoeven a ser descoberto.
Confesso que, a princípio, por mais elogiado e premiado que seja, O Escafandro e a Borboleta não despertava grande interesse de minha parte, afinal de contas, não seria esse mais um filme sobre alguém que supera uma situação inimaginável, de terrível sofrimento (como de costume, alguma doença, no caso, o resultado de um derrame cerebral) e deixa para as pessoas "normais" uma mensagem positiva sobre a vida? No entanto, após assistir ao filme, assustou-me o quanto estava sendo injusto com esse trabalho de Julian Schnabel. Primeiramente, porque, no que concerne ao aspecto dramático, O Escafandro e a Borboleta é brilhante: faz de uma história que poderia facilmente se tornar piegas um drama poderoso, doloroso e absurdamente humano. Schnabel faz poesia com imagens e conta com um protagonista que merece todos os prêmios e elogios do mundo. No papel do editor da revista "Elle" Jean-Dominique Bauby, Mathieu Amalric impressiona, especialmente por sua capacidade de expressividade na condição em que se encontra o personagem que interpreta (só movendo um dos olhos). É bem verdade que Amalric está cercado de grandes coadjuvantes, todos esplêndidos (com destaque para Marie-Josée Croze, Max Von Sydow e Emmanuelle Seigner), mas o ator é o dono do filme, sua presença se impõe a todo momento e sua composição é algo para entrar para a história do cinema. Em seguida, há o aspecto estético, e talvez seja aqui que o filme impressione mais. Schnabel radicaliza no uso da câmera subjetiva, privando espectador, por boa parte de sua narrativa, de qualquer visão que não aquela do protagonista. Ou seja, em boa parte de O Escafandro e a Borboleta, apenas vemos o que o olho esquerdo de Bauby vê, o que acaba gerando alguns momentos de imensa genialidade e poesia, como quando o protagonista chora (ao mesmo tempo que possui grande importância na relação deste com os outros personagens do longa, uma vez que, conjugada a narração em off de Amalric, essa opção estética de Schanbel e do diretor de fotografia Janusz Kaminski define perfeitamente o turbilhão de emoções pelo qual passa o personagem). Transbordando em emoção sem ser meloso ou apelativo, o filme de Schnabel (que lembra, em muitos aspectos, o também maravilhoso Mar Adentro, ainda que, em boa medida, seus protagonistas sejam opostos) conseguiu, com todo seu arrojo estético e força dramática, devolver minha fé nos "filmes de doença", ao mesmo tempo que se coloca naturalmente como uma das melhores experiências cinematográficas que vivi recentemente.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Globo de Ouro 2009

[globo de ouro 2009 - avaliação]



Após a cerimônia do Globo de Ouro, na noite de ontem, Slumdog Millionaire se consolidou de vez como o grande favorito ao Oscar 2009. Como disse no último post, há um bom tempo o vencedor do prêmio da imprensa estrangeira de Hollywood não leva o prêmio da Academia, mas o filme de Danny Boyle parece ser uma unanimidade esse ano. Sem contar que seu possível principal concorrente, O Curioso Caso de Benjamin Button, saiu de mãos vazias da festa de ontem.
De resto, foi ótimo ver as vitórias de Heath Ledger (esperemos que o Oscar não queira fazer uma surpresa sem graça nessa categoria) e Mickey Rourke (aqui há um páreo duro com Sean Penn), enquanto as surpresas ficaram por conta da dupla premiação de Kate Winslet (fica difícil agora prever em qual das categorias ela chega mais forte no Oscar) e da vitória, merecida, de Colin Farrell, ao menos uma forma de reconhecimento ao pequeno grande filme que é Na Mira do Chefe.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Globo de Ouro 2009

[globo de ouro 2009 - previsões]

Amanhã acontece a cerimônia de premiação do Globo de Ouro 2009. Bem, a seleção de filmes esse ano teve algumas surpresas, especialmente algumas ausências inesperadas, de obras que têm boas chances de indicação ao Oscar (Milk, O Cavaleiro das Trevas), o que só acabou por fortalecer o favoritismo daqueles que parecem ser mesmo os dois grandes competidores do ano: O Curioso Caso de Benjamin Button e Slumdog Millionaire. Vale dizer que, como desde O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei o vencedor dessa premiação não leva o Oscar de melhor filme, minha aposta para vencer o Globo de Ouro esse ano não necessariamente é quem eu considero o favorito ao Oscar.
Enfim, esses são os vencedores de amanhã, na minha opinião:


Filme - Drama: O Curioso Caso de Benjamin Button

Filme - Comédia ou musical: Vicky Cristina Barcelona

Diretor: Danny Boyle (Slumdog Millionaire)

Ator - Drama: Mickey Rourke (The Wrestler)

Atriz - Drama: Meryl Streep (Dúvida)

Ator - Comédia ou musical: Dustin Hoffman (Last Chance Harvey)

Atriz - Comédia ou musical: Sally Hawkins (Happy-Go-Lucky)

Ator coadjuvante: Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)

Atriz coadjuvante: Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)

Roteiro: O Curioso Caso de Benjamin Button

Filme estrangeiro: Gomorra

Trilha sonora: O Curioso Caso de Benjamin Button

Canção: "The Wrestler" (The Wrestler)

Animação: Wall-E

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um Novo Olhar: Tropas Estelares

[tropas estelares]

Tropas Estelares
Starship Troopers, 1997
Paul Verhoeven

Paul Verhoeven é um sujeito meio incompreendido. Robocop, de 1987, era uma grande e genial sátira ao cinema policial norte-americano, com seus heróis fascistóides e culto à violência. Mas poucos entenderam assim, e o filme logo se transformou em mais um lucrativa franquia de ação, ganhando duas continuações. Dez anos depois, o diretor holandês foi mais explícito em sua crítica à mentalidade bélica norte-americana: fez Tropas Estelares, ficção-científica meio non-sense, cheia de grandes seqüências de ação, e onde os heróis são soldados (cidadãos) que vestem-se como oficiais nazistas para combater insetos gigantes de um planeta distante. A questão é que, novamente, poucos entenderam o filme dessa forma, tudo foi visto como um futuro distante e imaginário, e Tropas Estelares também se transformou naquilo que criticava, ganhando duas continuações, um desenho animado e jogos de videogame.
É claro que, quando assisti ao filme pela primeira vez, há mais de dez anos atrás, tive-o apenas como uma boa diversão, me empolguei com as cenas de ação, torci pelos protagonistas e senti ódio dos insetos gigantes. E Tropas Estelares caiu no esquecimento em minha memória cinéfila. Há alguns dias, através do blog "Cinefilia", tive acesso a uma lista da revista francesa "Chronicart", que trazia os 10 melhores filmes entre os anos de 1997 e 2007, e eis que no meio de trabalhos de gente como David Lynch, Stanley Kubrick, Terrence Mallick, Gus Van Sant, Wong Kar-Wai e M. Night Shyamalan lá estava Tropas Estelares. A vontade de revê-lo, que já era grande, tornou-se então irresistível.
Bem, revisto depois de tanto tempo, o filme cresceu bastante. Obviamente, todo esse tempo teve muito mais efeito sobre mim (afinal de contas, tinha uns 12 anos quando vi o longa pela primeira vez) do que sobre o trabalho de Verhoeven em si, mas é interessante como uma obra como Tropas Estelares, afastada de seu contexto original, das pressões e expectativas envolvendo seu lançamento (já que estamos tratando aqui de uma superprodução), tem uma capacidade imensa de se tornar grande. É bem verdade que alguns efeitos visuais envelheceram um pouco, mas isso acaba contribuindo, estranhamente, para o clima bizarro do filme. Além disso, Verhoeven teve a sacada de montar um elenco todo formado de jovens atores, desconhecidos na época, que chamam mais atenção por sua beleza física do que por seus talentos, o que acaba também contribuindo para o tom fake do longa, onde tudo é propositalmente exagerado (e é curioso notar como nenhum dos protagonistas teve uma carreira bem-sucedida posteriormente). No entanto, o que realmente torna Tropas Estelares um grande filme é a visão ácida de seu diretor. A forma como ele utiliza a propaganda militarista, a manipulação e o sensacionalismo midiáticos e a mentalidade bélica dos norte-americanos na trama para construir seu arcabouço crítico é, no mínimo, genial. E aí, os uniformes da SS nos soldados-heróis-cidadãos são somente a cereja no delicioso bolo que é Tropas Estelares.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Os Melhores de 2008

[melhores de 2008]

2008 foi um ano de grandes lançamentos no Brasil. Tivemos filmes premiados em festivais pelo mundo, ótimos lançamentos nacionais e boa parte dos indicados ao Oscar 2008, uma das melhores premiações da Academia nos últimos tempos. Além disso, esse foi um ano em que a maioria dos blockbusters de Hollywood trouxeram, além das milionárias campanhas de marketing e das presenças de grandes astros, um elemento a mais: qualidade. Afinal de contas, 2008 foi o ano de Batman - O Cavaleiro das Trevas.
Mas, já que falei no Oscar, nesse ano a Academia teve de fazer uma dificílima escolha, na premiação de sua categoria principal, ao se deparar com ao menos duas verdadeiras obras-primas na disputa. Pois bem, passado quase um ano, cá estou eu, diante desse mesmo dilema. A diferença é que, ao contrário dos membros da Academia, eu não sou obrigado a escolher necessariamente um filme, por isso, pela primeira vez na minha lista de melhores do ano, dois filmes dividem o topo. Sinceramente? Mais merecido, impossível.

10- Queime Depois de Ler

9- O Gângster

8- 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

7- Linha de Passe

6- O Nevoeiro

5- O Escafandro e a Borboleta

4- Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto

3- Batman - O Cavaleiro das Trevas

2- Desejo e Reparação

1- Sangue Negro

1- Onde os Fracos Não Têm Vez