terça-feira, 26 de janeiro de 2010

[top 10 década 2000 - filmes brasileiros]


Foi uma década de altos e baixos para o cinema brasileiro. Se, por um lado, tivemos o aumento substantivo do público que sai de casa para ver um filme nacional numa sala de cinema, por outro, é fato que algumas das obras que conseguiram esse tipo de mobilização são de qualidade extremamente duvidosa. Se, por um lado, o reconhecimento internacional apareceu, com um filme brasileiro sendo indicado a 4 Oscar, incluindo melhor diretor, e com outro ganhando o Urso de Ouro em Berlim, 10 anos depois de Central do Brasil, por outro, o jovem clássico de Walter Salles continua como nossa última indicação ao Oscar de filme estrangeiro (em 1999). Outro ponto negativo foi a massiva e irritante invasão da linguagem televisiva em nosso cinema, seja através da adaptação de séries e programas humorísticos (Os Normais, A Grande Família, Casseta & Planeta), seja através das comédias estúpidas de Daniel Filho (Se Eu Fosse Você e sua medíocre continuação, A Partilha etc.), seja através de um épico choroso, megalomaníaco e constrangedor (Olga).
No fim das contas, porém, acho que o saldo foi positivo. Bem, ao menos deu para pinçar 10 grandes filmes para compor essa lista. E mais alguns para receber uma menção honrosa. São eles: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias; Cabra-Cega; Cleópatra; O Cheiro do Ralo; Cinema, Aspirinas e Urubus; 2 Filhos de Francisco; Estômago; Madame Satã e O Céu de Suely.
Finalmente, então, os 10 melhores filmes brasileiros da década 2000:


10- Tropa de Elite
José Padilha, 2007


9- Jogo de Cena
Eduardo Coutinho, 2007


8- Se Nada Mais Der Certo
José Eduardo Belmonte, 2008


7- Linha de Passe
Walter Salles & Daniela Thomas, 2008


6- Cidade Baixa
Sérgio Machado, 2005


5- Ônibus 174
José Padilha, 2002


4- Santiago
João Moreira Salles, 2007


3- Cidade de Deus
Fernando Meirelles, 2002


2- Entreatos
João Moreira Salles, 2004


1- Lavoura Arcaica
Luiz Fernando Carvalho, 2001

domingo, 24 de janeiro de 2010

[amor sem escalas]

Amor Sem Escalas
Up in the Air, 2009
Jason Reitman


Amor Sem Escalas é o terceiro longa-metragem de Jason Reitman, e o primeiro após o sucesso do adorável Juno. No entanto, o filme dialoga muito mais com seu trabalho de estreia, o fraco e pretensioso Obrigado por Fumar, do que com a história da adolescente grávida que encantou meio mundo há 2 anos (até porque agora ele volta a trabalhar com um roteiro próprio, ou seja, dessa vez não há Diablo Cody para ajudá-lo). Aqui, assim como no longa com Aaron Eckhart, há um protagonista cínico, desumanizado por seu ofício, e que, talvez até mesmo por isso, parece amar e respeitar muito mais as empresas para quem trabalha do que as pessoas que o cercam. E, nos dois filmes, esse protagonista irá "aprender uma lição".
A vantagem de Amor Sem Escalas sobre esse seu antecessor, no entanto, é que Reitman parece ter amadurecido um pouco (curiosamente, isso aconteceu por meio de um filme sobre uma adolescente feito neste intervalo), e deixado de lado os excessos de Obrigado por Fumar. Seu novo filme é maduro, sereno, não possui tentativas irritantes de ser cool, e consegue realizar um retrato ao mesmo tempo leve e devastador dos efeitos da atual crise econômica nos trabalhadores norte-americanos. Os diálogos destes com o personagem de George Clooney, ainda que muitas vezes pareçam depoimentos para um documentário, são todos muito bons, de cortar o coração (é de Steve Eastin, que vive o personagem sr. Samuels, a mais triste dessas cenas). Amor Sem Escalas tem um outro trunfo: seu protagonista hipnótico. Clooney, a cada dia melhor, surge perfeito no papel do sujeito que vive de demitir pessoas. Consegue ser cínico e adorável ao mesmo tempo, esbanja charme e acaba conquistando pela solidão de seu personagem, e por seus esforços quase quixotescos para dar alguma dignidade àquilo que faz - tarefa que, convenhamos, não é das mais fáceis. Há de se elogiar também a dupla de coadjuvantes Vera Farmiga e Anna Kendrick: a primeira, belíssima e de uma elegância gigantesca em cena, e a segunda, uma grata surpresa, uma jovem atriz (proveniente da Saga Crepúsculo...) que consegue convencer, mesmo com uma personagem facilmente caricaturável.
Não sei se pela interpretação irretocável de Clooney, ou se por vontade de Jason Reitman mesmo, parece haver uma forte identificação do filme com seu protagonista. Nesse sentido (e também por motivos pessoais), acabei identificando-me com sua "filosofia de vida", com o que Ryan Bingham tenta vender naquelas suas palestras motivacionais. E, por isso, irritei-me bastante com a tentativa do roteiro de dar a tal lição no personagem, de provar que, sim, as pessoas só são felizes com uma família ao seu lado, e com alguém para chamar de seu. Me pareceu um olhar excessivamente conservador e convencional, num filme que tinha tudo para ser justamente o oposto - e que, na verdade, o é na maior parte de sua narrativa. Mas vá lá: ao menos Amor Sem Escalas não tem o final feliz tradicional das comédias românticas. Até porque ele não é uma, a despeito do título brasileiro canalha que tenta vendê-lo como tal.


P.S.: em seu terceiro longa, Reitman começa a se firmar como diretor, e a ter seus "atores-assinatura". Assim, estão presentes aqui, novamente, J. K. Simmons, Jason Bateman e Sam Elliott.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Vício Frenético



Existem alguns poucos pontos em comum entre Vício Frenético, obra-prima que Abel Ferrara lançou em 1992, e essa suposta refilmagem, comandada pelo grande Werner Herzog. Ambos têm como protagonista o bad lieutenant de seus títulos, um policial inescrupuloso, violento, adepto de métodos escusos e viciado em todos os tipos de drogas imagináveis. Mas o Vício Frenético de Herzog caminha numa direção bastante diferente daquela escolhida pelo longa de 92: o tom aqui é bem menos pesado, e a degradação moral do personagem parece estar ainda num estágio menos adiantado do que no filme de Ferrara - ainda que o bad lieutenant de 2009 seja quase tão trágico quanto o anterior, essa nova versão é muito mais uma comédia de humor negro, sarcástica e politicamente incorreta, do que um drama pesado sobre culpa e redenção; saem também as referências religiosas, tão costumeiras no cinema do cineasta novaiorquino; por outro lado, Herzog insere sua história na New Orleans pós-Katrina e trafega com desenvoltura nos submundos de uma cidade se reerguendo.

Há, no entanto, uma outra semelhança entre os dois filmes que não passa despercebida. Como afirmei em meu texto sobre o Vício Frenético de Ferrara, nunca fui muito fã de Harvey Keitel, mas, ao assistir seu trabalho naquele filme, tive de render-me ao seu talento: o policial sem nome interpretado por Keitel não só representa o melhor desempenho de sua carreira, como talvez seja uma das interpretações mais viscerais que já vi. Com Nicolas Cage, protagonista do novo Vício Frenético, a história é um pouco diferente: sempre achei-o um bom ator e adoro seus desempenhos em filmes como Despedida em Las Vegas e Adaptação. Mas confesso que minha descrença em seu talento, ou ao menos em sua capacidade para escolher bons projetos, vinha crescendo nos últimos tempos. A década 2000 foi um período de, basicamente, filmes ruins para Cage. À exceção do já citado Adaptação e do ótimo O Senhor das Armas, o sobrinho de Francis Ford Coppola conseguiu nos últimos anos a proeza de, a cada nova obra lançada, superar imediatamente a anterior em ruindade. O Capitão Corelli, Códigos de Guerra, Motoqueiro Fantasma, O Sacrifício, O Vidente... a lista não é pequena. Diante de sua atuação em Vício Frenético, sinceramente, todos esses equívocos parecem irrelevantes. O que se tem aqui é a melhor interpretação da carreira de um grande ator e chega a ser difícil acreditar no que se vê na tela. Completamente alucinado, Cage incorpora o policial Terrence com uma paixão, digamos, alucinante. Seus trejeitos, que em muitos filmes pareceram exageros dramáticos, aqui caem como uma luva no personagem. E, graças ao ator, o filme de Herzog acaba sendo uma incrível sucessão de cenas memoráveis (a abordagem ao casal de namorados, a tortura das velhinhas no asilo, os delírios com iguanas, as cenas com Eva Mendes... até culminar na desde já clássica "His soul is still dancing"). Acho que poucas vezes no cinema recente a palavra genial serviu tão bem para definir um filme e o desempenho de seu ator principal. E que venham mais bombas com Nicolas Cage! Ele já está previamente perdoado por elas também.


Vício Frenético 
Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans, 2009
Werner Herzog

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

[curtinhas: no cinema]

Sherlock Holmes
Sherlock Holmes, 2009
Guy Ritchie


É com uma historinha bem meia-boca que o detetive Sherlock Holmes e seu parceiro Watson são apresentados a uma nova geração de cinéfilos. O filme de Guy Ritchie (definitivamente um peixe fora d'água em um projeto desse tamanho) é bacana, movimentado, tem uma boa reconstituição de época e reinventa com êxito seu protagonista. Sherlock Holmes, o filme, tem, acima de tudo, o mérito de fazer de sua dupla de protagonistas seu motor - e Ritchie explora ao máximo a química gigantesca entre Robert Downey Jr. (que, por mais que acabe repetindo de certa forma seus trejeitos de sempre, acaba se revelando a escolha perfeita para o papel, dando ao seu Holmes um ar cínico irresistível) e Jude Law.

O problema está mesmo no roteiro. Ritchie parece ter acreditado que bastava ter dois ótimos atores à frente do elenco, esbanjando entrosamento, que o resto se resolveria. Não é bem assim. A trama de Sherlock Holmes até começa bem - na verdade é impecável em sua primeira meia-hora - mas aos poucos vai descambando para um sem-número de lugares-comuns (sociedades secretas, femme fatales, capangas grandalhões aparentemente indestrutíveis, um super-vilão com um plano para dominar o mundo...), até chegar no manjado confronto final entre o herói e seu opositor - aliás, não deixa de ser lamentável a falta de criatividade dos roteiristas dessas grandes produções hollywoodianas, que insistem em sempre resolver suas tramas com um confronto físico no final. E ainda piora quando o diretor opta por inserir aqueles irritantes flashbacks explicativos, onde o protagonista demonstra passo-a-passo como revelou o mistério do filme. É um recurso preguiçoso, didático ao extremo, e de gosto duvidoso.
Me pergunto se Sherlock Holmes não poderia ser um grande filme, mantendo a mesma dupla de protagonistas e a proposta de reinvenção do detetive criado por Arthur Conan Doyle, mas com um clima mais sombrio, menos cômico. Um filme de suspense, um thriller nas mãos de um David Fincher, por exemplo, ao invés de um longa de ação como esse aqui. Provavelmente nunca saberemos...


Onde Vivem os Monstros
Where the Wild Things Are, 2009
Spike Jonze


O que mais impressiona em Onde Vivem os Monstros é a capacidade que Spike Jonze demonstra de transformar um fiapo de história, e ainda por cima com sérias tendências para se tornar infantilóide, em um filme dramaticamente poderoso. É um filme infantil adulto. Tem uma criança como protagonista, trata do universo infantil, mas é de uma maturidade gigantesca. Cada mínimo detalhe da personalidade ainda em formação do pequeno Max (interpretado pelo excelente Max Records) é destrinchado com sutileza pelo diretor, sem forçar a barra, e sem querer, no fim, passar de forma clara alguma mensagem. É claro que há uma "moral da história" ali, até porque o filme baseia-se em um clássico da literatura infantil norte-americana, mas ela surge sutilmente, com calma, sem que alguém precise pronunciá-la em palavras para que a reconheçamos. E, aliás, essa moral serve apenas para aumentar a força da obra de Jonze: o reconhecimento de nossos monstros internos, que nos perseguem, seja na vida real, seja em um mundo imaginário qualquer, e a necessidade de enfrentá-los.

Chama atenção também a dinâmica criada por Jonze entre seu jovem protagonista e os monstros que habitam seu mundo imaginário (que são, aliás, visualmente impressionantes). É uma relação de amizade adorável num primeiro momento, ainda que baseada em uma certa necessidade de subordinação. Mas, aos poucos, estabelece-se uma tensão que beira o insurpotável, com a ameaça sempre presente de que uma daquelas criaturas possa de fato devorar Max - o que quase transforma Onde Vivem os Monstros em um filme de terror, e que me fez imaginar a possibilidade de um final trágico para aquela história. Bem, acho que de certa forma é um filme de terror: encarar o que realmente somos costuma ser mesmo bem aterrorizante. Aqui reside o principal ponto de maturidade de Onde Vivem os Monstros, que o torna muito mais adulto do que tantos filmes que se vendem como tal.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

[sobre avatar, o oscar e um certo bolo de chocolate]



Hoje revi Avatar, levado por 3 motivações diferentes: 1) finalmente assistir ao trabalho revolucionário de Cameron da forma como, segundo tantos, ele foi feito para ser apreciado, em 3D; 2) conferir se foi justa ou não a vitória na cerimônia do Globo de Ouro, na noite de ontem; 3) reforçar minha defesa do filme, do qual gostei na primeira ida ao cinema, em um debate com um amigo, que acha-o raso e maniqueísta. Em suma: assisti Avatar pela segunda vez com imensa predisposição para encontrar aqui a obra-prima que muitos vêm encontrando. Mas o resultado dessa segunda visita à Pandora não foi exatamente esse.


Sobre o 3D, não há o que reclamar, pelo contrário: Cameron utiliza-o na medida correta, simplesmente para embelezar plasticamente ainda mais as imagens que vemos na tela - não há objetos sendo atirados incessantemente contra o espectador, como muitos filmes que adotam o formato costumam fazer, e o que se tem aqui é uma experiência verdadeiramente mágica para os olhos. Assim, se o visual de Avatar em 2D já era um espetáculo...


O problema é que, dessa vez, o filme, enquanto cinema mesmo, simplesmente desmoronou na minha frente. Na primeira vez que o assisti já havia reconhecido todos os clichês, a pouca profundidade dramática, a semelhança excessiva com Dança com Lobos... mas se, naquela ocasião, a grandiosidade do feito de Cameron havia conseguido suplantar esses defeitos todos, agora simplesmente não deu. Avatar é esquemático do começo ao fim e constatar isso novamente torna-o extremamente irritante. A facilidade com que os Na'vi aceitam "estudar" o protagonista, por exemplo, esbarrando somente no ciúme (previsível) de um personagem, é completamente inverossímil. Nesse sentido, basta voltar a Dança com Lobos: era admirável a calma com que Costner desenvolvia o relacionamento entre o herói da Guerra Civil e os índios Sioux, a forte rejeição inicial, as incompreensões, a aproximação gradual, até a conquista do respeito total. No filme de Cameron, mesmo com suas quase 3 horas de duração, tudo é apressado e chato em sua pouca criatividade. O problema não é ser parecido com o filme de Kevin Costner, até porque Dança com Lobos é belíssimo. O problema é ser uma versão piorada dele – algo que havia acontecido também com O Último Samurai.


Vamos então aos prêmios: com a vitória nas duas principais categorias do Globo de Ouro, somada à sua impressionante bilheteria, Avatar parece ter tudo para seguir a trilha de Titanic e não deixar pedra sobre pedra no próximo Oscar. Caso essa previsão se confirme, será de fato uma grande injustiça, como foi injustiça o que ocorreu na noite de ontem. Principalmente porque entre os indicados pela imprensa estrangeira de Hollywood estavam duas obras-primas, que muito provavelmente também serão lembradas pela Academia: Guerra ao Terror e Bastardos Inglórios. Infelizmente, me parece que pedir um pouco de maturidade aos votantes do Oscar será um pouco demais – vai ser difícil resistir ao sucesso comercial arrasador, à revolução tecnológica, ao discurso ambientalista politicamente correto...


Sobre o debate com meu amigo, devo dizer que bati o pé, defendi o filme veementemente, ainda que reconhecendo alguns de seus problemas. Tal amigo apresentou-me então uma "teoria" para analisá-lo, segundo a qual, se um filme fosse um bolo de chocolate, James Cameron seria aquele sujeito que, sabendo que todo mundo gosta de bolos de chocolate (ou quase todo mundo, nunca se sabe), exagera na receita, reforça a quantidade de açúcar e de achocolatado, para torná-lo ainda mais apetitoso. A princípio, não dei muita atenção a esse parelelo. Agora, ele parece-me totalmente apropriado: é que existem determinados bolos e doces que, de tão açucarados, tornam-se enjoativos. Um pedaço basta para satisfazer quem os come. Como descobri hoje, esse é o caso de Avatar.


P.S.: ainda que não pareça, continuo gostando do filme. É uma ótima aventura, empolgante, e com algumas cenas muito boas. Só é superestimado.


P.S. 2: Stephen Lang está genial, é a melhor coisa de Avatar, de longe. Se não fosse Christoph Waltz, seria com certeza o melhor vilão do cinema em 2009.


sábado, 16 de janeiro de 2010

[globo de ouro 2010 - apostas]

Esses são meus palpites, lançados aqui meio em cima da hora, para a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, que acontece na noite deste domingo. Vamos ver se nesse ano me saio melhor do que em 2009, quando acertei os vencedores de 7 categorias...


Filme - Drama: Guerra ao Terror

Filme - Comédia ou musical: Nine

Direção: Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror)

Ator - Drama: Jeff Bridges (Crazy Heart)

Atriz - Drama: Sandra Bullock (The Blind Side)

Ator - Comédia ou musical: Daniel Day-Lewis (Nine)

Atriz - Comédia ou musical: Meryl Streep (Julie & Julia)

Ator coadjuvante: Christoph Waltz (Bastardos Inglórios)

Atriz coadjuvante: Mo'Nique (Preciosa)

Roteiro: Amor Sem Escalas

Filme estrangeiro: A Fita Branca

Trilha sonora: Avatar

Canção: "The Weary Kind" (Crazy Heart)

Animação: Up - Altas Aventuras

sábado, 9 de janeiro de 2010

[à prova de morte]

À Prova de Morte
Death Proof, 2007
Quentin Tarantino


26 de novembro de 2007. Essa foi a data em que assisti, no cinema, Planeta Terror, de Robert Rodriguez. Definitivamente, é vergonhoso que, mais de dois anos depois, seu filme-irmão, À Prova de Morte, de Quentin Tarantino, ainda não tenha entrado em cartaz no Brasil. Campanhas foram criadas por cinéfilos, e muitas pessoas começaram a defender que simplesmente lançassem-no direto em DVD, desde que tivessem a oportunidade de assistir a, até pouco tempo, nova obra de Tarantino. Pois bem, como todos sabem, Bastardos Inglórios chegou aos cinemas brasileiros, e nada de À Prova de Morte. É difícil entender, principalmente porque trata-se de um filme que, se não é um blockbuster, tem, indubitavelmente, um bom potencial de bilheteria - basta ver o êxito comercial de Bastardos. E o mais lamentável é que, além de ser o trabalho de um diretor reconhecidamente talentoso e sempre original, este é verdadeiramente um ótimo filme - ainda que seja, provavelmente, o "menos bom" do cineasta nessa década, que teve, além de Bastardos Inglórios, os dois volumes de Kill Bill.
Em primeiro lugar, À Prova de Morte é consideravelmente superior ao longa de Rodriguez. Enquanto aquele exagerava na tosqueira para contar sua história de zumbis, Tarantino aposta na sua capacidade de criar diálogos memoráveis, e seu filme é quase totalmente estruturado a partir das conversas entre seus personagens - e a fluência acelerada desses diálogos, o brilhantismo absoluto de alguns deles, parece exigir bastante de um elenco impecável, com destaque para Rose McGowan (que também roubara a cena em Planeta Terror) e para um inspirado Kurt Russell, que cria um vilão impagável, repulsivo e adorável ao mesmo tempo, e difícil de esquecer (é uma interpretação digna de prêmios, mas como geralmente filmes como esse não costumam ser considerados para tais, o show de Russell acabou passando batido para muitos). Quando parte para cenas de ação, no entanto, a qualidade não cai. São duas maravilhosas perseguições de carro, eletrizantes, violentas e irresistivelmente divertidas. A brutalidade da primeira, filmada com um misto de realismo e exagero que só Tarantino consegue dosar corretamente, é complementada pela tensão da segunda, que leva ao final deliciosamente catártico de À Prova de Morte. Diz-se que downloads não autorizados de filme é crime. Sinceramente? Crime é não permitir que uma obra como essa seja assistida, seja qual for o motivo misterioso dessa falta de respeito.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

[lula, o filho do brasil]

Lula, o Filho do Brasil
Lula, o Filho do Brasil, 2009
Fábio Barreto


A grande dificuldade de se falar de um filme como Lula, o Filho do Brasil, é separar a obra fílmica do personagem real nela retratado. Assim, o lançamento desta cinebiografia agora, em ano eleitoral, não se torna apenas uma questão ética, a ser discutida nas searas da política tradicional: para qualquer um que tente dizer algumas palavras sobre o filme, seja ele um crítico profissional, um blogueiro cinéfilo, ou um mero curioso, estará presente a dúvida de estar-se ou não coadunando com um dos dois principais lados da disputa eleitoral que se aproxima.

Sou petista. Filiado mesmo. E admirador do governo Lula, apesar de seus (muitos) problemas e escândalos. Minha situação, então, é ainda mais complicada. Como cinéfilo, tenho uma opinião sobre o filme. Como militante político, tenho um posicionamento definido. Como não consigo achar que a política, mesmo a realpolitik, deve ficar completamente apartada das artes, como acho que tudo está ligado, e não há nenhum problema nisso, fica difícil falar de Lula, o Filho do Brasil, sem o receio de estar, de alguma forma, corroborando um discurso anti-Lula (o presidente).

A verdade é que, desde o início, lamentei as escolhas feitas pelos responsáveis por esse filme. A começar por seu diretor: Fábio Barreto não tem talento. Consegue ser ainda menos talentoso que seu irmão Bruno – que já não é lá grande coisa. Além disso, a vida de Lula é suficientemente rica e fascinante para gerar, sei lá, no mínimo uns 3 longas. Com boa parte dela condensada em um filme só, o resultado é exageradamente episódico, sem emoção: tudo soa artificial, passageiro – mostra-se algo porque tem-se de mostrar, não porque haja algum motivo fílmico ali.

Oposição, não se anime! O filme não é de todo ruim. Confesso que Fábio Barreto me pegou de surpresa nos momentos iniciais de Lula. Pelo trailer, havia ficado com a impressão de que as sequências passadas na infância do protagonista seriam as mais fracas, burocráticas e desnecessárias. Mas não. Estão ali os maiores êxitos do filme, com seus poucos diálogos, trilha inspirada, Glória Pires sublime... e Milhem Cortaz, num personagem que tinha tudo para ser o mais estereotipado de uma obra com grande tendência para o maniqueísmo, roubando a cena, humanizando o pai de Lula de forma inesperada. Com o decorrer da narrativa, tudo se torna, como disse antes, episódico demais. Muita coisa poderia ter sido cortada ali. O filme volta a crescer em seus momentos finais, com o protagonista já como o líder sindical que o Brasil conheceu em fins dos anos 70, por mais que as cenas das greves do ABC sejam apressadas, e um pouco confusas. Novamente: aquele ali é mais um episódio na vida de Lula, na visão de Barreto. Mais uma episódio que passa, que é mostrado porque tem de ser mostrado... uma pena. Vale dizer, no entanto, que Rui Ricardo Diaz acerta em cheio na composição de seu personagem, incorporando aos poucos o jeito de falar, de se portar, de chorar do futuro presidente. É um trabalho muito bom.

Como o filme mesmo faz questão de mostrar, Lula sempre foi um conciliador. Não um revolucionário. Seria muito, então, pedir um filme revolucionário? Talvez sim. Então, se queriam filmar de forma tradicional a vida do atual presidente da República, ou mesmo, se queriam fazer um filme positivo sobre Lula, que exaltasse sua figura, porque não convidar alguém minimamente talentoso (e que também, tal qual a família Barreto, admira o retratado) como Walter Salles? Seu irmão, João Moreira Salles, fez um belíssimo retrato do presidente no documentário Entreatos, e Walter poderia tranquilamente seguir seu caminho. Ou seja, errou-se desde o começo.


P.S.: já que citei Entreatos, fica aqui a confissão de que saí do cinema morrendo de vontade de rever o filme de João Moreira Salles. Ao menos para isso o trabalho de Fábio Barreto serviu.

sábado, 2 de janeiro de 2010

[alguns filmes - dezembro]


Os Cafajestes
Os Cafajestes, 1962
Ruy Guerra


Os Fuzis
Os Fuzis, 1964
Ruy Guerra


O Demônio das Onze Horas
Pierrot le Fou, 1965
Jean-Luc Godard


Rio 40 Graus
Rio 40 Graus, 1955
Nelson Pereira dos Santos


Vagas Estrelas da Ursa
Vaghe Stelle dell'Orsa, 1965
Luchino Visconti


Bom Dia, Noite
Buongiorno, Notte, 2003
Marco Bellocchio


A Opinião Pública
A Opinião Pública, 1965
Arnaldo Jabor


A Hora da Estrela
A Hora da Estrela, 1986
Suzana Amaral


Desaparecido
Missing, 1982
Costa-Gavras


1900
Novecento, 1976
Bernardo Bertolucci


Maratona da Morte
Marathon Man, 1976
John Schlesinger


If....
If...., 1968
Lindsay Anderson


A Teta Assustada
La Teta Asustada, 2009
Claudia Llosa


Cão Sem Dono
Cão Sem Dono, 2007
Beto Brant & Renato Ciasca


A Partida
Okuribito, 2008
Yojiro Takita