quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Os melhores filmes de 2015


Todo ano lamento as dificuldades de montar uma lista de melhores filmes, dada a quantidade de bons lançamentos nos cinemas brasileiros, mas 2015 foi mesmo um caso à parte. Cheguei a pensar em listas de 20, 30, até 50 filmes, mas encerrei a questão com uma solução bem satisfatória: além do tradicional Top 10 aqui no blog, divulgo também um ranking completo no letterboxd, com todos os lançamentos de 2015 que assisti (foram 108), apresentados em ordem de preferência.

Essa especial dificuldade veio da junção, ocorrida esse ano em nossas salas de cinema, entre os resquícios de uma temporada do Oscar bem interessante, um desempenho bem acima do esperado de boa parte dos blockbusters norte-americanos e alguns grandes mestres no melhor de sua forma. Clint Eastwood, George Miller, Jean-Luc Godard, Roman Polanski, Steven Spielberg, Abel Ferrara, David Cronenberg, Robert Zemeckis, Wim Wenders, Ridley Scott, Jafar Panahi… 2015 não foi para os fracos.

Vamos então ao Top 10 do ano, partindo da mea culpa de, por limitações principalmente de tempo, ter deixado passar alguns lançamentos de 2015 muito elogiados por gente muito boa. Paciência.




9- Leviatã


8- O Segredo das Águas







3- Norte, O Fim da História


2- Sono de Inverno




terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Os piores filmes de 2015


Se há sempre uma certa dose de sadismo na escolha dos piores filmes do ano, 2015 foi pouco prazeroso nesse sentido. Não que não tenham estreado filmes ruins nos cinemas brasileiros: é que por motivos tanto profissionais quanto de a vida ser curta demais acabei deixando passar alguns que pareciam ter tudo para marcar presença nessa lista. Daí me restou fazer um ranking de piores com alguns filmes que não chegam a ser bombas, mas que são, no fim das contas, os mais fracos que vi no ano. Foram eles:


10- Ricki and the Flash


9- Amor, Plástico e Barulho


8- O Destino de Júpiter


7- Lugares Escuros






4- Caminhos da Floresta




2- O Amuleto


1- Cinquenta Tons de Cinza


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

In Memoriam 2015


No ano de uma perda pessoal irreparável, também perdi, como amante do cinema, um bocado de gente talentosa que fez meu amor por essa arte crescer ao longo dos anos. Lembro aqui de alguns desses que farão imensa falta: 


Rod Taylor


Odete Lara


Leonard Nimoy


Manoel de Oliveira


Andrew Lesnie


Christopher Lee


James Horner


Omar Sharif


Wes Craven


Carlos Manga


Marília Pêra


Robert Loggia


Haskell Wexler


domingo, 20 de dezembro de 2015

Star Wars: O Despertar da Força


    

Ainda no primeiro ato de Guerra nas Estrelas (ou Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, para quem prefere comprar as maluquices de George Lucas), há uma cena em que Luke Skywalker sai pela porta de casa e admira o horizonte de Tatooine (com seus dois sóis), ao som de um belíssimo tema musical de John Williams. No olhar de Luke se vê a frustração com a vida que leva na fazenda de seus tios e o desejo por aventuras, aparentemente inalcançáveis para um jovem humilde de um planeta esquecido na galáxia. Essa cena pequena, a princípio sem importância, sintetiza bem o espírito do filme que inaugurou a franquia Star Wars e de suas duas primeiras continuações (O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi): apesar das grandiosas batalhas interestelares e da luta contra o poderoso Imperador e seu braço direito, o igualmente poderoso Darth Vader, pelos destinos da galáxia, era nos destinos de little people como Luke e o contrabandista Han Solo que Lucas estava realmente interessado. Ainda que o clima dos filmes fosse de completa fantasia, essa preocupação com o sonho, tão humano, de ser maior do que se é de fato, fincava as raízes da primeira trilogia Star Wars no concreto, gerando empatia em qualquer pessoa que em algum momento da vida desejou algo aparentemente impossível pelo lugar que ocupava no mundo.

Star Wars: O Despertar da Força retoma essa concretude, após Lucas ter feito uma segunda trilogia asséptica (para que tanto CGI?), grandiloquente e incapaz de levar seus personagens por caminhos minimamente interessantes – até porque, por se tratar de um prequel, tudo em A Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith segue um traçado teleológico, sobrando quase nenhum espaço para surpresas. Por localizar seus acontecimentos 35 anos depois de O Retorno de Jedi, O Despertar da Força tem liberdade para caminhar com Star Wars para onde quiser e J. J. Abrams, em parceria com os roteiristas Lawrence Kasdan e Michael Arndt, é bastante bem-sucedido nisso, apesar de alguns deslizes aqui e ali. O principal deles diz respeito a um excesso de repetição da estrutura do primeiro filme da série, ainda que, do que se repete aqui, só dois pontos de fato incomodem: a presença de uma versão reloaded da Estrela da Morte, cuja destruição é novamente o desafio a ser superado pelos heróis, e o retorno dos personagens clássicos à condição de rebeldes, sem que essa mudança seja devidamente explicada. O que aconteceu entre O Retorno de Jedi e O Despertar da Força que permitiu a ascensão de algo parecido com um novo Império? De onde vem essa nova ameaça Sith, se estes pareciam ter sido destruídos com as mortes do Imperador e de Vader? Todo o esforço de Luke, Han, Leia, Chewbacca, rebeldes e até dos Eworks na trilogia original foi em vão? Não que Abrams, Kasdan e Arndt tivessem de ser excessivamente expositivos, mas um pouco de informação nesse caso talvez não fizesse mal, sobretudo porque simplesmente retornar com os personagens à sua condição inicial sem explicitar as razões pode soar como comodismo do roteiro.

Feitas essas ressalvas, resta dizer que O Despertar da Força é um filme encantador. Abrams recupera o sentido transgressor da trilogia original ao escolher como protagonistas figuras marginais, representantes de minorias sociais (uma mulher catadora de sucata e um stormtrooper negro), o que é ainda mais ousado que o feito por Lucas em 1977. Recupera também a empatia gigantesca com o público – perdida na segunda trilogia, protagonizada pelos quase invencíveis jedis –, por Rey (Daisy Ridley) e Finn (John Boyega) serem personagens carismáticos e ao mesmo tempo frágeis diante de inimigos muito maiores – sem contar que o retorno de Solo e Chewbacca, provavelmente as figuras mais adoráveis dos primeiros filmes, contribui bastante para esse efeito empático. 

Mas o grande trunfo de O Despertar da Força está mesmo na já citada liberdade do roteiro de caminhar para onde bem entender. É isso que permite a Abrams, Kasdan e Arndt não só criarem um novo conflito entre pai e filho que em nada deve àquele entre Luke e Vader em O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, como propor uma solução para tal conflito absolutamente chocante e bastante coerente com os dramas de cada um dos personagens. Nesse aspecto, o filme se escora na trilogia original para ir além dela. São essas ousadias milimetricamente calculadas que, provavelmente, permitirão a Rian Johnson, no vindouro Episódio VIII, se afastar um pouco mais desse porto seguro. 


Star Wars: O Despertar da Força 
Star Wars: The Force Awakens, 2015
J.J. Abrams

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Woody Allen, 80 anos



Meu primeiro contato com o cinema de Woody Allen não foi exatamente positivo. Lá pelos idos de 2002, Trapaceiros (2000), então seu filme mais recente lançado no Brasil, me pareceu adepto de um humor bobo, ingênuo, num momento em que eu, adolescente, gargalhava com as escatologias de American Pie e Todo Mundo em Pânico. Creio que Annie Hall (1977) tenha sido o passo seguinte de minha caminhada na filmografia de Allen, passo dado com um bocado de desconfiança e preconceito: como fã de Star Wars, estava bastante disposto a não gostar dessa historieta de amor entre um noivo neurótico e uma noiva nervosa, responsável por tirar o Oscar da primeira parte da saga de George Lucas. Acabei gostando, ri um bocado de algumas situações, mas não foi com seu filme mais premiado que Allen me conquistou definitivamente (só numa revisão, algum tempo depois, entenderia a modernidade gigantesca de Annie Hall). Na verdade foi uma conquista gradual, que explodiu em paixão quando vi pela primeira vez Manhattan (1979), numa sessão de cineclube na Faculdade de Comunicação da UFJF. Em pouco tempo, Allen já era um companheiro de viagem íntimo, figura com a qual compartilhava neuroses, inseguranças, incertezas, posições políticas e a adoração por Dostoiévski e Bergman.

Hoje, quando ele completa 80 anos provavelmente agonizando com a ideia de estar ainda mais próximo do fim da vida, compartilho também com esse ídolo quase amigo, aqui da beira dos 30, essa indignação com a inevitabilidade da morte. Também sou fortemente contrário a ela. É esse apego que Allen tem à vida que o mantém na ativa, movido a jazz e cinema, nos presenteando, anualmente, com ao menos um novo filme. E, como há muito diz o clichê, mesmo o mais fraco dos filmes de Woody Allen é melhor que boa parte do que entra em cartaz por aí. Então, que ainda ganhemos muitos desses presentes.

Dos 46 longas-metragens dirigidos por Allen até 2015, assisti 35. Esses são meus 10 favoritos: 




9- A Rosa Púrpura do Cairo (1985)


8- Tiros na Broadway (1994)


7- Interiores (1978)


6- Match Point (2005)


5- Desconstruindo Harry (1996)


4- Hannah e Suas Irmãs (1986)


3- Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)


2- Crimes e Pecados (1989)


1- Manhattan (1979)


domingo, 29 de novembro de 2015

Chatô - O Rei do Brasil

 

Numa das primeiras cenas de Chatô – O Rei do Brasil, Assis Chateaubriand aparece travestido de índio, devorando um pedaço de carne humana enquanto olha, desafiador, diretamente para o espectador. Essa será a postura assumida pelo personagem no restante da narrativa desse infame filme de Guilherme Fontes, que finalmente chega aos cinemas após quase 20 anos do início de sua produção. Apesar das compreensíveis comparações com Cidadão Kane – Chateaubriand é, como Kane, um magnata da mídia propenso ao sensacionalismo e com relações intrínsecas, muitas vezes espúrias, com a política –, o Chatô canibal de Fontes está mais para Venceslau Pietro Pietra, vilão do Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade. Ambos são antropófagos no pior sentido do termo, adeptos de uma devoração que destrói quem atravessa seus caminhos, “gigantes” movidos a sexo, dinheiro e poder. 

Já o tom de deboche de Chatô - O Rei do Brasil remete não só a essa obra-prima do Cinema Novo, mas também a Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, marco da “retomada” do cinema nacional nos anos 90, época em que Fontes filmou. Aliás, a pretensão de, por meio da sátira a "grandes personagens", explicar o país, aproxima Chatô ainda mais dessas duas matrizes – o Cinema Novo pós-tropicalista de Joaquim Pedro e a comédia histórica/histérica de Carla Camurati –, o que, em tempos de filmes brasileiros minimalistas, íntimos e muito preocupados com o micro (no qual por vezes se projeta o macro, é verdade, como nos recentes O Som ao Redor e Que Horas Ela Volta?, mas ainda assim mantendo o foco nas pequenas histórias), poderia soar anacrônico, envelhecido. Isso não acontece. 

A estrutura complexa da narrativa, com pelo menos três instâncias de narração (o presente de Chateaubriand, no hospital, a alucinação com seu julgamento num programa de TV à lá Chacrinha e as lembranças do passado, que também se dão... dentro do julgamento?), é arriscada, mas muito bem construída, surpreendentemente coesa. Ela mantém o filme de pé. E a completa despreocupação com a precisão histórica, misturando tempos e personagens num contar agônico e alucinante (o que é absolutamente condizente com as condições de saúde de seu protagonista-narrador), funciona como uma espécie de exortação a um cinema biográfico e/ou político menos careta e oficialesco, mais livre e safado. Vindo diretamente do passado em que foi concebido e filmado, Chatô se coloca, portanto, como um filme para o futuro. Oxalá seja visto, discutido, compreendido e tomado como um exemplo (estético, narrativo) possível a ser seguido. 


Chatô - O Rei do Brasil 
Guilherme Fontes 
2015