quarta-feira, 17 de maio de 2017

Alien: Covenant



Ridley Scott parece, após quarenta anos de uma carreira marcada por considerável ecletismo, ter decidido fazer de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) sua obra maior, retornando ao universo desse filme em duas prequels (e mais algumas sequências anunciadas). Prometheus (2012), a primeira delas, apesar de irregular, é extremamente eficiente na maneira como constrói o deslumbramento de seus personagens com a descoberta do novo – sentimento presente no tom do próprio filme, e que justifica o desejo de Scott, manifesto no roteiro de Damon Lindelof e John Spaihts, de expandir a mitologia de Alien, transformando o que antes era apenas uma claustrofóbica história de horror numa (pretensamente) complexa discussão existencial sobre as origens do universo.     

Provavelmente pela morna recepção a Prometheus, muito criticado sobretudo por furos na história que contou, Scott optou por fazer de sua continuação, Alien: Covenant, um filme menos ambicioso temática e estruturalmente. Apesar de os comentários sobre a criação da vida continuarem presentes, principalmente por meio das ações do personagem David (Michael Fassbender) – afinal, não seria possível simplesmente ignorar o que foi iniciado em Prometheus –, Covenant tenta emular o clima de O Oitavo Passageiro, em boa medida reduzindo o desenrolar de sua narrativa ao jogo de gato e rato entre humanos e um xenomorfo assassino, sendo os primeiros constantemente sabotados por um androide com tendências psicopatas. O filme é até competente nisso, ainda que absolutamente negligente com o desenvolvimento de seus personagens não-sintéticos, todos absolutamente desinteressantes – e, exceção feita aos interpretados por Katherine Waterston, Billy Crudup e Danny McBride, quase indistinguíveis entre si. Mas é difícil entender as razões de sua existência se não há o menor interesse em levar adiante o que seu predecessor fez.

Nesse sentido, o roteiro de John Logan e Dante Harper, endossado, claro, por Scott, trata algumas das figuras centrais de Prometheus basicamente da mesma forma que Alien³ (1992), de David Fincher, tratou Hicks (Michael Biehn), Newt (Carrie Henn) e Bishop (Lance Henriksen), belissimamente apresentados e desenvolvidos no maravilhoso Aliens, O Resgate (1986), de James Cameron, o melhor da franquia. Se, a princípio, essa é uma escolha corajosa, ela só se confirma como tal e se justifica quando inserida num grande filme. E esse não é o caso nem de Alien³, nem de Alien: Covenant.


Alien: Covenant 
Ridley Scott, 2017