As imagens que compõem Alipato
– A Brevíssima Vida de um Malandro não são exatamente estranhas ao
cinema brasileiro. A excessiva fragmentação visual, própria de uma era
pós-videoclipes, num filme sobre violência urbana remete quase diretamente a Cidade de Deus (2002). Mas a proposta do diretor Khavn aqui é, na verdade, muito distante do olhar publicitário de
Fernando Meirelles. Para narrar a trajetória de um criminoso barra-pesada e de
sua gangue na periferia de Manila, capital das Filipinas, ele aposta no
mau gosto e no deboche extremos, bem como em certo hibridismo de linguagens –
há a apropriação, por exemplo, de elementos visuais tirados dos games. Nesse sentido, Alipato
traz à mente o radicalismo de Rogério Sganzerla em O Bandido da Luz Vermelha (1968), obra-prima também debochada, composta por referências múltiplas de linguagem (cinejornais, narrações radiofônicas etc.) e que
adere ao mau gosto para falar da criminalidade que assombrava a classe média
paulistana na década de 1960. Como Jorginho (Luiz Villaça), bandido que dá
título ao filme de Sganzerla, o protagonista de Alipato e seus asseclas
vêm do lixo, literalmente. Eles representam os dejetos da sociedade de bem, tudo que é descartado por ela e
volta para aterrorizá-la.
É verdade que nem sempre é fácil
lidar com as imagens de Alipato – pelo contrário, aliás,
frequentemente elas são de difícil digestão. Mas se trata de um filme
politicamente potente, provocativo e criativo, que usa a alegoria e a
agressividade ao bom gosto do espectador médio para falar de aspectos extremos da realidade de uma das capitais mais
violentas da Ásia (algo que, em chave mais naturalista, é abordado recorrentemente por Brillante Mendoza, diretor filipino bastante celebrado internacionalmente). Filme que urge, portanto, ser visto e debatido.
Alipato: The Very Brief Life of an Ember, 2016
Khavn
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