sábado, 18 de julho de 2015

Corrente do Mal



Lá no primeiro filme da franquia Pânico, o personagem de Jamie Kennedy listou as regras dos filmes de terror slasher, dentre as quais estava o veto absoluto ao sexo. No mundo de Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Halloween e congêneres, funciona a lógica do “transou, morreu”. Corrente do Mal, em certa medida, é a radicalização dessa premissa, já que os personagens do filme de David Robert Mitchell têm que lidar com uma maldição fatal transmitida pelo sexo. Moralismo tacanho? Metáfora da AIDS?

Pouco importa, na verdade. Importa mais a capacidade impressionante desse jovem diretor de criar climas. Corrente do Mal já começa macabro, numa cena assustadora num subúrbio americano que chega a ser bela de tão bem filmada: um único plano, uma câmera panorâmica que esquadrinha aquele bairro e capta a fuga desesperada de uma jovem – do quê, não sabemos. Tanto essa estranheza, a sensação de que há algo de anormal acontecendo, quanto o estilo visual apurado predominam no restante da narrativa. Corrente do Mal faz uso cuidadoso do espaço da cena, apostando muito mais na mise-en-scène que no excesso de cortes e sustos tão comum no cinema de horror contemporâneo. Também ajudam na construção do clima pesado do filme uma imagem frequentemente enfumaçada, que talvez aponte para a natureza onírica daquilo tudo (os personagens estariam apenas experimentando um terrível pesadelo?) e a trilha sonora cheia de sintetizadores, que remete diretamente às músicas de John Carpenter.  

Carpenter, aliás, parece ser uma importante referência para Mitchell em Corrente do Mal, e não só pelo uso da trilha sonora. A forma como o terror absoluto se instala num subúrbio aparentemente tranquilo lembra muito Halloween, assim como é difícil não pensar na obra-prima Enigma de Outro Mundo diante de um inimigo construído sobre a ideia de contaminação e que assume as mais diversas formas humanas. Mas Mitchell foi além de simplesmente ter Carpenter no horizonte: ele fez um filme com personalidade própria, maduro, apavorante e aberto a interpretações, digno dos melhores momentos de seu velho mestre no cinema de horror.

Corrente do Mal 
It Follows, 2014
David Robert Mitchell

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Exterminador do Futuro: Gênesis



Que melhor maneira de recuperar uma desgastada franquia de ficção-científica do que dando um reboot por meio de viagens no tempo? Isso foi feito brilhantemente por J.J. Abrams em Star Trek e, felizmente, o universo de O Exterminador do Futuro também permite o uso desse artifício. Mas, infelizmente, o diretor Alan Taylor, que, claro, está longe do talento de James Cameron, tampouco consegue chegar aos pés de Abrams. Ele faz de Gênesis apenas um filme de ação genérico, apressado, cheio de clichês e com atores que não mereciam ocupar o lugar de gente como Linda Hamilton, Michael Biehn, Edward Furlong, Nick Stahl, Christian Bale e Anton Yelchin.

Na verdade, é até injustiça citar Furlong, Stahl e Bale, ex-intérpretes de John Connor, já que Jason Clarke, responsável pelo personagem nesse novo filme, é um ator bem interessante. E Emilia Clarke também não é exatamente um desastre no papel imortalizado por Hamilton (o que não significa que ela dê conta de segurar uma figura tão icônica quanto Sarah Connor). O problema maior no elenco de Gênesis se chama Jai Courtney, canastrão bombado que faz Michael Biehn (que viveu Kyle Reese no Exterminador do Futuro original) parecer Daniel Day-Lewis. E o pior é que Courtney está presente em praticamente todos os minutos do filme, quase sugando para seu buraco negro particular de falta de talento aqueles que o cercam, inclusive Emilia e Jason. Falo em “quase” porque também está em cena, ainda que por menos tempo que Courtney, Arnold Schwarzenegger, outro ator inexpressivo, mas que sabe como poucos usar essa característica a seu favor. Shwarzenegger é o respiro desse 5º Terminator, com seu carisma irresistível que por pouco não torna O Exterminador do Futuro: Gênesis perdoável.

Isso não acontece porque os problemas do filme vão além do casting. O roteiro, por exemplo, tem furos gigantescos, tanto na cronologia da série (era para ignorar o 3º e o 4º filmes ou perdi algo?) quanto nas regras criadas pelo próprio Gênesis (a ida para 2017, pulando um evento fundamental de 1984, não inviabilizaria inclusive a existência de determinado personagem?), e ainda aposta numa boba dinâmica de comédia romântica entre Reese e Sarah Connor (eles brigam, mas se amam), que serve apenas para torná-los personagens ainda mais infantis e irritantes (o que estavam longe de ser no filme original).

Por fim, há a direção qualquer coisa de Taylor, que não se esforça nem para ser medíocre e emular James Cameron (a não ser no primeiro terço do filme, quando a cópia do primeiro Terminator era uma necessidade imposta pelo próprio roteiro). O Exterminador do Futuro: Gênesis é só mais um filme de ação cheio de perseguições e explosões clean, criadas por um indisfarçável CGI. Em tempos de Mad Max: Estrada da Fúria, fica feio fazer isso.

E ainda há quem não entenda o apego de Cameron ao universo que construiu em Avatar...


O Exterminador do Futuro: Gênesis 
Terminator Genysis, 2015
Alan Taylor