domingo, 11 de junho de 2017

6º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba: Grande Grande Mundo e Máquinas



Um crime brutal, seguido da fuga do criminoso, acompanhado de sua cúmplice, para uma região erma. Esse início de Grande Grande Mundo, do diretor turco Reha Erdem, parece mirar em Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick. Mas o caminho escolhido por Erdem, sobretudo a partir da metade do filme, é outro: vivendo num pântano, os protagonistas (Berke Karaer e Ecem Uzun) vão aos poucos mergulhando no delírio, o que abre a narrativa para doses cada vez maiores de estranhamento. Soa interessante, no entanto, Erdem não se mostra realmente disposto a radicalizar essa proposta, a escancarar o domínio de uma lógica mágica sobre a história narrada – algo à lá Apichatpong Weerasethakul, por exemplo, ou, num registro um pouco menos radical, mais teleológico, O Ornitólogo (2016), do português João Pedro Rodrigues. Ele permanece, ao invés disso, num insosso meio termo, excessivamente controlado, aparentando, no fim das contas, não saber mesmo o que pretendia com Grande Grande Mundo.

Grande Grande Mundo 
Koca Dünya, 2016
Reha Erdem



Esse documentário de Rahul Jain acompanha o cotidiano duríssimo de trabalhadores de uma fábrica de tecidos na Índia, crianças entre eles, que encaram jornadas de até doze horas diárias, ganhando salários irrisórios, para sobreviver. Há imagens muito fortes em Máquinas, acompanhadas de depoimentos idem, ainda que alguns possam soar como parte de um discurso ingênuo, talvez maniqueísta demais, do filme – e, num país como o Brasil, de consolidada tradição de representação cinematográfica do mundo do trabalho, o impacto pretendido por Jain se dilui um pouco. É passível de questionamento também a ética da relação do diretor, portando sua câmera, com os personagens de Máquinas, já que a presença deles na tela, por vezes denunciando as condições de trabalho às quais são submetidos, abre brechas para possíveis retaliações dos empregadores, algo que chega a ser verbalizado por um entrevistado. Curiosamente, no entanto, Jain não elimina do filme essa tensão, que explode na poderosa cena em que outro operário questiona diretamente o diretor a respeito de seu interesse circunstancial por aquela realidade.

Máquinas 
Machines, 2016
Rahul Jain

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