Um crime brutal, seguido da fuga do criminoso, acompanhado de sua cúmplice, para uma região erma. Esse início de Grande Grande Mundo, do diretor turco Reha Erdem, parece mirar em Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick. Mas o caminho escolhido por Erdem, sobretudo a partir da metade do filme, é outro: vivendo num pântano, os protagonistas (Berke Karaer e Ecem Uzun) vão aos poucos mergulhando no delírio, o que abre a narrativa para doses cada vez maiores de estranhamento. Soa interessante, no entanto, Erdem não se mostra realmente disposto a radicalizar essa proposta, a escancarar o domínio de uma lógica mágica sobre a história narrada – algo à lá Apichatpong Weerasethakul, por exemplo, ou, num registro um pouco menos radical, mais teleológico, O Ornitólogo (2016), do português João Pedro Rodrigues. Ele permanece, ao invés disso, num insosso meio termo, excessivamente controlado, aparentando, no fim das contas, não saber mesmo o que pretendia com Grande Grande Mundo.
Koca Dünya, 2016
Reha Erdem
Esse documentário de Rahul Jain acompanha o
cotidiano duríssimo de trabalhadores de uma fábrica de tecidos na Índia,
crianças entre eles, que encaram jornadas de até doze horas diárias, ganhando
salários irrisórios, para sobreviver. Há imagens muito fortes em Máquinas,
acompanhadas de depoimentos idem, ainda que alguns possam soar como parte de um
discurso ingênuo, talvez maniqueísta demais, do filme – e, num país como o
Brasil, de consolidada tradição de representação cinematográfica do mundo do
trabalho, o impacto pretendido por Jain se dilui um pouco. É passível de
questionamento também a ética da relação do diretor, portando sua câmera, com
os personagens de Máquinas, já que a presença deles na tela, por vezes
denunciando as condições de trabalho às quais são submetidos, abre brechas para
possíveis retaliações dos empregadores, algo que chega a ser verbalizado por um
entrevistado. Curiosamente, no entanto, Jain não elimina do filme essa tensão, que
explode na poderosa cena em que outro operário questiona diretamente o diretor
a respeito de seu interesse circunstancial por aquela realidade.
Machines, 2016
Rahul Jain
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