segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Som ao Redor



Em 1967, um jovem cineasta carioca estreou na direção de longas-metragens com um documentário que tentava decifrar o pensamento das classes médias brasileiras, parcela da sociedade que até então recebera pouca atenção do aclamado Cinema Novo, mas que se mostrava cada vez mais decisiva nos rumos políticos do país. O filme era A Opinião Pública e o cineasta, Arnaldo Jabor, hoje comentarista de política na TV e porta-voz de um certo pensamento mezzo conservador presente justamente nas camadas intermediárias da sociedade brasileira. 

45 anos separam o documentário de Jabor de O Som ao Redor, aclamadíssimo filme dirigido por Kleber Mendonça Filho que tem chamado a atenção por, entre outras muitas coisas, falar com imensa propriedade do cotidiano da classe média do Recife contemporâneo. À primeira vista, o cinema de Mendonça se distancia das intenções mais holistas de obras como A Opinião Pública ou outros exemplares cinemanovistas: O Som ao Redor aposta no recorte micro e num clima próximo ao do gênero horror, especialmente em alguns momentos-chave de sua narrativa, para exprimir as tensões sociais que envolvem seus personagens. Trata-se, nesse sentido, de um filme-irmão do recente (e maravilhoso) Trabalhar Cansa, da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra. Além disso, Mendonça, devoto confesso do cinema fantástico norte-americano, homenageia John Carpenter numa rápida cena e flerta com a obra-prima de Cronenberg Marcas da Violência, ao falar de um passado que sempre volta à tona, independentemente das vontades humanas de reprimi-lo ou escamoteá-lo.

No entanto, ao tomar como tema esse retorno inevitável da história ao presente, o cineasta pernambucano amplia seu olhar sobre o universo retratado, fazendo, com sutileza e sofisticação, o micro virar macro, o individual revelar as estruturas arcaicas que sustentam a sociedade brasileira. E aí, de algum canto esquecido de nossa história, o projeto cinemanovista ressurge, como um fantasma impossível de ser exorcizado, sorrindo para as novas gerações de cineastas. 



O Som ao Redor  
O Som ao Redor, 2012
Kleber Mendonça Filho

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Paris-Manhattan



Woody Allen construiu seu cinema se referenciando nas obras de outros cineastas mas, aos 77 anos de idade e mais prolífico que nunca, o diretor vive um momento em que seus próprios filmes já se tornaram referências para diretores mais jovens. A comédia romântica francesa Paris-Manhattan, de Sophie Lellouche, é um caso explícito disso: Allen está presente do título (que remete a Manhattan, uma de suas obras-primas) à protagonista do longa (mulher apaixonada pelos filmes do diretor nova-iorquino, com quem chega, inclusive, a ter diálogos imaginários), além de fazer uma rápida e divertida participação em sua parte final.

No entanto, apesar de partir de uma boa ideia, o trabalho de Lellouche é muito fraco. Há uma incômoda necessidade de inchar uma narrativa que claramente carece de conflitos, o que torna o filme um tanto forçado na maior parte do tempo - talvez, no fim das contas, Paris-Manhattan pudesse ser um delicioso curta-metragem. Qual a importância que o repentino alcoolismo de uma determinada personagem tem para a trama, por exemplo? Por que dedicar tanto tempo a uma boba investigação sobre possíveis relações extra-conjugais do cunhado da protagonista? A resposta parece estar justamente na dificuldade da diretora/roteirista de transformar uma premissa boa num longa com substância, mesmo que dotado de um tom leve. Há muito pouco de Woody Allen em Sophie Lellouche. 


Paris-Manhattan 
Paris-Manhattan, 2012


Sophie Lellouche

O Globo de Ouro 2013 e a caminhada para o Oscar



Apesar de algumas previsões que já apontavam nessa direção, a vitória de Argo e de seu diretor (Ben Affleck) no Globo de Ouro não deixou de ser uma pequena surpresa. Entre seguir a tendência geral e marcar posição com escolhas próprias, a associação dos jornalistas estrangeiros de Hollywood ficou com a segunda opção, premiando um filme que dificilmente será coroado no Oscar, que ocorre daqui a pouco mais de um mês. Isso porque Argo, apesar de celebrado e apontado como possível candidato desde o início da temporada de premiações, sofreu um inusitado revés quando a Academia anunciou seus indicados, deixando Affleck, que parecia uma barbada, de fora da categoria "melhor diretor". Desde a cerimônia de 1990 uma obra não ganha "melhor filme" no Oscar sem ter seu diretor ao menos indicado em sua respectiva categoria e parece pouco provável que Argo, um filme que chama atenção justamente pela direção elegante de Ben Affleck, repita o feito alcançado por Conduzindo Miss Daisy naquele ano. Tudo parece conspirar, enfim, para uma vitória completa do Lincoln de Steven Spielberg no Oscar 2013, até porque outros nomes que poderiam fazer a dobradinha "melhor filme" e "melhor diretor", como Quentin Tarantino, Kathryn Bigelow e Tom Hooper, também foram surpreendentemente esquecidos pela Academia.
   

sábado, 12 de janeiro de 2013

Apostas para o Globo de Ouro 2013


Já virou lugar-comum dizer que o Globo de Ouro não representa mais um "termômetro" para o Oscar mas, ainda assim, a premiação dos jornalistas estrangeiros que atuam em Hollywood ainda tem lá seu espaço. No fim das contas, resta ao menos a curiosidade de ver se esses profissionais seguirão as tendências apontadas pelos especialistas para o prêmio da Academia ou tentarão se diferenciar, fortalecendo uma identidade própria. No caso desse ano, penso que Globo de Ouro e Oscar tendem a concordar em quase tudo. A temporada de premiações que começa a entrar em sua reta decisiva parece reservar poucas surpresas. 
Essas são minhas apostas para amanhã:



Filme - Drama: Lincoln

Filme - Comédia ou Musical: Os Miseráveis

Atriz - Drama: Jessica Chastain (A Hora Mais Escura)

Atriz - Comédia ou Musical: Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)

Ator - Drama: Daniel Day-Lewis (Lincoln)

Ator - Comédia ou Musical: Hugh Jackman (Os Miseráveis)

Diretor: Steven Spielberg (Lincoln)

Ator Coadjuvante: Tommy Lee Jones (Lincoln)

Atriz Coadjuvante: Anne Hathaway (Os Miseráveis)

Roteiro: Argo

Animação: Detona Ralph

Filme Estrangeiro: Amor

Trilha Sonora: Anna Karenina

Canção: "Skyfall" (007 - Operação Skyfall)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Os melhores filmes de 2012


10- Sudoeste
Sudoeste
Eduardo Nunes


9- L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância
L'Apollonide - Souvenirs de la Maison Close
Bertrand Bonello


8- Drive
Drive
Nicolas Winding Refn


Jodaeiye Nader az Simin
Asghar Farhadi


Skyfall
Sam Mendes


The Life of Pi
Ang Lee


4- Shame
Shame
Steve McQueen


The Artist
Michel Hazanavicius


2- Minha Felicidade
Schastye Moe
Sergei Loznitsa


Holy Motors
Leos Carax


Os piores filmes de 2012


10- Precisamos Falar Sobre o Kevin
We Need to Talk About Kevin
Lynne Ramsay


9- Violeta Foi Para o Céu
Violeta Se Fue a los Cielos
Andrés Wood


8- O Exótico Hotel Marigold
The Best Exotic Marigold Hotel
John Madden


7- Corações Sujos
Corações Sujos
Vicente Amorim

    
The Iron Lady
Phyllida Lloyd

    
5- Sombras da Noite
Dark Shadows
Tim Burton

        
4- Histórias Cruzadas
The Help
Tate Taylor


3- Tão Forte e Tão Perto
Extremely Loud and Incredibly Close
Stephen Daldry


2- Branca de Neve e o Caçador
Snow White and the Huntsman
Rupert Sanders


E a Vida Continua...
Paulo Figueiredo