E, assim como no filme protagonizado por Jack Nicholson, a grande força aqui está na forma como Polanski conduz uma trama que é ao mesmo tempo extremamente complexa e demasiado simples. O que poderia
ser uma história batida de conspiração, daquelas contadas aos montes em Hollywood, se transforma em um filme envolvente e elegante, carregado de tensão e de uma estranha melancolia. Por mais que torçamos pelo protagonista, ele jamais se transforma em um herói, no sentido tradicional do termo: o escritor sem nome de Ewan McGregor (excelente) é um sujeito absurdamente comum, e ganha nossa simpatia justamente por bater de frente com pessoas que estão dispostas a simplesmente esmagá-lo - algo que certamente farão. Exatamente como o Jake Gittes de Chinatown.
Essa aproximação entre os dois trabalhos é coroada com um final devastador, filmado com brilhantismo por Polanski (me refiro ao epílogo como um todo, do bilhete que passa de mão em mão à impactante última imagem). No alto de seus 76 anos, e mais de 35 anos depois de Chinatown, vivendo tudo o que está vivendo, o diretor consegue criar um momento cinematográfico que, arriscaria dizer, é tão memorável quanto ouvir a já icônica "Esquece, Jake. Isso é Chinatown".