segunda-feira, 3 de julho de 2017

Fala Comigo



A premissa de Fala Comigo remete a Terapia de Amor (2005), comédia romântica com Meryl Streep e Uma Thurman em que uma mulher de meia idade se envolve com o filho (bem mais jovem) de sua terapeuta, mas são outras as questões que movem esse primeiro longa-metragem de Felipe Sholl. O diretor busca amalgamar uma jornada de descoberta da sexualidade no fim da adolescência, vivida pelo personagem Diogo (Tom Karabachian), com o melancólico retrato de uma mulher solitária, Ângela (Karine Teles), recém-abandonada pelo marido. No primeiro quesito, Fala Comigo lembra outros filmes brasileiros recentes que abordam esse universo jovem, como As Melhores Coisas do Mundo (2010) e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014). Mas os dois personagens, cujo contato inicial é um tanto incomum – Diogo tem o hábito de ligar para as pacientes de sua mãe e se masturbar enquanto as escuta no telefone, sendo Ângela um dos alvos do rapaz –, se apaixonam, e Sholl passa a flertar com o clássico Ensina-me a Viver (1971), na maneira como tenta compreender e até mesmo se encantar com esse relacionamento inusitado.

O filme demonstra certa dificuldade de equacionar todas essas variáveis, por vezes parecendo não saber como resolver algumas das frentes narrativas abertas – especialmente a que envolve a sexualidade do melhor amigo de Diogo, bastante semelhante ao clima do curta-metragem de Sholl (2008), e a que trata da crise no casamento dos pais do protagonista. Mas o diretor acerta em cheio na forma como aproxima Diogo e Ângela, tornando seus respectivos universos comuns. Ela, mulher de mais de quarenta anos, acaba reencontrando a juventude de outrora no relacionamento com o rapaz, se comportando quase como uma adolescente, tanto por conta da idade dele, quanto por sua fragilidade emocional decorrente da recente separação.

Nesse movimento, Sholl traz Ângela para a zona de conforto de seu cinema, conseguindo se identificar com a personagem e provocar empatia por ela. Fala Comigo cativa, portanto, pelo tratamento carinhoso que dispensa aos protagonistas, ainda que careça de maior tempo para desenvolver adequadamente os dramas, também complexos e apenas rascunhados por Sholl, das figuras que os cercam.  


Fala Comigo 
Felipe Sholl, 2016

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