A
premissa de Fala Comigo remete a Terapia
de Amor (2005), comédia romântica com Meryl Streep e Uma Thurman em que uma
mulher de meia idade se envolve com o filho (bem mais jovem) de sua terapeuta,
mas são outras as questões que movem esse primeiro longa-metragem de Felipe
Sholl. O diretor busca amalgamar uma jornada de descoberta da sexualidade no
fim da adolescência, vivida pelo personagem Diogo (Tom Karabachian), com o
melancólico retrato de uma mulher solitária, Ângela (Karine Teles),
recém-abandonada pelo marido. No primeiro quesito, Fala Comigo lembra outros
filmes brasileiros recentes que abordam esse universo jovem, como As Melhores Coisas do Mundo (2010) e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014). Mas
os dois personagens, cujo contato inicial é um tanto incomum – Diogo tem o
hábito de ligar para as pacientes de sua mãe e se masturbar enquanto as escuta
no telefone, sendo Ângela um dos alvos do rapaz –, se apaixonam, e Sholl passa
a flertar com o clássico Ensina-me a
Viver (1971), na maneira como tenta compreender e até mesmo se encantar com
esse relacionamento inusitado.
O filme demonstra certa
dificuldade de equacionar todas essas variáveis, por vezes parecendo não saber
como resolver algumas das frentes narrativas abertas – especialmente a que
envolve a sexualidade do melhor amigo de Diogo, bastante semelhante ao clima do
curta-metragem de Sholl Tá (2008), e
a que trata da crise no casamento dos pais do protagonista. Mas o diretor
acerta em cheio na forma como aproxima Diogo e Ângela, tornando seus
respectivos universos comuns. Ela, mulher de mais de quarenta anos, acaba
reencontrando a juventude de outrora no relacionamento com o rapaz, se
comportando quase como uma adolescente, tanto por conta da idade dele, quanto
por sua fragilidade emocional decorrente da recente separação.
Nesse movimento, Sholl traz
Ângela para a zona de conforto de seu cinema, conseguindo se identificar com a
personagem e provocar empatia por ela. Fala Comigo cativa, portanto, pelo
tratamento carinhoso que dispensa aos protagonistas, ainda que careça de maior
tempo para desenvolver adequadamente os dramas, também complexos e apenas
rascunhados por Sholl, das figuras que os cercam.
Felipe Sholl, 2016
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