Há
uma tensão interessante em Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Dirigido
por Jon Watts, o filme tem a responsabilidade de trazer de volta a seus
melhores dias no cinema o herói que protagonizou o primeiro mega sucesso dessa
nova era de adaptações de HQ’s – Homem-Aranha
(2002), de Sam Raimi –, mas que cinco anos depois caiu em descrédito graças ao
horroroso Homem-Aranha 3 (2007),
também de Raimi, e não conseguiu a recuperação almejada pelo insosso reebot
comandado por Marc Webb – O Espetacular Homem-Aranha (2012) e a continuação O
Espetacular Homem-Aranha 2 (2014), essa última bastante irregular e
pontuada por algumas escolhas erradas, mas, ainda assim, subestimada. Ao mesmo
tempo, Watts e a trupe de roteiristas que o acompanha (além do próprio diretor,
há outros cinco responsáveis pelo texto) são obrigados a inserir Homem-Aranha:
De Volta ao Lar no gigantesco e absurdamente bem-sucedido universo
compartilhado da Marvel.
Essa obrigação acaba por puxar o
filme para o formato mediano que predomina nessa longa narrativa iniciada em Homem de Ferro (2008). Está-se aqui
longe do esplendor criativo de Raimi no magnífico Homem-Aranha 2 (2004): De Volta ao Lar tem o mesmo timing dramático e humorístico, o mesmo
ritmo e a mesma cara de todos os exemplares do MCU. No entanto, essa inserção
também libera Watts e a referida trupe de contar mais uma vez a mesma história
de origem do Homem-Aranha, substituindo-a por uma bem dosada relação com Tony
Stark (Robert Downey Jr.), ao contrário inclusive do que parecia indicar a
campanha publicitária. Não há excesso de Homem de Ferro em De Volta ao Lar;
trata-se, de fato, de um filme do Homem-Aranha.
O que torna tudo mais divertido. Ao optar por um
protagonista bem mais jovem que as encarnações anteriores do herói – Peter Parker
(Tom Holland) tem aqui quinze anos de idade – , o roteiro se contamina com a
leveza e a inocência próprias dessa fase da vida do personagem, ao mesmo tempo
que acentua a vulnerabilidade dele (apenas um garoto que ainda se empolga ao
conseguir montar uma Estrela da Morte de Lego) e, surpreendentemente, de seu
antagonista, o Abutre (Michael Keaton), sujeito que vive às margens, construindo
seu pequeno poder a partir das sobras deixadas pelas grandes batalhas travadas
pelos Vingadores. Como é sabido, Keaton já trafegou pelas adaptações
cinematográficas de HQs em momentos anteriores de sua carreira, tanto
interpretando o Batman nos dois ótimos filmes de Tim Burton, quanto satirizando
essa experiência em Birdman (2014).
Mas, curiosamente, a marginalidade do Abutre em Homem-Aranha: De Volta ao Lar
aproxima-o, guardadas as devidas proporções, de um dos vilões icônicos que Keaton enfrentou quando vestia a armadura de morcego: o repugnante e trágico Pinguim (Danny DeVito) de Batman – O Retorno (1992).
Spider-Man: Homecoming, 2017
Jon Watts
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