terça-feira, 4 de julho de 2017

Homem-Aranha: De Volta ao Lar



Há uma tensão interessante em Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Dirigido por Jon Watts, o filme tem a responsabilidade de trazer de volta a seus melhores dias no cinema o herói que protagonizou o primeiro mega sucesso dessa nova era de adaptações de HQ’s – Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi –, mas que cinco anos depois caiu em descrédito graças ao horroroso Homem-Aranha 3 (2007), também de Raimi, e não conseguiu a recuperação almejada pelo insosso reebot comandado por Marc Webb – O Espetacular Homem-Aranha (2012) e a continuação O Espetacular Homem-Aranha 2 (2014), essa última bastante irregular e pontuada por algumas escolhas erradas, mas, ainda assim, subestimada. Ao mesmo tempo, Watts e a trupe de roteiristas que o acompanha (além do próprio diretor, há outros cinco responsáveis pelo texto) são obrigados a inserir Homem-Aranha: De Volta ao Lar no gigantesco e absurdamente bem-sucedido universo compartilhado da Marvel. 

Essa obrigação acaba por puxar o filme para o formato mediano que predomina nessa longa narrativa iniciada em Homem de Ferro (2008). Está-se aqui longe do esplendor criativo de Raimi no magnífico Homem-Aranha 2 (2004): De Volta ao Lar tem o mesmo timing dramático e humorístico, o mesmo ritmo e a mesma cara de todos os exemplares do MCU. No entanto, essa inserção também libera Watts e a referida trupe de contar mais uma vez a mesma história de origem do Homem-Aranha, substituindo-a por uma bem dosada relação com Tony Stark (Robert Downey Jr.), ao contrário inclusive do que parecia indicar a campanha publicitária. Não há excesso de Homem de Ferro em De Volta ao Lar; trata-se, de fato, de um filme do Homem-Aranha.     

O que torna tudo mais divertido. Ao optar por um protagonista bem mais jovem que as encarnações anteriores do herói – Peter Parker (Tom Holland) tem aqui quinze anos de idade – , o roteiro se contamina com a leveza e a inocência próprias dessa fase da vida do personagem, ao mesmo tempo que acentua a vulnerabilidade dele (apenas um garoto que ainda se empolga ao conseguir montar uma Estrela da Morte de Lego) e, surpreendentemente, de seu antagonista, o Abutre (Michael Keaton), sujeito que vive às margens, construindo seu pequeno poder a partir das sobras deixadas pelas grandes batalhas travadas pelos Vingadores. Como é sabido, Keaton já trafegou pelas adaptações cinematográficas de HQs em momentos anteriores de sua carreira, tanto interpretando o Batman nos dois ótimos filmes de Tim Burton, quanto satirizando essa experiência em Birdman (2014). Mas, curiosamente, a marginalidade do Abutre em Homem-Aranha: De Volta ao Lar aproxima-o, guardadas as devidas proporções, de um dos vilões icônicos que Keaton enfrentou quando vestia a armadura de morcego: o repugnante e trágico Pinguim (Danny DeVito) de Batman – O Retorno (1992).


Homem-Aranha: De Volta ao Lar 
Spider-Man: Homecoming, 2017
Jon Watts

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