Selton Mello chega ao terceiro
longa como diretor bastante distante do que prometia ser seu cinema no início,
em Feliz Natal (2007). O componente
fortemente visceral, que ele próprio dizia buscar em Cassavetes, foi trocado
pela doçura no belo O Palhaço (2012),
característica agora acentuada em O Filme da Minha Vida. Trata-se aqui
de um filme mergulhado em nostalgia, que tenta, pelo cinema (referência
presente no título e no espaço físico da sala que exibe Rio Vermelho, de Howard Hawks), evocar memórias do passado de
descobertas, próprias da juventude, do protagonista Tony (Johnny Massaro): a
relação conturbada com o pai ausente (Vincent Cassel), a iniciação sexual e o
primeiro grande amor.
O problema de O
Filme da Minha Vida é que há, nesse movimento em direção à nostalgia,
um excesso de preocupação com ser sublime, transcendental, poético. Chama muita
atenção o contraponto entre as imagens fotografadas por Walter Carvalho, milimetricamente
calculadas para alcançar uma beleza extrema, e a absoluta simplicidade da
história contada. Falta, talvez, o mesmo esmero no desenvolvimento das relações
entre os personagens (aquele interpretado pelo próprio diretor, por exemplo,
tem a princípio relativo destaque na trama, até ser, repentinamente,
descartado) e na construção de uma narrativa mais sofisticada. Ou, então, que
se abraçasse essa simplicidade sem nenhuma vergonha, evitando a exuberância visual
excessiva e as muitas frases de efeito pretensamente profundas.
Ao menos, justiça seja feita, O
Filme da Minha Vida tem o mérito de abraçar o cinema, de se declarar
desavergonhadamente a essa arte em toda sua artificialidade. Algo que alguns
filmes brasileiros recentes ou não conseguem fazer, reproduzindo muito mais
estética e linguagem televisivas, ou parecem ter vergonha de fazer, apostando
num realismo duro, na aridez absoluta como único caminho possível de ser
seguido. Como as tantas comédias da Globo Filmes, que se parecem entre si em
sua absoluta falta de criatividade narrativa e visual, tais filmes sérios caem no mesmo problema, apenas
com o sinal da pretensão trocado. Não é o caso de O Filme da Minha Vida,
felizmente.
Selton Mello, 2017
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