sábado, 29 de julho de 2017

O Filme da Minha Vida


 

Selton Mello chega ao terceiro longa como diretor bastante distante do que prometia ser seu cinema no início, em Feliz Natal (2007). O componente fortemente visceral, que ele próprio dizia buscar em Cassavetes, foi trocado pela doçura no belo O Palhaço (2012), característica agora acentuada em O Filme da Minha Vida. Trata-se aqui de um filme mergulhado em nostalgia, que tenta, pelo cinema (referência presente no título e no espaço físico da sala que exibe Rio Vermelho, de Howard Hawks), evocar memórias do passado de descobertas, próprias da juventude, do protagonista Tony (Johnny Massaro): a relação conturbada com o pai ausente (Vincent Cassel), a iniciação sexual e o primeiro grande amor.

O problema de O Filme da Minha Vida é que há, nesse movimento em direção à nostalgia, um excesso de preocupação com ser sublime, transcendental, poético. Chama muita atenção o contraponto entre as imagens fotografadas por Walter Carvalho, milimetricamente calculadas para alcançar uma beleza extrema, e a absoluta simplicidade da história contada. Falta, talvez, o mesmo esmero no desenvolvimento das relações entre os personagens (aquele interpretado pelo próprio diretor, por exemplo, tem a princípio relativo destaque na trama, até ser, repentinamente, descartado) e na construção de uma narrativa mais sofisticada. Ou, então, que se abraçasse essa simplicidade sem nenhuma vergonha, evitando a exuberância visual excessiva e as muitas frases de efeito pretensamente profundas.

Ao menos, justiça seja feita, O Filme da Minha Vida tem o mérito de abraçar o cinema, de se declarar desavergonhadamente a essa arte em toda sua artificialidade. Algo que alguns filmes brasileiros recentes ou não conseguem fazer, reproduzindo muito mais estética e linguagem televisivas, ou parecem ter vergonha de fazer, apostando num realismo duro, na aridez absoluta como único caminho possível de ser seguido. Como as tantas comédias da Globo Filmes, que se parecem entre si em sua absoluta falta de criatividade narrativa e visual, tais filmes sérios caem no mesmo problema, apenas com o sinal da pretensão trocado. Não é o caso de O Filme da Minha Vida, felizmente.


O Filme da Minha Vida 

Selton Mello, 2017

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