Como Drive (2011), de Nicolas Winding Refn, Em Ritmo de Fuga tem em Caçada de Morte (1978), de Walter Hill,
uma importante fonte de inspiração. Baby (Ansel Elgort), seu protagonista, é da
mesma linhagem cool dos homens sem
nome que, como ele, dirigem para quadrilhas de criminosos, nos filmes de Refn e
Hill. Mas, aqui, Edgar Wright repagina esse universo, apostando não na estilização
visual e na narrativa lacônica de Drive,
mas na impressão de um ritmo acelerado e na construção de uma atmosfera mais pop, bastante próxima do cinema jovem
contemporâneo – e do que o próprio Wright já fez na carreira. Por exemplo:
enquanto os motoristas dos dois filmes anteriores mantêm-se calados quase o
tempo todo, cultivando uma postura misteriosa e distante, Baby tem
características semelhantes justificadas pelo hábito/necessidade de estar
constantemente ouvindo músicas com fones de ouvido, músicas essas que costuram Em Ritmo
de Fuga, ditando a aceleração da ação em cena; ao mesmo tempo, esse é
um personagem mais emocional, com um passado traumático e um futuro romântico para
causar empatia.
É interessante observar a existência
de certo fetiche com esse tipo de figura, que, no caso desses filmes, não se
confunde com fetiche pelos carros em si, tratados apenas como instrumentos de
um trabalho realizado com brilhantismo – ele sim extremamente valorizado. Os
motoristas de Caçada de Morte, Drive e Em Ritmo de Fuga passeiam
pelo mundo do crime, mas permanecem um pouco à margem dele, nunca se
reconhecendo totalmente como bandidos (e os filmes também não parecem muito
dispostos a reconhecê-los dessa forma). Assim, é permitido ao espectador torcer
por tais personagens, até porque todos os três têm seu momento de embate com um
verdadeiro vilão, um criminoso stricto
sensu – especificamente em Caçada de
Morte, o policial interpretado por Bruce Dern também coloca um pé no crime,
mas é apresentado por Hill como um sujeito muito pior que o protagonista; Em Ritmo de Fuga, por sua vez, conta não com um grande adversário do protagonista, mas com algumas figuras ameaçadoras que, em diferentes momentos do filme, exercem esse papel, sendo o psicopático Bats (Jamie Foxx) quem mais se aproxima da posição de nêmesis de Baby.
Trata-se, enfim, de um exemplar característico
do cinema de Wright, que se aproxima tanto de Todo Mundo Quase Morto (2004) e Chumbo
Grosso (2007), na atitude ao mesmo tempo satírica e reverencial ao gênero no
qual se inspira, quanto de Scott Pilgrim
Contra o Mundo (2010), na aposta no romantismo adolescente pop como elemento empático. Talvez falte
um pouco da criatividade visual desse último filme de Wright, ainda o ponto
mais alto de sua carreira, o que, no entanto, de certa forma é compensado pelo trabalho
sonoro primoroso de Em Ritmo de Fuga, que faz das músicas ouvidas por Baby peça
fundamental na condução da narrativa.
Baby Driver, 2017
Edgar Wright
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