segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Mommy


Eu Matei Minha Mãe, primeiro filme de Xavier Dolan, e Mommy, seu mais recente trabalho, tratam basicamente do mesmo tema: as dificuldades de uma mãe para criar sozinha seu filho adolescente. Mas o abismo de maturidade, dramática e estética, que separa as duas obras é espantoso. Enquanto a boa estreia de Dolan se perdia em meio a uma histeria visual irritante – histeria que, pelo que contam algumas vozes confiáveis, se aprofundou em seus filmes seguintes que não assisti –, Mommy é marcado por um absoluto controle estético de seu diretor e por passagens de imensa força dramática.

Dramaturgia e rigor estético que se fundem de maneira brilhante (ainda que simples) no filme: Dolan filma na razão de aspecto 1:1 personagens encurralados num mundo sem perspectivas, para abrir (ou melhor, escancarar) a tela quando eles têm algum vislumbre de felicidade – e os dois momentos em que isso ocorre estão, desde já, entre os mais lindos do cinema recente. Encanta também o carinho com que o diretor trata seus protagonistas. Deslocados por natureza, Diane (Anne Dorval), Kyla (Suzanne Clément) e Steve (Antoine-Olivier Pilon) formam um comovente núcleo familiar movido à base da loucura deste último. Loucura que condena – as consequências de se viver além das regras são implacáveis –, mas que também liberta.

A impressão que se tem ao assistir Mommy é de estar diante de um veterano filmando, tamanha a qualidade de seu trabalho. Mas Dolan continua sendo Dolan, um jovem de 25 anos que não tem medo de encher seus filmes de maneirismos visuais (o excesso de câmera lenta, por exemplo, que aqui funciona muito bem) e música pop. Tão jovem (na plenitude do termo) quanto seu companheiro de Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, o já octogenário Jean-Luc Godard.   

Mommy 
Mommy, 2014
Xavier Dolan

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