Eu Matei Minha
Mãe, primeiro filme de Xavier Dolan, e Mommy, seu
mais recente trabalho, tratam basicamente do mesmo tema: as dificuldades de uma
mãe para criar sozinha seu filho adolescente. Mas o abismo de maturidade,
dramática e estética, que separa as duas obras é espantoso. Enquanto a boa
estreia de Dolan se perdia em meio a uma histeria visual irritante – histeria
que, pelo que contam algumas vozes confiáveis, se aprofundou em seus filmes
seguintes que não assisti –, Mommy é marcado por um absoluto
controle estético de seu diretor e por passagens de imensa força dramática.
Dramaturgia e rigor
estético que se fundem de maneira brilhante (ainda que simples) no filme: Dolan
filma na razão de aspecto 1:1 personagens encurralados num mundo sem
perspectivas, para abrir (ou melhor, escancarar) a tela quando eles têm algum
vislumbre de felicidade – e os dois momentos em que isso ocorre estão, desde
já, entre os mais lindos do cinema recente. Encanta também o carinho com que o
diretor trata seus protagonistas. Deslocados por natureza, Diane (Anne Dorval),
Kyla (Suzanne Clément) e Steve (Antoine-Olivier Pilon) formam um comovente
núcleo familiar movido à base da loucura deste último. Loucura que condena – as
consequências de se viver além das regras são implacáveis –, mas que também
liberta.
A impressão que se tem ao
assistir Mommy é de estar diante de um veterano filmando,
tamanha a qualidade de seu trabalho. Mas Dolan continua sendo Dolan, um jovem
de 25 anos que não tem medo de encher seus filmes de maneirismos visuais (o
excesso de câmera lenta, por exemplo, que aqui funciona muito bem) e música
pop. Tão jovem (na plenitude do termo) quanto seu companheiro de Prêmio do Júri
no último Festival de Cannes, o já octogenário Jean-Luc Godard.
Mommy, 2014
Xavier Dolan
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