Como
Amantes, obra-prima que James Gray realizou em 2008, Era
Uma Vez em Nova York está alicerçado sobre um triângulo amoroso. Mas
se o primeiro é protagonizado por um homem (Joaquin Phoenix) dividido entre duas mulheres (Gwyneth
Paltrow e Vinessa Shaw), o segundo traz uma mulher (Marion Cotillard) que se encontra
disputada por dois homens (Phoenix e Jeremy Renner) e essa condição de gênero,
bem como o ambiente histórico hostil em que se passa a história, pesam muito no
desenrolar da trajetória da personagem.
Ewa,
imigrante polonesa que chega à Nova York de 1921 com sua irmã atrás do sonho
americano, logo é levada à prostituição por Bruno (Phoenix), figura trágica por
sua incapacidade de demonstrar o amor que acredita sentir pela mulher que explora. O terceiro vértice do triângulo
é o carismático mágico Orlando (Renner), que introduz alguma esperança na vida
da protagonista, movido pela paixão que nutre e por uma bondade aparentemente
inata. Mas ele não dura muito em cena, já que a felicidade permitida a Ewa é
limitada – não que Gray se regozije com isso, já que seu cinema é tão comovente
justamente pela cumplicidade que assume com os personagens na dor que
experimentam. Ewa conseguirá se livrar de Bruno, mas não sem deixar um rastro
de tragédia para trás.
Tragédia, aliás, que Cotillard traz nos olhos desde o momento no qual surge em cena. No entanto, cabe a Joaquin Phoenix mais uma vez interpretar o personagem mais triste de um filme de Gray. Afinal, a dignidade que ainda resiste em Ewa já se perdeu há muito tempo em Bruno – para ele, não há redenção possível, como fica claro no magnífico plano que encerra Era Uma Vez em Nova York: enquanto a imigrante continua em busca de alguma felicidade na América, agora mais uma vez ao lado da irmã, Bruno segue de volta para seu mundo degradado e para a inevitável destruição física. Gray usa um espelho embaçado – objeto recorrente em Era Uma Vez em Nova York, que ao mesmo tempo mostra seus personagens como distorções grotescas do que desejavam ser e os protege de ver o que realmente se tornaram – para criar uma belíssima split screen, que apresenta os destinos contrastantes dos dois protagonistas. Coisa de gênio.
James Gray
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