O título Cortinas
Fechadas faz referência ao
ponto de partida desse novo filme de Jafar Panahi (co-dirigido por Kambozia
Partovi): um homem se esconde com seu cachorro numa casa de praia, vedando
todas as entradas de luz para não ser descoberto. Mas remete também à situação atual
de Panahi, proibido de filmar pelo governo iraniano desde sua prisão, em 2010.
Espetáculo interrompido.
Cortinas Fechadas é sobre essa interdição a um artista. Em seu trabalho
anterior, o doloroso Isto Não
É Um filme, Panahi narrava para a câmera a história de um roteiro que
escrevera e chegava à conclusão de que a um filme não basta ser contado – ele
tem de ser filmado. Daí a dor experimentada por esse homem, impedido de exercer
seu ofício. Aqui, ele tenta, mesmo diante das limitações impostas, filmar uma
história (claustrofóbica, condizente com a realidade que vive fora das telas).
Mas desiste no meio. A criatividade persiste, os personagens ganham vida e
lutam pela atenção do seu criador, mas ele está enfraquecido pelo poder maior
que o oprime. Panahi entra em cena e passa a registrar seu próprio cotidiano,
feito de coisas pequenas demais diante de sua necessidade maior de produzir
arte. Vale interromper também o espetáculo de uma vida já sem sentido? O
suicídio chega a ser encenado, mas a imagem, rebobinada, evidencia a disposição
do diretor a resistir.
Nesse embate entre banalidade cotidiana e pulsão pela arte,
o primeiro polo parece vitorioso até certo ponto do plano que encerra Cortinas Fechadas: Panahi fecha
as grades da casa de praia, trancafiando lá dentro sua criatividade, e vai
embora. Vida que segue. No último instante, entretanto, já distante da câmera
que permanece estática no interior da casa, vemos o homem com seu cachorro,
personagens que abrem o filme e ocupam seu centro por um bom tempo, entrando no
carro do diretor e partindo com ele para um destino desconhecido. Panahi não se
entrega.
Cortinas Fechadas pode soar repetitivo para quem já assistiu a Isto Não É Um Filme. Mas não há como
criticar o diretor por falar do único tema que lhe é pertinente no momento. Repetir,
ininterruptamente e por meios clandestinos, a denúncia do arbítrio, é o que
Jafar Panahi pode fazer agora. E, claro, alimentar a esperança de que tal denúncia
produza algum efeito positivo sobre sua terrível situação.
Pardé / Closed Curtain, 2013
Jafar Panahi & Kambozia Partovi
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