sábado, 5 de abril de 2014

José Wilker, 1946-2014


 

Dia desses, paguei uma velha dívida com o cinema brasileiro ao finalmente assistir Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), clássico de Bruno Barreto. Apesar de o protagonismo na trama caber à Sônia Braga, é José Wilker quem rouba a cena com seu Vadinho, personagem malandro, viciado em jogos de azar, amante voraz e marido mau caráter que volta dos mortos para saciar a saudade de sua viúva.

A imensa tristeza pela partida inesperada de Wilker me faz pensar em como muitos conhecem tão pouco o trabalho desse grande ator, que parece mais lembrado por ser o comentador oficial da versão mutilada do Oscar exibida pela Globo todos os anos – ou, no máximo, pelo  Giovanni Improtta da novela Senhora do Destino. Quem assiste, hoje, a pérolas como Dona Flor e Seus Dois Maridos (que até 2010 ocupava o posto de maior sucesso financeiro da história do nosso cinema), Os Inconfidentes e Bye Bye Brasil, todas marcadas por grandes desempenhos de Wilker? E vale perguntar também: quem exibe esses filmes? Não a Globo, infelizmente (que, na próxima segunda-feira, exibirá como homenagem a Wilker justamente o spin-off cinematográfico de seu personagem no folhetim citado acima). 

E assim os grandes do cinema brasileiro vão morrendo e sendo lembrados simplesmente como atores de TV – nas homenagens post mortem, os filmes que fizeram aparecem como apêndices em suas carreiras. Sobram as memórias marginais dos cinéfilos inveterados (como Wilker, aliás), que jamais vão se esquecer de Tiradentes, Vadinho e Lorde Cigano.

2 comentários:

Emerson Silva disse...

A TV está matando os atores brasileiros, principalmente a Globo, como bem citou. Aliás a cobertura deste ano do Oscar na Globo não teve Wilker, mas sim um monte de mulheres que nunca ouvi falar comentando sobre moda. Moda? É triste, mas a TV brasileira está matando a arte cinematográfica, enquanto que nos EUA estão reinventando as artes com seus premiados seriados.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Como leigo que sou em TV, Emerson, tendo a concordar contigo. Enquanto nos EUA a televisão se consolida como uma alternativa artística diante dos pontos de estrangulamento da criatividade na indústria cinematográfica, no Brasil é ela que sufoca o cinema, impondo cada vez mais sua linguagem.