Chega a ser comovente a paixão de Peter Jackson pelo universo criado por J.R.R. Tolkien. É uma paixão que, claro, traz pontos positivos aos filmes do cineasta neozelandês ambientados na Terra-Média, mas que também os prejudica quando Jackson se mostra incapaz de simplificar para contar uma história que deveria ser simples. Se a dificuldade do diretor de se desprender desse mundo já aparecia nos muitos "finais" de O Retorno do Rei, na trilogia O Hobbit ela alcança níveis absurdos.
O Hobbit: A Desolação de Smaug consegue ser ainda mais inchado e prensioso que seu antecessor, o bom Uma Jornada Inesperada. Por incrível que pareça, Jackson parece não ter entendido o espírito juvenil e leve de O Hobbit. E aí se repete uma vontade irritante de emular a grandiosidade épica e a urgência de O Senhor dos Anéis, o que obriga a narrativa de A Desolação de Smaug a dividir seu espaço entre o envolvente confronto dos anões liderados por Thorin com o poderoso dragão do título e uma entediante busca de Gandalf pelo tal Necromante (também conhecido como Sauron). Se de fato nos interessamos pelo destino do rei dos anões diante da ameaça real que é Smaug, como se preocupar com o mago vivido por Ian McKellen ao se deparar com um inimigo muito mais poderoso, se já sabemos, pela trilogia O Senhor dos Anéis, que o personagem não perecerá?
Sobram também subtramas desnecessárias (o flerte entre o anão Kili e a elfa Tauriel, a disputa política na Cidade do Lago, com excessivo espaço sendo dado ao bobo e caricato personagem de Stephen Fry), que incham ainda mais a narrativa de A Desolação de Smaug, tornando-a chata, arrastada. Dois terços da trilogia O Hobbit já se foram e Peter Jackson ainda não conseguiur justificar sua existência enquanto tal. É triste dizer isso, mas tem se tornado cada vez mais penoso retornar à Terra-Média.
Nenhum comentário:
Postar um comentário