Woody Allen e as mulheres. Enquanto o diretor era merecidamente homenageado no Globo de Ouro 2014 - e Mia Farrow reacendia, na internet, as muitas polêmicas envolvendo acusações contra seu ex-marido -, a câmera passeava pela plateia presente na premiação, como que buscando, em vão, encontrar alguma atriz que não tivesse trabalhado com Allen. Dianne Wiest, Mariel Hemingway, Julia Roberts, Meryl Streep, Naomi Watts... todas foram conduzidas pelas mãos do diretor, em atuações memoráveis ou não, em grandes filmes ou apenas em obras não tão qualificadas de sua prolífica carreira. Woody Allen tem um talento particular para filmar histórias femininas e a premiação de Cate Blanchett por seu magnífico desempenho em Blue Jasmine, poucos minutos depois da homenagem feita a Allen, é mais uma mostra disso.
Blue Jasmine é uma espécie de releitura de Uma Rua Chamada Pecado, clássico teatral de Tennessee Williams transformado em clássico cinematográfico por Elia Kazan, em 1951. A personagem de Blanchett remete à Blanche DuBois de Vivien Leigh, ainda que sua trajetória não seja tão complexa quanto a da protagonista do filme de Kazan. Mas, mesmo como versão atenuada de DuBois, Jasmine é um belo presente de Allen para Blanchett - presente com o qual a atriz faz miséria. Ela carrega o filme nas costas, mergulhando de cabeça nos exageros dramáticos de uma mulher fútil e esnobe que perdeu tudo. Chora, surta, grita, sonha... E fala sozinha pelas ruas de San Francisco, numa possível referência (mais discreta que aquelas envolvendo Uma Rua Chamada Pecado) à Carlotta Valdes de Um Corpo que Cai (seria o livro com Hitchcock na capa, que aparece na cena em Jasmine conhece o diplamata interpretado por Peter Saarsgard, uma mera coincidência, um adereço de cena sem nenhuma importância na narrativa?). O melhor de Kazan e Hitchcock condensado numa mesma personagem, escrita especialmente para Cate Blanchett? Woody Allen realmente sabe como agradar suas atrizes (e disso, desconfio que nem Mia Farrow discordaria).
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