terça-feira, 6 de outubro de 2009

[festival do rio 2009: boletim 5]

A Fita Branca
Das Weisse Band, 2009
Michael Haneke


Não é fácil gostar desse novo filme de Michael Haneke. Uma vez gostando, também não é lá muito fácil entender o porquê. O diretor austríaco opta aqui por uma estrutura bastante clássica, sem grandes brincadeiras com a linguagem cinematográfica (como em dois de seus melhores filmes, Funny Games e Caché), o que não significa que ele não demonstre um total controle desta (sendo a construção da absurda tensão em uma narrativa longa, sufocante, inquietante, o melhor exemplo disso). Nesse sentido, para quem espera rompantes de “genialidade” de Haneke aqui, o filme pode ser mesmo frustrante – todas as cenas são construídas com uma imensa calma, acompanhadas por uma narração em off que pode até soar um tanto didática. Ainda assim, A Fita Branca é um filmaço. Irresistível. É carregado de um insuportável tom claustrofóbico, reforçado por sua opressora fotografia em preto e branco, acompanhado de uma tensão crescente que incomoda ainda mais diante da probabilidade de, vindo de Haneke, muito pouco daquilo receber uma explicação no final (até porque a própria narração do personagem do professor dá a entender, logo no início, que aqueles acontecimentos nunca foram explicados). Nesse sentido, A Fita Branca lembra Caché, em sua exacerbação de tensões latentes em uma sociedade através de pequenos acontecimentos que nunca são totalmente compreendidos. Aqui, no entanto, o que Haneke faz é uma perturbadora investigação sobre a maldade, tanto num sentido geral, quanto no que diz respeito a alguns acontecimentos posteriores em terras germânicas (como diz o próprio narrador). É um filme de horror sem sê-lo, no sentido mais tradicional do termo. Mais uma vez, em um filme do diretor, muito pouco é mostrado. Mas muita coisa é dita.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o trailer deste filme e sou fã do cinema de Haneke. Gostei do que você escreveu e manterei minhas expectátivas altas.