Carey Mulligan, além de ser uma graça, é uma ótima atriz. E Alfred Molina está inspiradíssimo como o pai da protagonista, numa das melhores interpretações de sua carreira - ao menos é uma das mais bem-humoradas, construindo um personagem que beira o irresistível. No entanto, não consigo ver mais motivos para todo o hype em torno desse An Education (que, ao que parece, no Brasil receberá o título absurdo de Sedução), inclusive credenciando-o como um dos favoritos ao próximo Oscar. É um filme correto sobre juventude, sobre as descobertas de uma garota em sua passagem para a vida adulta, mas nada mais que isso. Está tudo lá em seu devido lugar: o pai tradicionalista mas de bom coração, a mãe disposta a ajudar a filha, fazendo um contraponto ao marido, o amor romântico que revelará não ser apenas isso, causando algumas frustrações importantes para o amadurecimento da garota. Nada que não já se tenha visto antes. Ou seja, é um filme simpático, gostoso de se assistir, com uma protagonista ótima, mas que, com seu clima exageradamente up (esperava algo bem mais denso, confesso), não consegue ser muito mais do que isso. Nada original. Uma pena, já que um tom mais sério poderia tornar essa história bem mais marcante. Caso ganhe algo no Oscar, será mais um equívoco para a já longa conta da Academia.
The Burning Plain
The Burning Plain, 2008
Guillermo Arriaga
Acho que Guillermo Arriaga está precisando repensar um pouco sua atuação no cinema. Com sua bem-sucedida parceria com Alejandro González Iñarritu rompida - parceria que, ou mal ou bem, resultou em alguns bons filmes, sendo Amores Brutos o melhor deles - Arriaga opta por estrear na direção com uma história sua que simplesmente segue a fórmula já explorada à exaustão em seus roteiros anteriores. Novamente tem-se várias histórias paralelas que, de alguma forma, se cruzarão, no entanto, aqui, o resultado fica abaixo de quase todos os seus trabalhos no cinema (talvez só seja melhor do que o fraquíssimo O Búfalo da Noite). Em The Burning Plain ele até tenta, em uma certa medida, subverter essa fórmula já tão desgastada, quando apresenta algumas das viradas de sua história (que, na verdade, são percebidas por um olhar mais atento com certa rapidez, antes mesmo que aconteçam), no entanto, além de ser uma subversão pela metade (já que, de um jeito ou de outro, Arriaga continua dependente desse tipo de estrutura narrativa), falta ao filme emoção (chega a ser inacreditável a inexpressividade de uma atriz geralmente bastante competente como Charlize Theron, tamanho o subaproveitamento de seu talento), veracidade e, principalmente, personagens minimamente interessantes. Os de Kim Basinger e Joaquim de Almeida, talvez aqueles que se salvam nesse mar de desinteresse e frieza, recebem um espaço bem menor do que mereciam. Nesse sentido, por mais que se queira, não há como defender Arriaga. Seu The Burning Plain é morno, insosso.
Vincere
Vincere, 2009
Marco Bellochio
Havia algo de misterioso em torno desse Vincere que me impedia de assisti-lo nesse Festival do Rio 2009. Primeiramente, perdi a sessão do filme de Marco Bellochio que havia programado devido a um engarrafamento, que fez com que eu chegasse ao cinema 15 minutos após o início da sessão. Pois bem, resolvi dar uma segunda chance à história de Ida Dalser e Benito Mussolini, e insisti em assistir Vincere. Não deveria. Fui assustadoramente agredido (verbalmente) por três pessoas, em três momentos distintos da sessão, pelos motivos mais bizarros que se possa imaginar (não vou aqui entrar em maiores detalhes porque essa história já me aborreceu demais, talvez mais do que deveria). Logo, assisti a Vincere. Mas não assisti-o. Melhor: perdi algumas cenas, fiquei aborrecido no meio do filme, o que fez com que não conseguisse concentrar-me no que se passava na tela, e cheguei mesmo a cogitar abandonar a sala, algo que nunca faço.
Dito isso, porque estou escrevendo esse texto, então? De fato não sei se posso considerar que assisti ao filme de Bellochio, mas vou fazer aqui alguns apontamentos sobre o pouco que consegui apreender. Vincere me pareceu um belo filme. Seu maior acerto está na maneira como o diretor estrutura sua narrativa, apresentando-a num ritmo acelerado (mas não confuso) que torna o filme irresistível a quem o assiste, e pontuando com um lado musical marcante, operístico, carregado em dramaticidade. Assim, o que poderia parecer exagerado, mesmo melodramático, se revela uma escolha estética bastante acertada de Bellochio. O filme é pontuado por algumas cenas também marcantes (a começar por aquela que abre Vincere), e por um inteligente uso de imagens reais do ditador fascista, especialmente quando nos é permitido pela primeira vez ouvi-lo discursando (o que gera, logo em seguida, outra cena marcante, do filho imitando o pai). Giovanna Mezzogiorno, belíssima, rouba a cena como Ida Dalser, especialmente na segunda metade do filme, quando está já enclausurada, mas o ator que interpreta Mussolini (pai e filho) também é muito bom (e, principalmente quando dá vida ao Benito pai, lembra muito um jovem Robert De Niro). Ou seja, numa nova oportunidade, eu preciso reassistir (ou assistir pela primeira vez) Vincere. Ainda que morrendo de medo de algo desagradável acontecer novamente.
P.S.: só para acrescentar mais um capítulo à minha saga com o filme de Marco Bellochio, Vincere foi escalado para a repescagem do Festival. No domingo a noite, quando já não estarei mais no Rio...
3 comentários:
Mais duras críticas à dois filmes nos quais eu apostava muito (os dois primeiros).
Cara,
Você é o cara vítima daquela confusão surreal sobre gripe suína?
Ótimo blog, vou acompanhá-lo.
Sim, Eduardo, sou eu...
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