Comecei com o pé esquerdo o Festival do Rio 2009. Brilho de uma Paixão, da neozelandeza Jane Campion, é um drama de época correto, bem produzido, dono de algumas belas imagens - e que conta com uma boa dupla de protagonistas, especialmente a ótima Abbie Cornish (que tem feições que lembram bastante as de Nicole Kidman). No entanto, o filme é de uma chatice impressionante. Em sua primeira metade, a narrativa até flui bem, chegando a ser admirável a calma com Campion desenvolve o amor entre o poeta John Keats e a jovem Fanny Brawne, mas, quando o romance finalmente se concretiza, o aborrecimento toma conta. Uma série de idas e vindas amorosas é filmada sem a menor paixão, e a obviedade do que se vê na tela chega a ser irritante. Em seu epílogo, Brilho de uma Paixão até recupera um pouco de sua qualidade inicial, graças, novamente, a Cornish, que entrega duas belas cenas (a reação de Fanny ao destino de Keats e a sequência que encerra o filme), no entanto, àquela altura, a vontade de que o filme simplesmente termine já tornou-se irresistível, e esses bons momentos passam quase que completamente despecebidos. Não pude evitar de pensar sobre a possível qualidade que essa história alcançaria nas mãos de um diretor como Joe Wright, que já fez dois belos trabalhos em longas de época (Orgulho e Preconceito e principalmente Desejo e Reparação), ambos carregados de um frescor impressionante - que é justamente o que mais falta a esse Brilho de uma Paixão.
Che 2 - A Guerrilha
Che: Part Two, 2008
Steven Soderbergh
Como havia dito em meu texto sobre O Argentino, acho admirável esse empreendimento de Steven Soderbergh sobre a vida de Che Guevara. Respeitoso, apaixonado por seu retratado, mas não mitificador, e dono de pequenas cenas de grande beleza. E, se o primeiro filme pecava pelo excesso de detalhismo no olhar sobre a guerrilha que levaria à tomada do poder em Cuba, o que tornava-o arrastado em alguns momentos, essa segunda parte parece resolver completamente esse problema, e apresentar-se como o que um filme sobre Guevara deve ser: belo e violento, terno e brutal. Apaixonante. Soderbergh continua a acompanhar o dia-a-dia dos guerrilheiros, no entanto, agora ele insere letreiros que situam o espectador na passagem do tempo na selva boliviana, o que faz com que, conhecendo-se o destino daqueles personagens, o filme transforme-se em uma trágica e melancólica contagem regressiva. Esse clima de tristeza perpassa, ainda que sutilmente, toda a narrativa do filme. A Guerrilha ganha então tons de urgência, de thriller político, sem ter de, para isso, apelar para maneirismos com a câmera ou montagem acelerada: Soderbergh continua contemplativo, mas agora elevando a tensão da história que conta. E Benicio Del Toro, que já encantava no primeiro filme por sua caracterização contida e convicta, aqui comove profundamente com o retrato de um homem movido por seus ideais, mesmo quando à beira da morte. A cena, já no final de A Guerrilha, entre Che e o soldado que o guarda é o exemplo máximo da potência de sua interpretação - e do poder que a figura de Guevara carregava.
Um comentário:
Uma pena sobre o trabalho de Campion. Mas adorei ler sua opinião quanto à Che. Amei a primeira parte.
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