O que dizer de um filme que, ao chegar ao fim, lança o espectador para fora do cinema com um enorme sorriso no rosto? Não, ao contrário do que é proclamado dentro de sua própria narrativa, Bastardos Inglórios não é a obra-prima de Quentin Tarantino (é chato, e repetitivo, dizer isso, mas 15 anos depois, Pulp Fiction continua imbatível), mas é mais um resultado irresistível de seu talento como diretor e de sua cinefilia inveterada. Bastardos Inglórios, antes de qualquer coisa, inicia e termina com duas sequências memoráveis. A de abertura é um cartão de visitas da interpretação memorável de Christoph Waltz, e também um lembrete ao espectador desavisado de que está-se diante de um filme de um grande artífice dos diálogos - a capacidade com que Tarantino constrói uma tensão crescente e insuportável, quase que unicamente baseando-se nas falas de seus personagens, é de uma genialidade absurda. Já a de encerramento é a coroação da outra grande interpretação do filme, a de Brad Pitt, e é justamente aquela responsável pelo incontornável sorriso no rosto de quem o assiste. No meio, está um filme que talvez peque pela falta de humor em alguns momentos - chegando mesmo a aparentar um exemplar sério de cinema de guerra -, mas que se recupera completamente justamente quando retoma essa veia cômica mordaz de seu diretor (sendo a cena de Pitt falando italiano uma das mais hilárias do cinema recente). Um filme, desnecessário dizer, carregado de personagens e de falas memoráveis. Um filme que, justamente quando assume-se como a grande brincadeira que é (em suma, como um filme de Quentin Tarantino), cresce absurdamente, e ganha mesmo o direito (ou melhor, assume o dever) de "assassinar" a História, em nome da construção de uma narrativa impagável. Tarantino, sem nenhum pudor, mata então a História, e grita "dane-se!". E nós (inclusive eu, historiador) gritamos juntos.
O Menino Peixe
El Niño Pez, 2009
Lucía Puenzo
Assim como em seu longa de estreia, o razoável XXY, Lucía Puenzo parte aqui de uma história de figuras marginais, heterodoxas - o que poderia render filmes um tanto interessantes, ousados, subversivos -, para acabar trilhando caminhos demasiadamente óbvios. O Menino Peixe, que é baseado em livro escrito pela própria diretora, consegue, entretanto, a proeza de ser ainda mais previsível que seu antecessor. O problema do cinema de Puenzo é sua necessidade de soar importante, de demonstrar uma certa sensibilidade para com as tais figuras marginais referidas anteriormente, sendo que, na realidade, ela é uma diretora de talento escasso. Aqui, tudo é ruim. O elenco é mal conduzido, entregando atuações bastante preguiçosas (e em O Menino Peixe não há sequer um Ricardo Darín para ao menos dar alguma credibilidade ao filme, como ocorria em XXY), mesmo no caso de Inés Efron, que estivera muito bem como protagonista do filme anterior de Puenzo; a narrativa é frouxa, com idas e vindas no tempo mal costuradas e sem razão para existirem - e ainda culminando em uma cena esdrúxula com um tiroteio que parece estar ali somente para justificar uma possibilidade de fuga para as protagonistas. Sem contar que a tal história do menino peixe que dá nome ao filme não faz lá muito sentido (ou ao menos é muito mal explicada), parecendo, no fim das contas, com mais uma tentativa da diretora de mostrar sua almejada sensibilidade, colocando um pouco de "poesia" em seu filme. Preguiça. Essa é a palavra-chave para definir o cinema de Lucía Puenzo, e, especialmente, esse O Menino Peixe.
2 comentários:
Nossa, Wallace, assisti "Bastardos Inglórios" ontem e amei! Darei o meu jeito para arrumar um tempinho e escreverei sobre ele muito em breve. Eu tb amei o assassinato à história, feito pelo o Tarantino, hehe. Foi uma surpresa e tanto, mas muito empolgante. E, realmente, a cena inicial e a cena final são impagáveis. Abraço!
Eu achei fantástico o Bastardos. E eu fui ao cinema esperando um filme bem menos autoral do Quentin, mas me surpreendi, tá tudo ali. Gostei muito, pra mim o melhor do ano até agora.
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