Austrália
Australia, 2008
Baz Luhrmann
Baz Luhrmann sempre foi pretensioso e exagerado. No entanto, mesmo tendo conhecimento disso, Austrália ainda assusta por seu tamanho e intenções. Na verdade, em boa parte de sua narrativa, o filme funciona muito bem: é profundamente clichê sim, tem personagens estereotipados também, e conta uma história já vista e revista inúmeras vezes, porém, como já havia ficado claro em seus três filmes anteriores, Luhrmann tem um imenso tato para trabalhar com esses lugares-comuns, transformando-os em aceitáveis e mesmo adoráveis (como em Moulin Rouge, e na maior parte de Austrália).
A questão é que, na maior parte do tempo, o filme é uma grande, bela e divertida homenagem de Luhrmann a grandes clássicos de Hollywood, tanto nas referências mais óbvias que possui (O Mágico de Oz, Era Uma Vez no Oeste) quanto no estilo grandioso adotado, que lembra muito, especialmente, ... E o Vento Levou. O diretor trafega com elegância por esses grandes clássicos do cinema, criando cenas verdadeiramente impressionantes, demonstra um imenso bom humor em diversos momentos, e consegue transformar o casal vivido por Hugh Jackman e Nicole Kidman (ambos muito bem em cena) em personagens apaixonantes, por mais clichês que eles sejam. Mesmo que algumas escolhas de Luhrmann soem irritantes, especialmente o personagem aborígene Rei George e as chatíssimas canções cantadas pelo menino Nullah, quase tudo funciona à perfeição no filme, até a chegada do que seria seu "primeiro final", quando a missão de levar os gados ao litoral australiano finalmente se cumpre (numa grandiosa e empolgante sequência). Até aqui, sentimo-nos diante de um velho épico romântico hollywoodiano, torcendo pelo amor do carismático e apaixonado casal de protagonistas (que, como manda a regra, não se entendem no início, mas acabam percebendo-se feitos um para o outro) e contra a dupla de vilões malvados, vidos por David Wenham e Bryan Brown, e nos encantando com a coragem do grupo de heróis que aceita uma missão tida como quase impossível, ao mesmo tempo que admiramos a força e beleza de uma cultura perseguida, mas ainda resistindo.
Mas aí Luhrmann e seus roteiristas introduzem na trama a Segunda Guerra Mundial, e Austrália desanda. Tudo o que, até ali, funcionava maravilhosamente bem como uma homenagem a uma forma de fazer cinema que parece ter se perdido no tempo, passa a ser um filme "sério", um drama de guerra com grandes pretensões. Todo o bom humor vai embora, a narrativa se prolonga mais do que deveria, os clichês se tornam irritantes e o constrangimento pelo que se vê na tela toma conta. A emoção genuína que se era possível sentir com a história de amor dos personagens de Jackman e Kidman é substituída por encontros e desencontros do casal que soam extremamente forçados, culminando numa previsível reunião à beira de uma última ameaça, encarnada por um já exageradamente caricatural Wenham. E aí, a única saída é lamentar que o filme não tenha acabado bem antes, e lamentar, principalmente, que, depois de 7 anos de espera por um novo filme de Baz Luhrmann, o resultado tenha ficado tão aquém do esperado, ainda que, por muitos momentos, estivesse perto de alcançar o satisfatório. Pretensão, nas mãos corretas, pode fazer bem, como o próprio Luhrmann já demonstrou. Mas é preciso saber dosá-la.
4 comentários:
E aí, tudo bem?
Acabei de te indicar em meu blogue para um selo :D
Até mais e parabéns pelo teu blogue!
Hum... mais um filme que deixarei pra assistir somente quando for lançado em dvd. A impressão que tenho é que ele tem vários elementos clichês, como vc mesmo falou sobre alguns personagens, porém acho que dependendo do estado de espírito com que confira o filme, ele pode funcionar bem, até pq dependendo da forma como os clichês são usados, não me sinto nada incomodado, muitas vezes até me agradam (e espero que seja o caso de "Austrália"). Mas realmente essa conferida ficará mais pro futuro. Minha prioridade atual é assistir "O curioso caso de benjamin button". Depois volto aqui, quando tiver conferido este último. Abraço!
depois de tantas críticas.
Desisti.
Filmes duvidosos como esse ficam melhor em dvd.
Assim será.
Pois é, Gustavo, concordo contigo em termos. Se esperasse pelo dvd seria uma boa economia de dinheiro. No entanto, é um filme que, por sua grandiosidade, talvez funcione menos ainda na TV.
E ao menos foi meu primeiro Baz Luhrmann no cinema ...
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