Paul Verhoeven é um sujeito meio incompreendido. Robocop, de 1987, era uma grande e genial sátira ao cinema policial norte-americano, com seus heróis fascistóides e culto à violência. Mas poucos entenderam assim, e o filme logo se transformou em mais um lucrativa franquia de ação, ganhando duas continuações. Dez anos depois, o diretor holandês foi mais explícito em sua crítica à mentalidade bélica norte-americana: fez Tropas Estelares, ficção-científica meio non-sense, cheia de grandes seqüências de ação, e onde os heróis são soldados (cidadãos) que vestem-se como oficiais nazistas para combater insetos gigantes de um planeta distante. A questão é que, novamente, poucos entenderam o filme dessa forma, tudo foi visto como um futuro distante e imaginário, e Tropas Estelares também se transformou naquilo que criticava, ganhando duas continuações, um desenho animado e jogos de videogame.
É claro que, quando assisti ao filme pela primeira vez, há mais de dez anos atrás, tive-o apenas como uma boa diversão, me empolguei com as cenas de ação, torci pelos protagonistas e senti ódio dos insetos gigantes. E Tropas Estelares caiu no esquecimento em minha memória cinéfila. Há alguns dias, através do blog "Cinefilia", tive acesso a uma lista da revista francesa "Chronicart", que trazia os 10 melhores filmes entre os anos de 1997 e 2007, e eis que no meio de trabalhos de gente como David Lynch, Stanley Kubrick, Terrence Mallick, Gus Van Sant, Wong Kar-Wai e M. Night Shyamalan lá estava Tropas Estelares. A vontade de revê-lo, que já era grande, tornou-se então irresistível.
Bem, revisto depois de tanto tempo, o filme cresceu bastante. Obviamente, todo esse tempo teve muito mais efeito sobre mim (afinal de contas, tinha uns 12 anos quando vi o longa pela primeira vez) do que sobre o trabalho de Verhoeven em si, mas é interessante como uma obra como Tropas Estelares, afastada de seu contexto original, das pressões e expectativas envolvendo seu lançamento (já que estamos tratando aqui de uma superprodução), tem uma capacidade imensa de se tornar grande. É bem verdade que alguns efeitos visuais envelheceram um pouco, mas isso acaba contribuindo, estranhamente, para o clima bizarro do filme. Além disso, Verhoeven teve a sacada de montar um elenco todo formado de jovens atores, desconhecidos na época, que chamam mais atenção por sua beleza física do que por seus talentos, o que acaba também contribuindo para o tom fake do longa, onde tudo é propositalmente exagerado (e é curioso notar como nenhum dos protagonistas teve uma carreira bem-sucedida posteriormente). No entanto, o que realmente torna Tropas Estelares um grande filme é a visão ácida de seu diretor. A forma como ele utiliza a propaganda militarista, a manipulação e o sensacionalismo midiáticos e a mentalidade bélica dos norte-americanos na trama para construir seu arcabouço crítico é, no mínimo, genial. E aí, os uniformes da SS nos soldados-heróis-cidadãos são somente a cereja no delicioso bolo que é Tropas Estelares.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Um Novo Olhar: Tropas Estelares
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6 comentários:
Exato! Amo esse filme e o Verhoeven tem um tesao pelos generos hollywoodianos e coloca uma dosagem grande de corrosão nos filmes que nao é brincadeira. A satira nesse filme é enorme, e é triste que tanta gente nao perceba isso.
Queria muito rever Showgirls, que vi na epoca do lançamento e nao entendi como detonaram tanto o filme. Mas nao encontro em dvd... E tem A Espiã tb, razoavelmente menosprezado por boa parte da critica, mas é um filmão.
Abraços!
É, também tenho vontade de ver Showgirls, que é meio lendário ... e A Espiã é um filmão mesmo.
Nossa eu não vi esse filme, mas pelo jeito tenho que dar um jeito de ver, certo?
Acredito que nunca assisti este filme, se o vi foi quando era muitíssimo novo, pois lendo seu texto não me lembrei de nada, hehehe. Mas pelo que vc falou o filme parece ser bastante bom, acho até que vou conferi-lo agora em janeiro. Enquanto dezembro foi um mês pra tentar assistir mais aqueles que estrearam no Brasil em 2008, janeiro está sendo o mês que decidi dedicar para alguns clássicos... se tiver na minha locadora, eu alugarei e depois passo aqui pra comentar o que achei. Abraço!
Diego e Bruno, assistam, vale muito a pena.
Abraços.
É um dos meus filmes favoritos!
Pra quem nasceu nos anos 90 com certeza viu ele no SBT, mas realmente só passamos a entender a obra depois de adultos.
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