terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um Novo Olhar: Tropas Estelares

[tropas estelares]

Tropas Estelares
Starship Troopers, 1997
Paul Verhoeven

Paul Verhoeven é um sujeito meio incompreendido. Robocop, de 1987, era uma grande e genial sátira ao cinema policial norte-americano, com seus heróis fascistóides e culto à violência. Mas poucos entenderam assim, e o filme logo se transformou em mais um lucrativa franquia de ação, ganhando duas continuações. Dez anos depois, o diretor holandês foi mais explícito em sua crítica à mentalidade bélica norte-americana: fez Tropas Estelares, ficção-científica meio non-sense, cheia de grandes seqüências de ação, e onde os heróis são soldados (cidadãos) que vestem-se como oficiais nazistas para combater insetos gigantes de um planeta distante. A questão é que, novamente, poucos entenderam o filme dessa forma, tudo foi visto como um futuro distante e imaginário, e Tropas Estelares também se transformou naquilo que criticava, ganhando duas continuações, um desenho animado e jogos de videogame.
É claro que, quando assisti ao filme pela primeira vez, há mais de dez anos atrás, tive-o apenas como uma boa diversão, me empolguei com as cenas de ação, torci pelos protagonistas e senti ódio dos insetos gigantes. E Tropas Estelares caiu no esquecimento em minha memória cinéfila. Há alguns dias, através do blog "Cinefilia", tive acesso a uma lista da revista francesa "Chronicart", que trazia os 10 melhores filmes entre os anos de 1997 e 2007, e eis que no meio de trabalhos de gente como David Lynch, Stanley Kubrick, Terrence Mallick, Gus Van Sant, Wong Kar-Wai e M. Night Shyamalan lá estava Tropas Estelares. A vontade de revê-lo, que já era grande, tornou-se então irresistível.
Bem, revisto depois de tanto tempo, o filme cresceu bastante. Obviamente, todo esse tempo teve muito mais efeito sobre mim (afinal de contas, tinha uns 12 anos quando vi o longa pela primeira vez) do que sobre o trabalho de Verhoeven em si, mas é interessante como uma obra como Tropas Estelares, afastada de seu contexto original, das pressões e expectativas envolvendo seu lançamento (já que estamos tratando aqui de uma superprodução), tem uma capacidade imensa de se tornar grande. É bem verdade que alguns efeitos visuais envelheceram um pouco, mas isso acaba contribuindo, estranhamente, para o clima bizarro do filme. Além disso, Verhoeven teve a sacada de montar um elenco todo formado de jovens atores, desconhecidos na época, que chamam mais atenção por sua beleza física do que por seus talentos, o que acaba também contribuindo para o tom fake do longa, onde tudo é propositalmente exagerado (e é curioso notar como nenhum dos protagonistas teve uma carreira bem-sucedida posteriormente). No entanto, o que realmente torna Tropas Estelares um grande filme é a visão ácida de seu diretor. A forma como ele utiliza a propaganda militarista, a manipulação e o sensacionalismo midiáticos e a mentalidade bélica dos norte-americanos na trama para construir seu arcabouço crítico é, no mínimo, genial. E aí, os uniformes da SS nos soldados-heróis-cidadãos são somente a cereja no delicioso bolo que é Tropas Estelares.

6 comentários:

Hélio Flores disse...

Exato! Amo esse filme e o Verhoeven tem um tesao pelos generos hollywoodianos e coloca uma dosagem grande de corrosão nos filmes que nao é brincadeira. A satira nesse filme é enorme, e é triste que tanta gente nao perceba isso.

Queria muito rever Showgirls, que vi na epoca do lançamento e nao entendi como detonaram tanto o filme. Mas nao encontro em dvd... E tem A Espiã tb, razoavelmente menosprezado por boa parte da critica, mas é um filmão.

Abraços!

Wallace Andrioli Guedes disse...

É, também tenho vontade de ver Showgirls, que é meio lendário ... e A Espiã é um filmão mesmo.

Diego Rodrigues disse...

Nossa eu não vi esse filme, mas pelo jeito tenho que dar um jeito de ver, certo?

Bruno disse...

Acredito que nunca assisti este filme, se o vi foi quando era muitíssimo novo, pois lendo seu texto não me lembrei de nada, hehehe. Mas pelo que vc falou o filme parece ser bastante bom, acho até que vou conferi-lo agora em janeiro. Enquanto dezembro foi um mês pra tentar assistir mais aqueles que estrearam no Brasil em 2008, janeiro está sendo o mês que decidi dedicar para alguns clássicos... se tiver na minha locadora, eu alugarei e depois passo aqui pra comentar o que achei. Abraço!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Diego e Bruno, assistam, vale muito a pena.
Abraços.

Leo Oliveira disse...

É um dos meus filmes favoritos!
Pra quem nasceu nos anos 90 com certeza viu ele no SBT, mas realmente só passamos a entender a obra depois de adultos.