Entre Quatro Paredes
In the Bedroom, 2001
Todd Field
Existem filmes que, decididamente, possuem um momento certo a serem assistidos. Na primeira vez que assisti Entre Quatro Paredes, pouco depois do Oscar 2002 (onde concorreu em 5 categorias, incluindo melhor filme), me lembro de não ter conseguido enxergar ali nada mais do que um dramalhão chato, interminável e entediante. A única coisa que, naquela época, me chamou a atenção foi o desempenho de Tom Wilkinson. Dessa forma, simplesmente não conseguia compreender o porquê de tantas lembranças na principal premiação do cinema, e ficara feliz por, ao menos, o filme de Todd Field ter saído da cerimônia de mãos vazias.
Pois bem. É impressionante como, revendo-o tanto tempo depois, Entre Quatro Paredes se revela um outro filme. Na verdade, na primeira hora do longa, cheguei a ter a impressão de que desgostaria novamente do que estava vendo: até a tragédia que se abate sobre os personagens principais, Entre Quatro Paredes é um filme apenas bom, aparentemente sem grande densidade dramática e até mesmo esquemático. Chega a ser irritante, por exemplo, a forma como o personagem de William Mapother é retratada, beirando o caricatural. No entanto, a partir da virada na trama, tudo muda. É a partir daqui que o filme revela ter sim, e muita, densidade dramática, e que seu elenco mostra o quão brilhante é. Sobre Sissy Spacek e Tom Wilkinson, fica difícil dizer quem está melhor. Matt e Ruth Fowler manifestam a dor de sua perda de formas diferentes, e o casal Wilkinson/Spacek compreende isso muito bem: enquanto a personagem da atriz é um poço de rancor e mágoa, prestes a explodir (e que, quando explode, gera uma das cenas mais fortes do filme), o de Wilkinson comove com suas tentativas de seguir em frente com sua vida, até perceber a impossibilidade de realizar tal coisa. Nesse sentido, há pequenos momentos em que o ator exprime a genialidade de seu trabalho, como na cena em que tem uma discussão com sua esposa interrompida por uma jovem vendendo chocolates ou no carteado com um grupo de amigos.
E é o personagem de Wilkinson que protagoniza o controverso epílogo de Entre Quatro Paredes, que, por mais deslocado da história que assistimos até ali, acaba se revelando totalmente coerente com a proposta de Field. Afinal de contas, a cena mostra uma ação inesperada por parte do protagonista, portanto, nada mais acertado que ela se revele deslocada do resto da trama. Além disso, tal epílogo, que deveria ser catártico, acaba sendo ainda mais genial por humanizar o personagem de Mapother, o que acaba dando ao ato de Wilkinson um sentido dúbio, bastante apropriado com o que está sendo mostrado.
Essa sensação de dubiedade, aliás, perpassa Entre Quatro Paredes, e se revela fundamental para a construção da complexidade de sua trama. Há coisas na vida, que simplesmente não conseguimos definir como certas ou erradas, e Todd Field compreende isso maravilhosamente. No fim das contas, cheguei a conclusão de que o filme merecia sim ser premiado no Oscar, talvez até como melhor filme, já que é superior ao vencedor daquele ano, Uma Mente Brilhante (ainda que, dentre todos os indicados, o melhor ainda seja A Sociedade do Anel). Às vezes o tempo faz mesmo um enorme bem.
Um comentário:
concordo contigo!
Na época tb nao achei grande coisa e revendo passei a gostar bem mais.
Todos os atores estão soberbos.
todos.
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