O oscarizado documentário O Equilibrista (2008), de James Marsh (mesmo sujeito que
realizaria, alguns anos depois, o insuportável A Teoria de Tudo), já contara as façanhas do francês Philippe
Petit, que Robert Zemeckis revisita agora em A Travessia. No entanto, se aquele ótimo filme parecia limitado por
certas convenções de uma maneira meio televisiva de se tratar o gênero
documentário (depoimentos, imagens de arquivo e reconstituições ilustrativas), A Travessia alça voo na liberdade que a
narrativa ficcional lhe dá e na inventividade visual de seu diretor. Há no
filme um toque de magia essencial a uma história protagonizada por Petit.
O tom farsesco, circense, do equilibrista francês, quase um
ilusionista, casa perfeitamente com o cinema de Zemeckis (e com a atuação exagerada de Joseph Gordon-Levitt), também um mágico a
seu próprio modo, diretor quase sempre preocupado em proporcionar ao espectador
experiências visuais (construídas a partir de trucagens permitidas pela
linguagem cinematográfica) acachapantes. Foi assim em De Volta para o Futuro, Uma
Cilada para Roger Rabbit, A Morte lhe
Cai Bem, Forrest Gump e mesmo em
suas não tão bem-sucedidas experiências com a animação. Em A Travessia, Zemeckis faz uso de quantidades imensas de efeitos
visuais e de um esplêndido 3D para nos colocar onde O Equilibrista não conseguia: ao lado de Petit realizando sua
mágica de atravessar, por sobre um cabo, o espaço que separava as duas torres
do World Trade Center. Por mais que as fotografias, imagens de arquivo e
palavras do próprio Petit, no filme de Marsh, evocassem seu feito, estar no
cabo com ele, vendo o que ele provavelmente viu lá de cima, é algo que só um cinema
espetacular – e de ficção – como o de Zemeckis consegue proporcionar. Não à toa, é em seu longo epílogo que o filme, até ali apenas uma experiência ágil, agradável e divertida, se aproxima do sublime.
A Travessia
também é, mais até que O Equilibrista,
uma bela homenagem ao símbolo de Nova York derrubado por terroristas em
setembro de 2001. Aqui, outra vez, o filme de Zemeckis se sai melhor que o de Marsh:
enquanto o documentário tinha a sua disposição apenas imagens de arquivo do
World Trade Center, a ficção recria os prédios de maneira a torná-los uma
imagem do presente, permanente, viva na tela. Quando essa vida começa a se desvanecer, no último plano do filme (após Petit sair de cena com um olhar de
profunda dor), A Travessia deixa
no espectador um nó na garganta difícil de ser desfeito.
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