terça-feira, 16 de outubro de 2012


[festival do rio - parte 7]

César Deve Morrer 
Cesare Deve Morire, 2012
Paolo Taviani & Vittorio Taviani


É muito bonito ver os agora octogenários irmãos Taviani, figuras tão vinculadas a um cinema político italiano que parecia esquecido em algum lugar da década de 1970, realizarem uma obra ao mesmo tempo tão atual e tão em sintonia com sua filmografia como César Deve Morrer. Os diretores lançam um olhar delicadíssimo para o cotidiano de um grupo de detentos que encenam "Júlio César", de Shakespeare, numa prisão de segurança máxima, fazendo de sua narrativa uma bela demonstração do que a arte é capaz de fazer com as pessoas. Não há espaço para discursos piegas ou epifanias artificiais: aqueles homens brutalizados e sem perspectivas, interpretados por não-atores de rostos marcantes e expressivos, desenvolvem gradualmente uma sensibilidade artística, ao relacionar, durante os ensaios para a peça, o universo shakespeareano às suas próprias histórias de vida (é particularmente comovente o momento em que o sujeito responsável por interpretar Brutos se lembra de um amigo do passado no momento em que tenta decorar um fala de "Júlio César").
César Deve Morrer é um filme simples, mas dotado de uma imensa capacidade de dar voz aos seus personagens, de compreender, com a câmera, seus mais profundos e conflituosos sentimentos. Uma pequena obra-prima que funciona também como excelente e criativa releitura contemporânea do próprio texto de Shakespeare.

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