quinta-feira, 11 de outubro de 2012


[festival do rio - parte 6]

Tabu 
Tabu, 2012
Miguel Gomes


Tabu pode ser visto como dois filmes em um. Em sua primeira parte, intitulada "Paraíso Perdido", acompanhamos Pilar, uma melancólica mulher de meia idade que, em meio a seu cotidiano enfadonho pontuado vez ou outra por alguma solitária sessão de cinema, se aproxima de sua já bastante idosa vizinha, figura decadente e um tanto irritante. Aurora, a vizinha, coadjuvante dessa metade inicial de Tabu, acaba se revelando como a verdadeira protagonista do filme de Miguel Gomes (diretor do aclamado Aquele Querido Mês de Agosto) ao ter sua juventude narrada por um grande amor daquela época na impressionante segunda parte da obra, chamada de "Paraíso". Abrindo mão completamente dos diálogos, Gomes conta uma triste história de amor proibido que, no fundo, funciona também como metáfora da perda dos territórios coloniais africanos por Portugal - o paraíso africano de exotismo e amores impossíveis perdido por Aurora, seguido de seu retorno amargurado para Lisboa, acompanha o movimento de descolonização da África portuguesa.
Ao completar, diante do espectador, a trajetória de decadência de Aurora e ao estruturar sua segunda metade como uma contação de história bem próxima àquela que Pilar assiste num cinema em seu prólogo, Tabu se mostra um filme uno, coeso e coerente em suas duas partes aparentemente tão distantes. Miguel Gomes encerra sua narrativa lançando para fora do cinema um espectador totalmente imerso na atmosfera melancólica do filme - algo semelhante ao que ocorrera com Pilar no já citado prólogo - e com a certeza de ter visto mais uma verdadeira joia do cinema português contemporâneo.

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