[festival do rio 2012 - parte 4]
Beasts of the Southern Wild, 2012
Benh Zeitlin
As bestas do sul selvagem a que se referem o título original de Indomável Sonhadora são as pessoas que vivem isoladas por uma barragem em algum lugar remoto dos Estados Unidos. Mais especificamente, a protagonista Hushpuppy e seu pai Wink, que a criou para ser um pequeno animal, forte, resistente e brutal. Num determinado momento, por exemplo, Wink impede que um amigo ensine à menina como preparar um carangueijo para comer, exigindo que ela o faça de maneira selvagem, destroçando o animal com as mãos e bebendo seu sangue. Pode parecer horrorizante, mas o maior mérito do filme de Benh Zeitlin é justamente não julgar seus personagens, figuras decadentes e sujas que encontram felicidade no domínio que exercem sobre aquele mundo. E está em Hushpuppy, interpretada pela magnífica Quvenzhané Wallis, o melhor exemplo disso: por mais comovente que seja ouvi-la confessar a falta que sente de ser embalada no colo por alguém, de ser cuidada, a personagem é, graças à criação dada por seu pai, uma pequena besta sobrevivente, capaz de olhar nos olhos de qualquer ameaça e enfrentá-la sem sentir medo. Nesse sentido, a analogia com os ameaçadores animais pré-históricos auroques é, ainda que um pouco óbvia, plenamente coerente com a proposta do filme.
Lembrando um pouco A Árvore da Vida no uso da música e de algumas belas imagens da natureza e Onde Vivem os Monstros pela ligação metafórica entre uma protagonista infantil e figuras monstruosas, Indomável Sonhadora é um filme delicado e respeitoso no olhar que lança para figuras carregadas de uma fascinante brutalidade.
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