Lá no primeiro filme da franquia Pânico, o personagem de Jamie
Kennedy listou as regras dos filmes de terror slasher,
dentre as quais estava o veto absoluto ao sexo. No mundo de Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Halloween e congêneres, funciona a lógica do
“transou, morreu”. Corrente do
Mal, em certa medida, é a radicalização dessa premissa, já que os
personagens do filme de David Robert Mitchell têm que lidar com uma maldição
fatal transmitida pelo sexo. Moralismo tacanho? Metáfora da AIDS?
Pouco importa, na verdade. Importa mais a
capacidade impressionante desse jovem diretor de criar climas. Corrente do Mal já começa macabro, numa cena
assustadora num subúrbio americano que chega a ser bela de tão bem filmada: um
único plano, uma câmera panorâmica que esquadrinha aquele bairro e capta a fuga
desesperada de uma jovem – do quê, não sabemos. Tanto essa estranheza, a
sensação de que há algo de anormal acontecendo, quanto o estilo visual apurado predominam no restante da narrativa. Corrente
do Mal faz uso cuidadoso do espaço da cena, apostando muito mais na mise-en-scène que no excesso de cortes e
sustos tão comum no cinema de horror contemporâneo. Também ajudam na construção
do clima pesado do filme uma imagem frequentemente enfumaçada, que talvez aponte para a natureza
onírica daquilo tudo (os personagens estariam apenas experimentando um terrível
pesadelo?) e a trilha sonora cheia de sintetizadores, que remete diretamente às
músicas de John Carpenter.
Carpenter, aliás, parece ser uma importante referência para Mitchell em Corrente do Mal, e não só pelo uso da trilha sonora. A forma como o terror absoluto se instala num subúrbio aparentemente tranquilo lembra muito Halloween, assim como é difícil não pensar na obra-prima Enigma de Outro Mundo diante de um inimigo construído sobre a ideia de contaminação e que assume as mais diversas formas humanas. Mas Mitchell foi além de simplesmente ter Carpenter no horizonte: ele fez um filme com personalidade própria, maduro, apavorante e aberto a interpretações, digno dos melhores momentos de seu velho mestre no cinema de horror.
Carpenter, aliás, parece ser uma importante referência para Mitchell em Corrente do Mal, e não só pelo uso da trilha sonora. A forma como o terror absoluto se instala num subúrbio aparentemente tranquilo lembra muito Halloween, assim como é difícil não pensar na obra-prima Enigma de Outro Mundo diante de um inimigo construído sobre a ideia de contaminação e que assume as mais diversas formas humanas. Mas Mitchell foi além de simplesmente ter Carpenter no horizonte: ele fez um filme com personalidade própria, maduro, apavorante e aberto a interpretações, digno dos melhores momentos de seu velho mestre no cinema de horror.
David Robert Mitchell
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