Há um grande filme escondido nesse novo Quarteto Fantástico. Na verdade, nem tão escondido assim, já que
sua ótima primeira metade denuncia os acertos do diretor Josh Trank no olhar
que lançou para o universo dessa família de super-heróis. Está ali uma bem-vinda
seriedade, que destoa imensamente do humor tolo dos filmes de Tim Story sem
perder de vista a empolgação e o frescor próprios da juventude de seus
protagonistas. Está ali um certo cuidado no desenvolvimento dos personagens,
que consegue extrapolar estereótipos – Victor von Doom, por exemplo, é
apresentado como um jovem problemático e de temperamento difícil, mas, ainda
assim, apenas um jovem, que também experimenta situações divertidas com seus
colegas de pesquisa e futuros antagonistas – e construir relações verossímeis.
Trank investe bastante tempo nisso, adiando ao máximo a introdução do elemento
fantástico em seu filme, e o resultado é positivo: o espectador se aproxima dos
personagens, compreende minimamente suas motivações, se interessa por seus
destinos, ainda que nenhum dos atores esteja além do correto (o que não deixa
de ser um desperdício, considerando o talento de gente como Miles Teller,
Michael B. Jordan e Jamie Bell).
Daí vem a também muito boa sequência da viagem
interdimensional e do acidente, seguida da descoberta, pelos personagens, dos
poderes que agora possuem. Trank também faz isso bem (afinal, ele tem um filme
só sobre adolescentes lidando com poderes recém-adquiridos), exprimindo com
competência a dor física experimentada por Reed Richards, Johnny Storm e Ben
Grimm. Mas, infelizmente, o que vem na sequência carrega Quarteto Fantástico ladeira abaixo. Se sobrou tempo de tela para a
dinâmica inicial entre os personagens, faltou muito para o uso militar de Ben e
Johnny e para a fuga pelo mundo de Reed – passagens com potencial para gerar
conflitos interessantes, mas que no filme de Trank aparecem como clipes rápidos
e desimportantes. O mesmo vale para o retorno de Doom e seu confronto com os
heróis: tudo é apressado demais, as motivações do vilão não ganham o devido
destaque e ele é descartado sem maior cerimônia. O diretor afirmou que houve
forte interferência do estúdio e que seu filme era outro – algo não muito
difícil de acreditar, considerando o histórico da Fox (Demolidor, os dois Quarteto
Fantástico anteriores). Ficará restrito à imaginação um Quarteto Fantástico com duas horas e
meia de duração, com Richards vivendo experiências inusitadas enquanto aprende
a controlar seus poderes em diferentes partes do planeta e com Grimm e Storm
vivendo os conflitos de colocar seus dons à serviço do big stick americano. Uma ficção científica séria, mas protagonizada
por adolescentes, como imaginou Trank, e talvez dirigida por alguém com mais
poder sobre seus filmes e igualmente identificado com o gênero... um Christopher Nolan, quem sabe... Aliás, ter Nolan à frente de um Quarteto Fantástico não é mesmo uma má ideia, por mais irrealizável que ela pareça ser.
De qualquer forma, esse novo filme dos heróis não é tão ruim
quanto se vem apregoando por aí, mesmo com todos seus problemas. É um tanto
curioso, aliás, ver um bocado de fãs dos estúdios Marvel detonando o trabalho
de Trank. O que o diretor fez aqui não destoa muito dos Homens de Ferro e afins
que tantos idolatram hoje em dia. Neles também encontramos narrativas
apressadas (Capitão América: O Primeiro
Vingador, alguém?), pouco cuidado com os vilões (alguém se lembra de como Caveira
Vermelha, Monge de Ferro e Whiplash foram sumariamente descartados, no primeiro
Capitão América e nos dois primeiros Homem de Ferro, respectivamente?) e
subaproveitamento de tramas interessantes. Ao menos o novo Quarteto Fantástico é um filme inteiro, com começo, meio e fim, e
não um pedaço de um quebra-cabeças supostamente genial que nunca se completa. Mas...
é melhor não discutir com marveletes, certo?
Josh Trank
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