É
curioso como a trilogia Mad Max,
apesar de muito bem-sucedida na criação de um universo facilmente reconhecível,
com visual e mitologia próprias que influenciaram enormemente o cinema de ação
nos anos seguintes (das bobagens de Kevin Costner, Waterworld e O Mensageiro,
a The Rover, mais recente porrada
australiana), não é composta por grandes filmes. Entre a simplicidade
contagiante do original de 1979 (que ainda não trazia totalmente desenhado o
futuro pós-apocalíptico tão associado posteriormente à franquia) e o
constrangimento de Mad Max Além da Cúpula
do Trovão (1985), passando pelo razoável Mad Max 2: A Caçada Continua, faltava um filme realmente digno do potencial do mundo
caótico imaginado por George Miller. Isso até Mad Max: Estrada da Fúria.
A
narrativa de Estrada da Fúria é composta praticamente por uma única
sequência de ação, uma perseguição ininterrupta de duas horas que não dá ao
espectador muitas pausas para respirar. Mas o que poderia ser apenas a repetição
de um vício de tantos blockbusters
contemporâneos, como Transformers e O Homem de Aço, aqui se revela um acerto
absoluto, por representar o mergulho de cabeça de Miller na loucura do mundo
que criou. Não há espaço para a infantilização oitentista de um Além da Cúpula do Trovão, com sua tribo
de crianças fofinhas, parentes próximas dos Eworks de O Retorno de Jedi, do Short Round de Indiana Jones e o Templo da Perdição e dos garotos perdidos de Hook – A Volta do Capitão Gancho. Estrada
da Fúria é brutal, raivoso, adulto. E como tampouco há as restrições orçamentárias
do primeiro Mad Max, Estrada da
Fúria tem a grandiosidade talvez sempre desejada por Miller.
O resultado é uma aterradora
e bela sinfonia do caos, regida com maestria pelo diretor, e que ainda
surpreende por ter no coração de sua trama um grupo de mulheres empoderadas,
cuja líder (Charlize Theron) se sobrepõe até mesmo ao icônico Max Rockatansky (Tom
Hardy, na difícil tarefa de substituir Mel Gibson). O feminismo inesperado de Estrada
da Fúria é a cereja num bolo delicioso, um filme alucinante que injeta na
franquia Mad Max a insanidade da qual
ela sempre careceu, mesmo estando presente no apelido de seu protagonista desde o início.
Mad Max: Fury Road, 2015
George Miller
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