Não faz muito tempo que Gerard Depardieu causou polêmica ao, para escapar do projeto do governo socialista francês de taxação de altas fortunas, mudar sua residência fiscal (primeiro para a Bélgica, depois para a Rússia) e tecer duras críticas aos mandatários de seu país natal. Consta que o ator chegou a fazer campanha pela reeleição de Nicolas Sarkozy em 2012, quando o então presidente foi derrotado por François Hollande. Na primeira cena de Bem-Vindo a Nova York, ainda antes dos créditos, Depardieu é questionado por um grupo de entrevistadores sobre as razões para ter aceitado interpretar Dominique Strauss-Kahn, que até o escândalo sexual retratado no filme de Abel Ferrara era o favorito do Partido Socialista para concorrer nas eleições presidenciais de 2012. Talvez a pergunta fosse desnecessária, conhecendo o passado recente do ator (ele responde, genericamente, que não gosta do sujeito e que não confia em políticos).
Concordando ou não com as posições de Depardieu (a mim elas soam carregadas daquele mesmo senso comum sobre a política que tantas vezes vemos nas elites brasileiras, além de claramente movidas por interesses pessoais, financeiros), é difícil não se impressionar com Bem-Vindo a Nova York. A câmera despudorada de Ferrara não se intimida diante de um mito do cinema francês como Depardieu, registrando seu corpo decadente, envelhecido e deformado por uma imensa barriga. É através da relação do corpo do protagonista com os corpos-objetos das mulheres que ele devora (numa antropofagia nada oswaldiana) em quartos de hotéis que Bem-Vindo a Nova York se revela como uma potente reflexão sobre a manifestação sexual, carnal do poder.
Mas Ferrara vai além: na segunda metade de seu filme, ele coloca Depardieu travando ácidas discussões com Jacqueline Bisset, que interpreta a milionária esposa de Strauss-Kahn (o político francês, no filme, é chamado de Deveraux), e vez ou outra interpelando o espectador, quebrando a quarta parede com olhares cheios de arrogância e cinismo. O diretor norte-americano completa, assim, seu painel decadentista das elites econômicas e políticas que governam o mundo. Bem-Vindo a Nova York é uma porrada muito bem dada da qual não se recupera facilmente.
Mas Ferrara vai além: na segunda metade de seu filme, ele coloca Depardieu travando ácidas discussões com Jacqueline Bisset, que interpreta a milionária esposa de Strauss-Kahn (o político francês, no filme, é chamado de Deveraux), e vez ou outra interpelando o espectador, quebrando a quarta parede com olhares cheios de arrogância e cinismo. O diretor norte-americano completa, assim, seu painel decadentista das elites econômicas e políticas que governam o mundo. Bem-Vindo a Nova York é uma porrada muito bem dada da qual não se recupera facilmente.
Welcome to New York, 2014
Abel Ferrara
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