terça-feira, 20 de maio de 2014

Sob a Pele


 

Que homem não aceitaria carona de uma mulher deslumbrante e seguiria com ela, sem nenhum medo ou desconfiança, até um canto obscuro qualquer, desejoso de devorá-la? Que homem não pagaria ingresso para ver Scarlett Johansson completamente nua numa tela grande, pouco importando o filme?

A lógica que move a narrativa desse fascinante Sob a Pele, de Jonathan Glazer, é a mesma que faz muitos se dirigirem às salas de cinema em busca de um relance de nudez total de uma das atrizes mais desejadas da contemporaneidade. Daí a importância de ter a fetichizada Johansson como protagonista. E em ambos os casos, o choque diante do que se encontra é gigantesco. Enquanto aqueles caroneiros sedentos por sexo são devorados sucessivamente pela personagem alienígena, o espectador desavisado é hipnotizado, tragado para dentro de um filme estranho, desconfortável, nada óbvio. Glazer inverte, duplamente, o jogo da devoração.

Dentro da trama de Sob a Pele, no entanto, tal jogo é "desinvertido", a partir do momento que a personagem de Johansson se identifica com uma de suas vítimas e inicia processo de humanização. De sob a pele da alien devoradora de homens surge uma mulher como qualquer outra, vulnerável às mais terríveis violências. Enfim, devorada. Como as grandes ficções-científicas, Sob a Pele vai além do seu universo fantasioso para tocar, incomodamente, em questões um tanto reais.


Sob a Pele 
Under the Skin, 2013
Jonathan Glazer

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