quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


[a dama de ferro]

A Dama de Ferro 
The Iron Lady, 2011
Phyllida Lloyd


Quando se fala em Margaret Thatcher, a primeira coisa que me vem à mente é um prefácio da graphic novel V de Vingança, escrito por Alan Moore, no qual ele relata a violência exercida pelo Estado inglês sobre sua população, no período do governo da tal "dama de ferro". Além disso, ela é a governante que provavelmente encarna com mais força a ideologia neoliberal, a qual também não sou muito afeito. Por tudo isso, dá para imaginar minha resistência inicial ao filme A Dama de Ferro (e minha incontida satisfação ao saber da recepção não muito favorável a ele entre a crítica especializada).
Bem, mas a verdade é que, após assisti-lo, fiquei com a sensação de que queria sim que este fosse um grande filme. Thatcher, goste-se ou não, é indiscutivelmente uma figura política de importância central nas últimas décadas, e seu longo e conturbado governo merecia ser transformado em bom cinema político. O problema é que quase tudo foi feito da forma errada. O roteiro de A Dama de Ferro opta, estranhamente, por dar mais atenção à personagem nos dias de hoje, senil e sofrendo de alucinações com o marido morto (uma das coisas mais aborrecidas do filme, diga-se de passagem, já que o personagem de Jim Broadbent é simplesmente insuportável), enquanto salpicam na tela trechos de sua vida política. Com isso, há pouco espaço para um olhar mais complexo sobre seus anos de governo e o que é mostrado acaba soando como mero endeusamento de Thatcher - algo, a meu ver, extremamente problemático. É lógico que o filme tem direito de assumir a posição política que quiser, mas me parece que seus realizadores não têm muita noção do que estão fazendo. E, de qualquer forma, trata-se de uma personagem importante e polêmica demais para receber uma abordagem quase hagiográfica - e covarde - como essa. Talvez bastasse um Stephen Frears no lugar da diretora de Mamma Mia! (por que logo ela, meu deus?!) para A Dama de Ferro ser o grande filme que tanto uma personagem como Margaret Thatcher como uma intérprete como Meryl Streep (assombrosa do início ao fim do longa e única responsável por salvá-lo do completo desastre) mereciam.

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Entendo. Só verei o filme pela Streep mesmo...