segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


[millennium - os homens que não amavam as mulheres]

Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres 
The Girl with the Dragon Tattoo, 2011
David Fincher


Sejamos sinceros: a versão sueca do primeiro livro da trilogia Millennium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, é um filme medíocre. Suspense raso, perfeito para as noites de sábado no Super Cine da Rede Globo, e que tem como único mérito ter revelado a nova queridinha de Hollywood, Noomi Rapace. Confesso que o filme, aliás, diminuiu consideravelmente minha disposição de conhecer os livros de Stieg Larsson, e ter lido, pouco depois de tê-lo assistido, a notícia de que seria refilmado em inglês sob o comando de David Fincher me fez crer muito mais na possibilidade de uma mancha na filmografia do sujeito responsável por obras-primas como Seven, Clube da Luta, Zodíaco e A Rede Social do que na capacidade do diretor de fazer um grande trabalho a partir daquele material.
Felizmente, estava errado: Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres é um filmaço. É um thriller como só Fincher sabe fazer, cru e cruel, e que ainda tem o surpreendente mérito de, ao optar por manter a história se passando na Suécia, mesmo com os personagens falando inglês, conseguir transformar aquele ambiente gélido quase em um personagem da trama, algo que o filme sueco não faz. No entanto, é mesmo na abordagem dispensada ao material e aos personagens que Fincher engole a versão anterior. O fascismo, tanto em sua presença no passado da Suécia quanto na lógica que rege as relações estabelecidas com as personagens femininas na história contada, é abordado com desenvoltura e maturidade, sem meios-termos - estamos diante de um filme que traz para o centro de sua narrativa a violência em estado bruto. E o olhar lançado sobre a principal personagem feminina de Millennium, a icônica Lisbeth Salander, é algo próximo da genialidade. Fincher e Rooney Mara carregam na fragilidade de Salander, o que torna sua agressividade ainda mais impactante. A atriz, que já foi o Rosebud de Mark Zuckerberg em A Rede Social, toma conta do filme sem cerimônias, mesmo diante do ótimo desempenho do outro protagonista, Daniel Craig. Nunca o título inglês da obra, The Girl with the Dragon Tattoo, me pareceu tão perfeito para defini-la - o filme de Fincher é sobre Salander e pertence a Mara.

2 comentários:

Rafael Carvalho disse...

Eu ainda gosto bem mais dessa versão norte-americana do que a sueca, mas cá pra nós o roteiro desse filme ainda continua capenga, a investigação parece ter furos, os personagens fazem mais suposições sobre o que poderia ter acontecido do que necessariamente chegam a conclusões comprovadas, e sempre acertam. Além disso, a história particular de ambos os protagonistas tomam outro espaço do filme, tirando o foco do objeto central (e Lisbeth é personagem muito rica pra ficar espremida naquele roteiro, espero que nos próximos filmes ela tenha mais espaço).

Mas claro que Fincher injetou agilidade, ritmo e um tom mais dark à história, o que também pode ser visto como uma certa estratégia para esconder as falhas que o roteiro possui. Enfim, acho um bom filme, mas só.

Wallace Andrioli Guedes disse...

A história também não me encanta, Rafael, acho apenas ok. O que realmente me fez gostar do filme do Fincher foi a atmosfera pesada que ele imprimiu, a violência que perpassa sua narrativa, e a Rooney Mara, claro.