segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


[os descendentes]

Os Descendentes 
The Descendants, 2011
Alexander Payne


O cinema de Alexander Payne se enquadra no que poderíamos chamar de indie com pedigree. Ao menos desde As Confissões de Schmidt, suas narrativas são construídas sobre personagens médios, figuras apartadas de alguma forma do mundo em que vivem, e que passam por um processo de auto-conhecimento e transformação (ainda que sem grandes catarses). Schmidt, Sideways e esse Os Descendentes são daqueles filmes que, apesar de manterem os pés fincados na raiz independente de seu diretor, estão sempre um nível acima da maior parte do que é produzido nesse nicho, primordialmente por serem obras carregadas de delicadeza e maturidade.
Não há nada de muito diferente ou ousado em Os Descendentes, mas o cuidado com que Payne apresenta os dramas vividos por seus personagens, permanecendo o tempo todo num registro minimalista, sem grandes rompantes de emoção (o que acaba gerando alguns belos momentos), é absolutamente admirável - apesar de não chegar a uma narrativa de não-ação à lá Sofia Coppola, o diretor consegue evitar, na maior parte do tempo, exageros dramáticos, apostando sempre no mais simples, dando vida a um filme que soa bastante sincero. Quem mais se beneficia dessa sua delicadeza é George Clooney, que, despido da persona de galã de meia-idade que naturalmente envolve a maior parte de seus trabalhos como ator, entrega um desempenho cheio de pequenas nuances, carregado de uma fragilidade comovente. Payne também é daqueles raros diretores capazes de transformar um mega-astro em uma figura meramente comum diante de nossos olhos - Clooney não foi o primeiro, Jack Nicholson passou por processo ainda mais radical em As Confissões de Schmidt -, com o simples e justíssimo propósito de fazer grandes filmes sobre o que há de mais simples na vida. Conseguiu de novo.

3 comentários:

Yandara Moreira disse...

De fato, Wallace, concordo que o trabalho do diretor nos permita ver o personagem ao invés de Clooney, tarefa difícil, como vc apontou, quando se tem um ator que para muitos define a decisão inclusive de assistir ou não ao filme (já bem dizia Drummond sobre a indecisão no Méier...)Preciso dizer que a cena final é linda e, apesar de toda linearidade e tratamento comportado da narrativa, foi naquele pequeno momento, sem diálogos, explicações ou comoções, que o filme me fisgou completamente. Ali eu me convenci de que Payne faz muito com pouco.

Rafael Carvalho disse...

Também adorei o filme. Payne filma com uma simplicidade incrível, mas tem maturidade, bons personagens e um roteiro redondinho que dá gosto de ver. Equilibra o tom pesado e o comentário cômico com muita precisão. Não tem como não adorar o filme. Shailene Woodley é uma belezinha.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Dona moça Yandara, a cena final é bela em sua economia dramática, mas acho que meu momento favorito é quando Clooney se despede de sua esposa. Ali, como no resto do filme, Payne e seu protagonista fazem muito com muito pouco, como você bem disse, e arrancam emoção verdadeira de uma cena que poderia facilmente se tornar melodramática. Um dos grandes filmes do ano, sem dúvidas.

Rafael, eu acho que Shailene merecia uma indicação ao Oscar de coadjuvante.