domingo, 6 de agosto de 2017

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas


 

Com Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, Luc Besson retorna à ficção-científica, gênero no qual fez, há exatos vinte anos, o ótimo O Quinto Elemento e com o qual flertou no recente Lucy. Mas, diferentemente desses dois filmes, marcados por admiráveis rompantes de criatividade – Lucy, sobretudo, é totalmente contaminado por uma lógica do absurdo que é levada a extremos bem interessantes –, Valerian peca por simplesmente condensar em sua narrativa elementos de célebres sci-fis, emulando-as sem conseguir repetir sua qualidade: o casal de protagonistas (Dane DeHaan e Cara Delevingne) seguem uma dinâmica à lá Han Solo e Leia na trilogia original Star Wars, com o primeiro se comportando como uma espécie de cafajeste arrogante e de bom coração empenhado em conquistar a segunda, que, por sua vez, o rechaça repetidamente (quando, na verdade, quer ceder a seus encantos); já os alienígenas ameaçados de extinção, centro do mistério em torno do qual a narrativa se move, se assemelham bastante, na aparência física (apesar de não serem azuis), no estilo de vida e nos riscos que correm, aos Na’vi de Avatar.

O problema nem é mirar nesses grandes filmes do gênero, mas achar que fazer isso é o suficiente para tornar Valerian bom. Os protagonistas são pobremente desenvolvidos e repetidores de uma série de diálogos tolos (as constantes tiradas entre eles são absolutamente irritantes) – e Delevingne, que no ano passado roubou a cena, no pior sentido imaginável, em Esquadrão Suicida, aqui novamente se revela totalmente privada de carisma. Já o segmento mais experiente do elenco pouco pode fazer: Ethan Hawke e Rutger Hauer têm papeis mínimos e nada memoráveis, que funcionam mesmo como cameos; Clive Owen interpreta um personagem de motivações não muito claras, que, quando reveladas, o são de forma bastante apressada, recaindo num belicismo maniqueísta e previsível. Aliás, o epílogo de Valerian se dá na base da velha e inverossímil estratégia da pausa na narrativa para que todas as ações do vilão sejam didaticamente explicadas, inclusive com a utilização de flashbacks deselegantes que revisitam cenas anteriormente mostradas, revelando sua presença nelas como agente do mal.

Por fim, o que há de bom no filme de Besson: o prólogo. Bem antes de insinuar qualquer apresentação de seus protagonistas insuportáveis, o diretor se dedica a comentar a evolução da exploração do espaço pelos humanos por meio de uma montagem que, ao som de “Space Oddity”, traz diferentes encontros promovidos na Estação Espacial Internacional: inicialmente, entre povos da Terra, mas, conforme o tempo avança, incluindo também alienígenas. Fica claro, com esse início, o salto que Valerian propõe entre a realidade e a fantasia, dado de forma bem-humorada e verossímil. Se continuasse adepto dessa simplicidade criativa, o filme provavelmente seria bem melhor. Na verdade, a sequência seguinte, da destruição do planeta Mül, é também bem construída. E o mesmo vale para aquela que acompanha pela primeira vez uma missão da dupla Valerian e Laureline, num mercado localizado em outra dimensão (mas que parece situado em Tattooine). Daí em diante, no entanto, Valerian desce a ladeira.


Valerian e a Cidade dos Mil Planetas 
Valerian and the City of a Thousand Planets, 2017
Luc Besson

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