Com Valerian e a Cidade dos Mil
Planetas, Luc Besson retorna à ficção-científica, gênero no qual fez,
há exatos vinte anos, o ótimo O Quinto
Elemento e com o qual flertou no recente Lucy. Mas, diferentemente desses dois filmes, marcados por
admiráveis rompantes de criatividade – Lucy,
sobretudo, é totalmente contaminado por uma lógica do absurdo que é levada a
extremos bem interessantes –, Valerian peca por simplesmente
condensar em sua narrativa elementos de célebres sci-fis, emulando-as sem conseguir repetir sua qualidade: o casal
de protagonistas (Dane DeHaan e Cara Delevingne) seguem uma dinâmica à lá Han
Solo e Leia na trilogia original Star
Wars, com o primeiro se comportando como uma espécie de cafajeste arrogante
e de bom coração empenhado em conquistar a segunda, que, por sua vez, o rechaça
repetidamente (quando, na verdade, quer ceder a seus encantos); já os
alienígenas ameaçados de extinção, centro do mistério em torno do qual a
narrativa se move, se assemelham bastante, na aparência física (apesar de não
serem azuis), no estilo de vida e nos riscos que correm, aos Na’vi de Avatar.
O problema nem é mirar nesses
grandes filmes do gênero, mas achar que fazer isso é o suficiente para tornar Valerian
bom. Os protagonistas são pobremente desenvolvidos e repetidores de uma série
de diálogos tolos (as constantes tiradas entre eles são absolutamente irritantes)
– e Delevingne, que no ano passado roubou a cena, no pior sentido imaginável,
em Esquadrão Suicida, aqui novamente
se revela totalmente privada de carisma. Já o segmento mais experiente do
elenco pouco pode fazer: Ethan Hawke e Rutger Hauer têm papeis mínimos e nada
memoráveis, que funcionam mesmo como cameos;
Clive Owen interpreta um personagem de motivações não muito claras, que, quando
reveladas, o são de forma bastante apressada, recaindo num belicismo
maniqueísta e previsível. Aliás, o epílogo de Valerian se dá na base da
velha e inverossímil estratégia da pausa na narrativa para que todas as ações
do vilão sejam didaticamente explicadas, inclusive com a utilização de flashbacks deselegantes que revisitam
cenas anteriormente mostradas, revelando sua presença nelas como agente do mal.
Por fim, o que há de bom no filme
de Besson: o prólogo. Bem antes de insinuar qualquer apresentação de seus
protagonistas insuportáveis, o diretor se dedica a comentar a evolução da
exploração do espaço pelos humanos por meio de uma montagem que, ao som de “Space
Oddity”, traz diferentes encontros promovidos na Estação Espacial Internacional:
inicialmente, entre povos da Terra, mas, conforme o tempo avança, incluindo
também alienígenas. Fica claro, com esse início, o salto que Valerian
propõe entre a realidade e a fantasia, dado de forma bem-humorada e verossímil.
Se continuasse adepto dessa simplicidade criativa, o filme provavelmente seria
bem melhor. Na verdade, a sequência seguinte, da destruição do planeta Mül, é
também bem construída. E o mesmo vale para aquela que acompanha pela primeira
vez uma missão da dupla Valerian e Laureline, num mercado localizado em outra
dimensão (mas que parece situado em Tattooine). Daí em diante, no entanto, Valerian
desce a ladeira.
Valerian and the City of a Thousand Planets, 2017
Luc Besson
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