Ridley Scott parece,
após quarenta anos de uma carreira marcada por considerável ecletismo, ter
decidido fazer de Alien – O Oitavo
Passageiro (1979) sua obra maior, retornando ao universo desse filme em
duas prequels (e mais algumas sequências
anunciadas). Prometheus (2012), a
primeira delas, apesar de irregular, é extremamente eficiente na maneira como constrói
o deslumbramento de seus personagens com a descoberta do novo – sentimento presente
no tom do próprio filme, e que justifica o desejo de Scott, manifesto no
roteiro de Damon Lindelof e John Spaihts, de expandir a mitologia de Alien, transformando o que antes era
apenas uma claustrofóbica história de horror numa (pretensamente) complexa
discussão existencial sobre as origens do universo.
Provavelmente pela morna
recepção a Prometheus, muito
criticado sobretudo por furos na história que contou, Scott optou por fazer de sua
continuação, Alien: Covenant, um
filme menos ambicioso temática e estruturalmente. Apesar de os comentários
sobre a criação da vida continuarem presentes, principalmente por meio das
ações do personagem David (Michael Fassbender) – afinal, não seria possível
simplesmente ignorar o que foi iniciado em Prometheus
–, Covenant tenta emular o clima de O Oitavo Passageiro, em boa medida
reduzindo o desenrolar de sua narrativa ao jogo de gato e rato entre humanos e
um xenomorfo assassino, sendo os primeiros constantemente sabotados por um
androide com tendências psicopatas. O filme é até competente nisso, ainda que
absolutamente negligente com o desenvolvimento de seus personagens
não-sintéticos, todos absolutamente desinteressantes – e, exceção feita aos
interpretados por Katherine Waterston, Billy Crudup e Danny McBride, quase indistinguíveis
entre si. Mas é difícil entender as razões de sua existência se não há o menor
interesse em levar adiante o que seu predecessor fez.
Nesse sentido, o
roteiro de John Logan e Dante Harper, endossado, claro, por Scott, trata
algumas das figuras centrais de Prometheus
basicamente da mesma forma que Alien³
(1992), de David Fincher, tratou Hicks (Michael Biehn), Newt (Carrie Henn) e
Bishop (Lance Henriksen), belissimamente apresentados e desenvolvidos no
maravilhoso Aliens, O Resgate (1986),
de James Cameron, o melhor da franquia. Se, a princípio, essa é uma escolha
corajosa, ela só se confirma como tal e se justifica quando inserida num grande
filme. E esse não é o caso nem de Alien³,
nem de Alien: Covenant.
Ridley Scott, 2017
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