Birdman é uma mudança interessante e bem-vinda na
carreira de Alejandro González Iñarritu, talentoso diretor mexicano que até
aqui vinha se repetindo em dramas densos e fatalistas, na maior parte das vezes
formados por diversas histórias trágicas que se cruzavam (Amores Brutos, 21 Gramas
e Babel). Se em Biutiful, de 2010, Iñarritu ainda parecia muito influenciado pela
parceria com o roteirista Guillermo Arriaga (encerrada após Babel), Birdman pode ser considerado seu primeiro voo realmente solo.
Como Festim Diabólico, Birdman é composto por vários
planos-sequência cujos cortes que os unem estão muito bem escondidos: a
sensação é de estarmos diante de praticamente apenas uma longuíssima tomada com quase duas horas
de duração. Como Festim Diabólico, Birdman fala sobre encenação. Mas
terminam aí as comparações com o cinema de Hitchcock: longe da mise-en-scène e da dramaturgia elegantes
do mestre inglês, o filme de Iñarritu é histérico, debochado, desbocado,
furioso. O exagero que permeia Birdman,
das atuações à câmera inquieta de Iñarritu, do desenvolvimento dos personagens
à verborragia do texto, está a serviço do olhar demolidor que o diretor lança sobre
o mundo das artes dramáticas nos Estados Unidos, teatro e cinema, Broadway e
Hollywood. Exagero que, se por um lado, é responsável pelo único escorregão do
filme (a desnecessária representação da figura da crítica como uma mulher
megera, desumana e arrogante, que acaba soando como estratégia cômoda para
proteger a obra de possíveis recepções negativas), por outro, garante momentos
de devaneio inspiradíssimos. Birdman abraça com
vontade a loucura de seu protagonista, fazendo algumas escolhas dramáticas que
lembram as de Darren Aronofsky em Cisne Negro – mesmo
considerando a grande diferença de tom entre os dois filmes.
Por
fim, Michael Keaton. O ex-astro, que alcançou o ápice de popularidade
justamente ao interpretar um super-herói na tela grande – nos dois Batman de
Tim Burton –, é a alma de Birdman. Sem ele, toda essa loucura não
faria sentido algum. O ator se entrega ao papel de Riggan Thomson, se
confunde com ele. O filme de Iñarritu significa para Keaton o que a encenação
de “What
We Talk About When We Talk About Love”, de Raymond Carver, significa para
Thomson: busca por legitimidade e alcance da elevação diante do êxito. Ambos
chegam ao final de Birdman nos ares.
Alejandro González Iñarritu
Um comentário:
Definitivamente um dos filmes que vale a pena ver. Acho que ganhou um Oscar também. Considero que um fator que fez deste um grande filme foi a atuação de Michael Keaton, seu talento é impressionante. Em minha opinião é o ator mais completo da sua geração, mas infelizmente não sempre é reconhecido como se deve, como no filme Fome de Poder. Eu acho que ele sempre cuida todos os detalhes e como resultado fez grandes filmes. Birdman superou as minhas expectativas, realmente o recomendo a todos. Acho que é um filme ideal para descansar do louco ritmo da semana.
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