segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)



Birdman é uma mudança interessante e bem-vinda na carreira de Alejandro González Iñarritu, talentoso diretor mexicano que até aqui vinha se repetindo em dramas densos e fatalistas, na maior parte das vezes formados por diversas histórias trágicas que se cruzavam (Amores Brutos, 21 Gramas e Babel). Se em Biutiful, de 2010, Iñarritu ainda parecia muito influenciado pela parceria com o roteirista Guillermo Arriaga (encerrada após Babel), Birdman pode ser considerado seu primeiro voo realmente solo.

Como Festim Diabólico, Birdman é composto por vários planos-sequência cujos cortes que os unem estão muito bem escondidos: a sensação é de estarmos diante de praticamente apenas uma longuíssima tomada com quase duas horas de duração. Como Festim Diabólico, Birdman fala sobre encenação. Mas terminam aí as comparações com o cinema de Hitchcock: longe da mise-en-scène e da dramaturgia elegantes do mestre inglês, o filme de Iñarritu é histérico, debochado, desbocado, furioso. O exagero que permeia Birdman, das atuações à câmera inquieta de Iñarritu, do desenvolvimento dos personagens à verborragia do texto, está a serviço do olhar demolidor que o diretor lança sobre o mundo das artes dramáticas nos Estados Unidos, teatro e cinema, Broadway e Hollywood. Exagero que, se por um lado, é responsável pelo único escorregão do filme (a desnecessária representação da figura da crítica como uma mulher megera, desumana e arrogante, que acaba soando como estratégia cômoda para proteger a obra de possíveis recepções negativas), por outro, garante momentos de devaneio inspiradíssimos. Birdman abraça com vontade a loucura de seu protagonista, fazendo algumas escolhas dramáticas que lembram as de Darren Aronofsky em Cisne Negro – mesmo considerando a grande diferença de tom entre os dois filmes.

Por fim, Michael Keaton. O ex-astro, que alcançou o ápice de popularidade justamente ao interpretar um super-herói na tela grande – nos dois Batman de Tim Burton –, é a alma de Birdman. Sem ele, toda essa loucura não faria sentido algum. O ator se entrega ao papel de Riggan Thomson, se confunde com ele. O filme de Iñarritu significa para Keaton o que a encenação de “What We Talk About When We Talk About Love”, de Raymond Carver, significa para Thomson: busca por legitimidade e alcance da elevação diante do êxito. Ambos chegam ao final de Birdman nos ares. 


Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)  
Birdman, 2014
Alejandro González Iñarritu

Um comentário:

Unknown disse...

Definitivamente um dos filmes que vale a pena ver. Acho que ganhou um Oscar também. Considero que um fator que fez deste um grande filme foi a atuação de Michael Keaton, seu talento é impressionante. Em minha opinião é o ator mais completo da sua geração, mas infelizmente não sempre é reconhecido como se deve, como no filme Fome de Poder. Eu acho que ele sempre cuida todos os detalhes e como resultado fez grandes filmes. Birdman superou as minhas expectativas, realmente o recomendo a todos. Acho que é um filme ideal para descansar do louco ritmo da semana.