quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo



Foxcatcher é o terceiro filme de ficção dirigido por Bennett Miller e o primeiro a não ser lembrado na categoria principal do Oscar (apesar das indicações a melhor diretor, ator, ator coadjuvante e roteiro original). Grande injustiça, já que se trata do melhor trabalho de Miller até agora, mesmo com a concorrência pesada de Capote e O Homem que Mudou o Jogo.

Aliás, se em seu filme sobre o mundo do beisebol Miller havia relaxado um pouco ao falar de um tema mais leve, em Foxcatcher ele retorna ao clima pesado de Capote, abordando novamente um assassinato brutal e as relações, possivelmente homossexuais, entre um homem fraco fisicamente, mas dotado de grande poder, e um brutamontes fragilizado emocionalmente. A maneira com que John du Pont (Steve Carrell) se impõe sobre os irmãos Schultz, sobretudo sobre Mark (Channing Tatum), remete à manipulação de Perry Smith (Clifton Collins Jr.) por Truman Capote (Phillip Seymour Hoffman) no corredor da morte. A melancolia de Capote também se repete aqui, na música triste e pontual de Rob Simonsen (que lembra bastante os acordes de Mychael Danna para o filme de Miller sobre o processo de escrita do livro A Sangue Frio), nas vastas e opressivas paisagens da propriedade de du Pont e, sobretudo, na relação conturbada entre dois homens de alguma forma ofuscados por familiares que amam (e que os amam) – du Pont pela mãe (Vanessa Redgrave), a quem tenta impressionar investindo num esporte que ela considera de baixo valor, e Mark pelo irmão Dave (Mark Ruffalo, provavelmente na grande atuação de sua carreira), atleta muito mais talentoso e ser humano muito mais atraente.

Mas Foxcatcher vai além da mera repetição de Capote. Primeiramente, ao se estruturar não sobre os efeitos de um crime terrível na vida de alguns personagens, mas sobre o que antecede um crime igualmente terrível, o prenúncio de uma tragédia. Nesse sentido, Miller instala um incômodo clima de estranheza em seu filme, que se concretiza sobretudo no bizarro personagem de Carrell. Vai além também ao abordar a obsessão pelo sucesso individual como parte do ser um cidadão americano. É ela que move du Pont, estando presente em seu discurso vazio mas com grande potencial de convencimento – sobretudo quando acompanhado por grandes quantidades de dinheiro – sobre pessoas frágeis como Mark Schultz. Miller é discreto, mas contundente, ao entrar nesse tema. Ele não levanta bandeiras, não apela ao sensacionalismo. Mas seu filme não deixa de ser um porrada bem dada na mistura de individualismo e patriotismo que permeia a sociedade americana, já que é a obsessão por ser um líder bem-sucedido e adorado, um completo winner, que leva du Pont a cometer seu ato extremo.


Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo 
Foxcatcher, 2014
Bennett Miller

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