"Essa foi sua digressão mais fraca até agora", diz Joe
(Charlotte Gainsbourg) a Seligman (Stellan Skarsgard) numa cena de Ninfomaníaca - Volume 2,
logo após ele interrompê-la na narração de seu passado para contar uma história
sobre a criação de um tipo específico de nó para cordas. Nessa passagem, Lars
von Trier identifica, pela fala de sua protagonista, o maior problema do filme:
a opção excessiva por digressões carregadas de simbolismos que deveriam dar a Ninfomaníaca a profundidade filosófica pretendida
por seu realizador – mas que acaba por prejudicá-lo enquanto cinema.
A trajetória de Joe é suficientemente forte para gerar uma obra de
impacto, mas o diretor insiste em ir além. Ele precisa forçar analogias que,
especialmente na primeira metade dessa história, irritam pelo didatismo; ele
tem que exibir sua erudição, seu conhecimento de arte, religião, história,
psicanálise... O que não seria um problema se não atrapalhasse o
desenvolvimento da narrativa, se fosse inserido na trama de maneira mais
orgânica, talvez simplesmente como citações imagéticas (como não lembrar da belíssima
referência ao quadro "Ophelia", de John Everett Millais, num dos
planos iniciais de Melancolia,
por exemplo?). Mas o que Von Trier faz é se entregar, através principalmente de
Seligman, a uma verborragia que vez ou outra beira o insuportável. Ninfomaníaca é uma tese potente sobre a posição da
sexualidade feminina no mundo contemporâneo – e que ainda esbarra em temas como
a correção política e a arte de narrar histórias –, mas são poucos os momentos
em que essa discussão se transforma em cinema de qualidade (a passagem de Joe
por um grupo de recuperação para "viciadas em sexo" e o maravilhoso
final são raros exemplos nesse sentido). Ou seja, é uma baita aula, mas um
filme mediano.
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