sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Rush: No Limite da Emoção



Rush guarda algumas semelhanças com Frost/Nixon, último filme sério de Ron Howard: ambos foram escritos pelo sempre competente Peter Morgan (A Rainha, O Último Rei da Escócia, 360, Além da Vida), são ambientados na década de 1970 e têm suas respectivas narrativas estruturadas sobre o embate entre dois personagens fortes, polos opostos que nutrem um pelo outro misto de respeito e repulsa. Mas enquanto o superestimado longa sobre a entrevista concedida pelo ex-presidente norte-americano Richard Nixon a um jornalista inglês não conseguia ir além do óbvio, exagerando aqui e ali no clima descontraído e perdendo a chance de se imbuir da urgência dos grandes thrillers políticos, esse Rush impressiona pela intensidade com que constrói a rivalidade entre os pilotos de Fórmula 1 James Hunt (Chris Hemsworth) e Niki Lauda (Daniel Bruhl) sem jamais optar por uma oposição maniqueísta (algo que até o belíssimo documentário Senna acabou fazendo, ao pintar Alain Prost como uma espécie de vilão na trajetória do "herói" Ayrton Senna). Se o Hunt de Hemsworth é irresistível por seu carisma e comportamento infantil em muitos momentos, Lauda encanta pela dedicação ao esporte e por também ser genuíno em seu excesso de pragmatismo. Aliás, por mais óbvia que seja essa oposição entre emoção e razão, o roteiro de Morgan tem o mérito de inserir aos poucos algumas nuances que tornam os personagens mais próximos um do outro, o que torna absolutamente natural o respeito mútuo que passam a ter (ainda que nunca deixem de ser rivais).

Com seu ar de filme histórico britânico, Rush parece ser uma obra mais de Morgan que de Ron Howard, mas, justiça seja feita, o trabalho desse último na direção é marcado por uma sucessão de acertos. Howard já mereceria aplausos só por conseguir envolver e emocionar sem apelar para o choro fácil de filmes como Uma Mente Brilhante e A Luta pela Esperança, mas ele ainda arranca ótimas atuações da dupla Hemsworth/Bruhl e demonstra gigantesco talento para filmar as sequências de corrida, reproduzindo o lado brutal e selvagem do que significava pilotar na Fórmula 1 nos anos 70 sem abrir mão totalmente de, vez ou outra, optar por certas estilizações, como no belo uso de câmera lenta no chuvoso Grande Prêmio do Japão de 1976. Talvez Howard, diretor eclético e de pouca personalidade, tenha encontrado em Morgan um parceiro capaz de tolher seus excessos melodramáticos em prol de um cinema mais intenso. Frost/Nixon foi um ensaio cheio de erros. Rush, que não tem a necessidade de se levar tão a sério, é a primeira grande obra da dupla. Que venham outras.


Rush: No Limite da Emoção 
Rush, 2013
Ron Howard

Um comentário:

Marcos disse...

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