segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Elysium



Distrito 9 (2009) é um grande filme. Mistura perfeita de entretenimento com discurso político, essa ficção-científica inventiva, que se constrói como uma amarga metáfora sobre o preconceito, colocou o diretor sul-africano Neill Blomkamp no mapa da crítica e dos grandes estúdios de Hollywood. Daí as altas expectativas em relação a Elysium, segundo longa-metragem de Blomkamp que, apesar do grande orçamento e dos nomes conhecidos no elenco (principalmente Matt Damon e Jodie Foster), parecia ser capaz de repetir a principal qualidade do seu trabalho de estreia: contar uma história socialmente relevante sem deixar de ser um grande filme de gênero.

Ledo engano. Bem, de fato Elysium traz um novo esforço do diretor por criticar as injustiças do mundo. Sai de cena o preconceito racial de uma sociedade ainda profundamente marcada pelos anos do Apartheid para dar lugar à boa e velha luta de classes, conceito recorrentemente aproveitado nos filmes de ficção-científica. Mas se Blomkamp parecia saber do que estava falando no longa anterior, aqui ele só consegue cair no maniqueísmo ao representar o embate entre miseráveis predestinados e milionários desalmados. Falta sofisticação à crítica proposta por Elysium, o que é uma pena. E os problemas não param por aí. Blomkamp, sabe-se lá se por escolha própria ou imposição do estúdio, construiu uma narrativa apressada, que prefere apostar na ação desenfreada que no desenvolvimento cuidadoso de um universo aparentemente rico em possibilidades. Há apenas esboços de personagens interessantes (os de Wagner Moura e Sharlto Copley, por exemplo); não há nenhuma cena realmente boa; há muitos clichês e um irritante exagero melodramático na opção por focar no destino supostamente grandioso do protagonista e em sua relação com a enfermeira vivida por Alice Braga.

Maior decepção cinematográfica do ano até o momento, Elysium é uma ficção-científica rasa, esquecível e nada original, já que se limita a tentar reproduzir o visual sujo e supostamente realista de Distrito 9. Por sinal, há um outro filme recente - e pouco valorizado - que se saiu bem melhor nesse campo das distopias socialmente realistas que o pífio segundo longa de Blomkamp: a surpreendente e ultra-violenta adaptação de quadrinhos Dredd (2012), de Pete Travis. Esse sim é um filmaço.


Elysium 
Elysium, 2013
Neill Blomkamp

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