terça-feira, 5 de janeiro de 2010

[lula, o filho do brasil]

Lula, o Filho do Brasil
Lula, o Filho do Brasil, 2009
Fábio Barreto


A grande dificuldade de se falar de um filme como Lula, o Filho do Brasil, é separar a obra fílmica do personagem real nela retratado. Assim, o lançamento desta cinebiografia agora, em ano eleitoral, não se torna apenas uma questão ética, a ser discutida nas searas da política tradicional: para qualquer um que tente dizer algumas palavras sobre o filme, seja ele um crítico profissional, um blogueiro cinéfilo, ou um mero curioso, estará presente a dúvida de estar-se ou não coadunando com um dos dois principais lados da disputa eleitoral que se aproxima.

Sou petista. Filiado mesmo. E admirador do governo Lula, apesar de seus (muitos) problemas e escândalos. Minha situação, então, é ainda mais complicada. Como cinéfilo, tenho uma opinião sobre o filme. Como militante político, tenho um posicionamento definido. Como não consigo achar que a política, mesmo a realpolitik, deve ficar completamente apartada das artes, como acho que tudo está ligado, e não há nenhum problema nisso, fica difícil falar de Lula, o Filho do Brasil, sem o receio de estar, de alguma forma, corroborando um discurso anti-Lula (o presidente).

A verdade é que, desde o início, lamentei as escolhas feitas pelos responsáveis por esse filme. A começar por seu diretor: Fábio Barreto não tem talento. Consegue ser ainda menos talentoso que seu irmão Bruno – que já não é lá grande coisa. Além disso, a vida de Lula é suficientemente rica e fascinante para gerar, sei lá, no mínimo uns 3 longas. Com boa parte dela condensada em um filme só, o resultado é exageradamente episódico, sem emoção: tudo soa artificial, passageiro – mostra-se algo porque tem-se de mostrar, não porque haja algum motivo fílmico ali.

Oposição, não se anime! O filme não é de todo ruim. Confesso que Fábio Barreto me pegou de surpresa nos momentos iniciais de Lula. Pelo trailer, havia ficado com a impressão de que as sequências passadas na infância do protagonista seriam as mais fracas, burocráticas e desnecessárias. Mas não. Estão ali os maiores êxitos do filme, com seus poucos diálogos, trilha inspirada, Glória Pires sublime... e Milhem Cortaz, num personagem que tinha tudo para ser o mais estereotipado de uma obra com grande tendência para o maniqueísmo, roubando a cena, humanizando o pai de Lula de forma inesperada. Com o decorrer da narrativa, tudo se torna, como disse antes, episódico demais. Muita coisa poderia ter sido cortada ali. O filme volta a crescer em seus momentos finais, com o protagonista já como o líder sindical que o Brasil conheceu em fins dos anos 70, por mais que as cenas das greves do ABC sejam apressadas, e um pouco confusas. Novamente: aquele ali é mais um episódio na vida de Lula, na visão de Barreto. Mais uma episódio que passa, que é mostrado porque tem de ser mostrado... uma pena. Vale dizer, no entanto, que Rui Ricardo Diaz acerta em cheio na composição de seu personagem, incorporando aos poucos o jeito de falar, de se portar, de chorar do futuro presidente. É um trabalho muito bom.

Como o filme mesmo faz questão de mostrar, Lula sempre foi um conciliador. Não um revolucionário. Seria muito, então, pedir um filme revolucionário? Talvez sim. Então, se queriam filmar de forma tradicional a vida do atual presidente da República, ou mesmo, se queriam fazer um filme positivo sobre Lula, que exaltasse sua figura, porque não convidar alguém minimamente talentoso (e que também, tal qual a família Barreto, admira o retratado) como Walter Salles? Seu irmão, João Moreira Salles, fez um belíssimo retrato do presidente no documentário Entreatos, e Walter poderia tranquilamente seguir seu caminho. Ou seja, errou-se desde o começo.


P.S.: já que citei Entreatos, fica aqui a confissão de que saí do cinema morrendo de vontade de rever o filme de João Moreira Salles. Ao menos para isso o trabalho de Fábio Barreto serviu.

3 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Já eu, desde que vi o trailer, achei que não era lá muita coisa. Sinceramente, achei meio novelesco demais, deveras artificial. Nem Glória Pires poderia salvar o filme, sem falar na direção do sempre fraco Barreto.

Cleo Pires e demais participações globais causam vergonha? Sim, para mim sim.

Além disso, eu achei o tom do filme meio exagerado demais e muito comercial-de-margarina.

Abração, aparece!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Cléo Pires está meio perdida ali mesmo... como eu disse, acho o "miolo" do filme bem fraco. Mas confesso que esperava algo pior do Barreto. No fim, o resultado saiu melhor do que a encomenda, eu acho.

Rafael Carvalho disse...

Simpatizo muito com a história do Lula e mesmo que sua trajetória de vida até alcançar o poder seja merecedora de um filme, não há como negar o impasse que o lançamento do filme tem atualmente.

Pena que a obra carece de identidade, é frouxo, sem conceito. História chapada, filmada da forma mais óbvia e simplista possível, sem falar num texto cheio de frases feitas. Uma pena. Mas também, dirigido por Fábio Barreto...