Tempos de Paz
Tempos de Paz, 2009
Daniel Filho
Por que será que algumas das melhores histórias de época no cinema brasileiro ficam nas mãos de gente tão pouco talentosas? Tudo bem, sei a resposta, mas é difícil não se indignar, nem que seja um pouquinho, com uma história como a de Olga Benário parando nas mãos de um Jayme Monjardim, ou essa pequena parábola (fictícia) passada nos últimos momentos do governo Vargas sendo comandada nos cinemas por alguém como Daniel Filho - aliás, curiosamente, ambos os filmes passam-se nesse profícuo e conturbado momento histórico (os longos 15 anos de governo de Getúlio Vargas).
Daniel Filho, apesar dos sucessivos sucessos de bilheteria, é um sujeito de talento escasso. Não chega a ser tão ruim como Monjardim, mas, ainda assim, é o responsável por um sem número de bobagens do cinema brasileiro recente, como A Partilha e a bem-sucedida franquia Se Eu Fosse Você. No entanto, e aqui confesso meu espanto, esse seu Tempos de Paz é uma agradável surpresa. O diretor apóia-se sem nenhuma vergonha no talento de sua dupla de protagonistas, e faz com que o duelo entre Dan Stulbach (incorporando de vez um jeito Tom Hanks de interpretar, lembrando em muito a caracterização do protagonista de O Terminal, de Spielberg) e Tony Ramos (o dono do filme) seja o motor de Tempos de Paz. Filho aproveita-se muito bem do clima teatral do filme, transformando em mérito algo que, normalmente, seria um empecilho à boa condução da narrativa. E, curiosamente, Tempos de Paz cai absurdamente de rendimento justamente quando rompe com esse clima, quando parte para tomadas externas, e quando apóia-se na subtrama envolvendo o personagem interpretado pelo próprio diretor. Parece que, quando está praticamente filmando teatro, tendo como trunfo dois atores de grande talento (especialmente um inspiradíssimo Ramos, que definitivamente deveria ser mais explorado pelo cinema sério produzido no país, ao invés de ter seu talento reduzido às novelas televisivas e às comédias bobocas lançadas em nossos cinemas), Filho sai-se bem. Mas é quando tem de fazer cinema, que sua falta de talento pesa muito, e o resultado fica abaixo do esperado. Mas, dessa vez, dou o braço a torcer, e digo que, pelo menos, valeu o esforço: Tempos de Paz é um bom, e belo, filme.
A Onda
Die Welle, 2008
Dennis Gansel
Esperava bem mais desse pequeno filme alemão, super comentado no meio acadêmico de Ciências Humanas devido à sua temática. É triste ver como uma história (inspirada em acontecimentos reais, ainda que em outro momento e outro país) que parecia impossível de ser desperdiçada consegue ser transformada em uma bobagem adolescente, e pior, em um olhar reificador de uma condição que o filme supostamente deveria combater. Explico: em determinada cena de A Onda, logo no início, quando a temática da autocracia é comentada pela primeira vez em sala de aula, é comentado por um aluno enfastiado que todos eles já sabem sobre os malefícios do III Reich, e sobre a culpa que recai sobre o povo alemão por isso - ou seja, abre-se aqui um olhar interessante sobre uma sociedade culpabilizada mundialmente por mais de meio século, e sobre os reflexos dessa culpabilização nas novas gerações do país. Aí estaria a importância da experiência realizada por aquele professor, revelando a atualidade assustadora do pensamento nazi-fascista, e o porquê desta história não poder ser esquecida pelas novas gerações. Entretanto, com sua estrutura à lá Malhação, com conflitos adolescentes bobos, apresentados da forma mais clichê que poderia-se imaginar, com personagens absurdamente rasos, que fazem exatamente tudo o que se espera deles, e com sua pouca preocupação em tornar o fortalecimento do movimento "a onda" mais verossímil (e, logo, verdadeiramente assustador e preocupante), A Onda acaba por transformar-se simplesmente em mais um olhar banal - e banalizante - sobre nazi-fascismo. É como uma aula chata, repetitiva, e que pouco diz realmente a quem assiste. O que acaba tornando a temática trabalhada muito menos relevante do que ela verdadeiramente é.
3 comentários:
Não sou dos maiores fãs do Daniel Filho, mas quero muito ver esse Tempos de Paz que pelo menos para mim promete um tipo de produção diferente das comédias idiotas que o diretor tem feito. Veremos.
E também mantenho minha expectativa em alta com A Onda, já vi vários comentários positivos. E seria uma esperança para o cinema alemão político que tem nos chegado, porque o último, O Grupo Baader-Meinhof, é péssimo!!
To achando incrível Daniel Filho ter feito algo bom! To até abobado.
E é o primeiro comentário realmente negativo que leio de "A Onda"...
Rafael e Wally, agora fiquei meio surpreso de vocês dizerem que leram vários comentários positivos sobre A Onda... sério mesmo? Porque o filme é bem fraquinho...
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