Cacá Diegues surgiu para o cinema no seio do Cinema Novo, mas que ele nunca possuiu o talento dos grandes nomes desse movimento (Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Nelson Pereira dos Santos) não é muito difícil de se perceber - e seus filmes mais recentes, de qualidade um tanto duvidosa, só reforçam isso. No entanto, Diegues tem pelo menos um grande feito em sua carreira: esse Bye Bye Brasil, lançado em 1979, e que conseguiu se firmar como uma das mais marcantes obras do cinema nacional do período. Parece que o grande problema de Diegues é querer ser mais do que é; quando não toma esse tipo de postura, quando abraça um cinema mais simples, menos pretensioso e/ou rebuscado, o resultado costuma ser positivo.
Simplicidade é, aliás, a palavra perfeita para definir Bye Bye Brasil. Seu pequeno grupo de personagens, marginalizados e malandros, é a força que move sua narrativa. Estes não são exaltados, transformados em agentes de transformação social por estarem à margem do poder, e tampouco são julgados, descartados em um projeto revolucionário de sociedade por serem pessoas de caráter duvidoso, fazendo parte de uma espécie de lúmpen. Diegues simplesmente se entrega às suas personalidades ao mesmo tempo simples e complexas, a seus desejos e sonhos, tornando estes absolutamente identificáveis para quem os assiste. E como trama, propriamente dita, o filme não possui, o trio de protagonistas é fundamental para seu êxito, e, consequentemente, os atores que os interpretam também. E, nesse sentido, Bye Bye Brasil só possui acertos: Fábio Júnior, numa indefinição entre contido e inexpressivo, mas que acaba caindo como uma luva para o papel do introspectivo sanfoneiro Ciço; Betty Faria, canastrona na medida exata; e um José Wilker monstruoso em cena, construindo uma figura absolutamente fascinante, um malandro mal-caráter que carrega em si uma estranha nobreza, e que torna sua presença algo próximo de uma presença paterna para aquele grupo de "vagabundos". Lorde Cigano é, sem dúvidas, um personagem definitivo no cinema brasileiro, e sua imagem, conduzindo a Caravana Rolidei pelo "Brasil profundo", retratado de forma tão melancolicamente singela por Diegues, ao som de Chico Buarque, é o que fica, ao término de Bye Bye Brasil.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
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5 comentários:
cara, eu tenho um certo preconceito com o cinema brasileiro de tempos mais antigos. acho que soh recentemente que conseguimos atingir uma certa qualidade e amadurecimento.
jah ouvi falar bastante nesse filme e até agora nao tive mta vontade de assistir...
Cara, tenho que discordar de vc quanto a esse amadurecimento do nosso cinema: acho que o cinema de hoje é diferente do que se fazia em outros tempos, pode até ter amadurecido em alguns aspectos, mas não é, por isso, melhor ou pior.
Aliás, acho que em qualquer lista dos maiores filmes do nosso cinema, aqueles produzidos nas décadas de 1950, 60 e 70 dominam os primeiros lugares. Tenho tido a oportunidade de assistir a muitas obras desses períodos, e te digo que um bom número de obras-primas foram feitas nessas 3 décadas.
Por isso, vença esse preconceito!
Abraço!
Ver este filme foi uma tortura - sala de aula, televisão minúscula, som horrorosa e muito barulho. Pelo jeito, devo ter perdido um filmão.
Ainda procuro para ver...
Ciao!
Eu tinha uma ideia muito ruim do Cacá Diegues (porque os filmes recentes dele são péssimos). Mas depois que eu vi esse Bye Bye Brasil, eu passei a ter um respeito maior por ele. E espero que esse bons tempos de seu cinema possam voltar, quem sabe. Esse filme é uma grande retrato de um Brasil antigo, rural, que passa por mundanças e celebra o novo, a necessidde de se desenvolver. É o adeu a um país antigo e atrasado. Gosto bastante do elenco e a cena da sessão de hipnose para mim é fabulosa!
É verdade, Rafael, aquela cena é mesmo excepcional.
E também não gosto dos filmes mais recentes do Diegues.
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