Anjos & Demônios
Angels & Demons, 2009
Ron Howard
Me irrita bastante a forma como os livros de Dan Brown são cultuados por alguns, como se fossem o fino da literatura atual (obviamente, qualquer um que tenha um conhecimento razoável do assunto reconhece a mediocridade dos escritos de Brown). Do autor, li somente O Código Da Vinci, mas que já foi o suficiente para optar por me poupar de entrar em contato com outras de suas obras. No entanto, curiosamente, gosto bastante da versão cinematográfica de seu mais famoso livro: acho que Da Vinci funciona absurdamente melhor como filme do que como obra literária (longe de mim querer aqui considerar o cinema como uma arte menor do que a literatura, algo que, como cinéfilo apaixonado, jamais faria - simplesmente, os livros de Brown já parecem basear-se em clichês repetidos exaustivamente nos thrillers hollywoodianos, e, transpostos para filme, se tornam, com o acréscimo dos trabalhos de seus atores, diretor etc., obras inevitavelmente mais ricas, levando-se em conta a fraqueza dos materiais que as originaram). Gosto do que Ron Howard fez com o livro de Brown, com o clima escuro do filme, que às vezes se torna quase intimista (ok, talvez esteja exagerando um pouco, mas não há a grandiosidade eloquente que há no livro), e gosto especialmente do trabalho de alguns atores, especialmente Paul Bettany e Ian McKellen.
Pois bem, com Anjos & Demônios, optei por assistir ao filme sem ler o original, primeiramente, por não querer perder mais tempo com Dan Brown, e também por ver como um filme baseado em uma de suas obras funcionaria para alguém que não a leu previamente (já que no caso de Da Vinci, o efeito comparativo funcionou muito bem em favor da versão cinematográfica). E o resultado foi, novamente, muito bom. Contando com uma história mais sombria (e mesmo mais interessante) do que seu predecessor (que, na literatura é seu sucessor), Anjos & Demônios é mais um êxito de Howard ao adaptar o escritor norte-americano: é tenso na medida certa, envolvente, e, se não conta com a dupla Bettany/McKellen para abrilhantar seu elenco, ao menos possui um ótimo Ewan McGregor, que rouba a cena, simplicidade, sempre que aparece. Obviamente, problemas existem: o filme é bem mais grandioso do que O Código Da Vinci, o que não chega a ser propriamente um defeito, mas com uma história sombria como a que possui, não deixaria de ser interessante um clima mais sinistro e intimista sendo empregado na narrativa; Tom Hanks continua apático como Robert Langdon, não conseguindo, novamente, criar um protagonista empático, e que faça o espectador torcer por ele, ou ao menos se interessar por seu destino; e (o que talvez mais atrapalhe o longa) há uma necessidade irritante da trama em ser auto-explicativa a todo momento (algo que vem, claramente, de sua origem literária, onde caminhões de informações são despejados a cada capítulo sobre o leitor), com os personagens estando sempre a explícitar o que eles estão fazendo, o porquê de cada um de seus atos, o que leva a um didatismo mediocrizante.
No entanto, basta ter um mínimo contato com a literatura de Dan Brown para saber que Ron Howard e seus roteiristas estão "tirando leite de pedra", ao conseguirem entregar filmes razoavelmente bons, com alguma dramaticidade e com personagens minimamente interessantes, baseando-se nestes livros. No fim das contas, tanto O Código Da Vinci quanto Anjos & Demônios acabam funcionando como uma espécie de manual de como transformar um material ruim, medíocre, em filmes de qualidade. O que não deixa de ser um grande feito.
3 comentários:
Pra ser sincero eu achei "O Código Da Vinci" um filme bem mais grandioso que "Anjos e Demônios". Na minha opnião, a trama deste último não possui uma proporção tão magnífica, além de ficar muito limitada a um evento, num certo espaço, num curto período de tempo. Acho que "O Código Da Vinci" funcionou melhor como longa do que "Anjos e Demônios", o que não tira os méritos deste, que também consegue fazer seu papel ao proporcionar uma boa diversão. Abraço!
Bruno, acho que você até está certo ao dizer que a trama de O Código Da Vinci seja mais grandiosa do que a de Anjos & Demônios (afinal de contas, ela busca desmistificar uma relação envolvendo a figura mais importante da cultura ocidental), mas quando me refiro às proporções desse novo filme, falo principalmente da forma como ele foi filmado, ou melhor, da forma como sua história é narrada. Nesse sentido, Anjos & Demônios me parece bem mais grandioso do que seu predecessor.
Que bom que gostou. Concordo quanto à "O Código Da Vinci" (livro e filme) e achei "Anjos e Demônios" um filme mais interessante.
3 estrelas, idem.
Ciao!
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